Ana Kelly narrando
A escuridão era a mesma. O cheiro de mofo e ferrugem também. Eu não sabia mais quanto tempo tinha passado, só sabia contar os dias pelas dores no corpo, pela fome que vinha em ondas, pela lágrima que secava no rosto antes de cair. Ainda que o tempo parecesse parado aqui dentro, algo hoje… estava diferente. Meu peito estava pesado, mais que o normal. Meu coração, inquieto.
O som da porta pesada se abrindo cortou o silêncio como uma navalha. O chiado dos passos dela ecoou pelo corredor. Eu fechei os olhos, rezei com a alma, e tentei me esconder de novo dentro da minha mente. Não adiantava. Ela vinha. E vinha com raiva.
— ANA KELLY! — a voz de Brenda explodiu como um trovão. Um trovão que eu já conhecia bem. E quando ela gritou meu nome daquele jeito, eu soube… algo tinha dado errado lá fora.
Abri os olhos devagar. A luz que entrava do corredor iluminou a silhueta dela. Os olhos estavam arregalados, o peito subia e descia com força, como se tivesse corrido. Ou como se