Anthony NarrandoO carro deslizava pelas ruas do Rio com a familiaridade que só quem vive aqui reconhece. O som suave da rotação do motor, a respiração tranquila da Ana Kelly ao meu lado e os murmúrios baixos dos meus pais no banco de trás deixavam o ambiente mais pesado do que parecia. A tensão entre nós era palpável, mas ninguém falava sobre ela diretamente. A viagem seguia silenciosa, embora as cabeças estivessem girando a mil por hora, cada um na sua. No meu caso, a mente focava no que realmente importava: a próxima jogada.Meu pai, com aquela calma de quem já viu de tudo, e minha mãe, sempre atenta, trocavam olhares enquanto o carro cortava a cidade. Eu ouvia a conversa baixa entre eles, mas preferia ficar em silêncio. Não precisava dizer nada pra entender o que estavam pensando. A questão de Bárbara e Brenda pairava no ar, mas sabíamos que não seria simples.— Não vai adiantar tirar a Bárbara e a Brenda do jogo sem antes derrubar a peça-chave — eu disse, quebrando o silêncio. A
Ana Kelly NarrandoEstávamos na sala do Anthony, eu e minha sogra, Luisa. O ambiente estava carregado, um silêncio pesado que fazia meus nervos ficarem ainda mais à flor da pele. Esperávamos que eles terminassem a reunião na sala ao lado, mas minha mente girava sem parar, fervendo com tudo o que estava acontecendo com a Brenda — ou melhor, a Bruna, como ela se apresentou.Olhei para Luisa, sentada calmamente, mas com um ar pensativo. Parecia saber algo que eu ainda não sabia. E eu já estava perdendo a paciência. Precisava entender o que estava rolando, o que aquela mulher estava tramando, e por que agia daquele jeito falso e nojento.Resolvi quebrar o clima sufocante.— Agora que estamos só nós duas, pode falar o que está te deixando agoniada?. — Ela soltou, se jogando na poltrona em frente à minha, como quem já esperava essa conversa.— Ah, senhora Carter, é uma longa história. — Comecei, respirando fundo pra segurar o ódio.— Eu adoro histórias longas. — Ela respondeu, cruzando as p
Bárbara narrandoA grade do portão de embarque, suou para mim, com um estrondo, como se ecoasse a vergonha e a raiva que queimavam dentro do meu peito. Eu e Anthony havíamos feito aquela viagem maldita juntos, aí volta e o Marcelo de vôo convencional, porque fomos largados na Itália como dois estorvos, enquanto Anthony e aquela aproveitadora da Ana Kelly voltavam tranquilos para o Brasil, como se nós dois fôssemos lixo dispensável.Arrastei minha mala com brutalidade até o estacionamento, sem sequer olhar para trás. Marcelo vinha logo depois, carregando a dele em silêncio. Quando encontrei o carro que ele tinha deixado ali antes da viagem, parei de frente pra ele, sem conseguir mais segurar o que estava engasgado na garganta.— Isso é uma palhaçada! — cuspi as palavras, atravessando Marcelo com o olhar. — Você viu bem, né? Fomos tratados feito cachorro!Ele encostou na porta do carro, os braços cruzados, e respirou fundo antes de responder.— É preço de quem fecha com a senhora? — per
Bárbara Narrando Assim que o carro entrou na garagem do prédio onde Marcelo morava, eu já tinha um plano se desenhando na cabeça. Era hora de agir, e agir rápido. Se eu queria atingir Ana Kelly e Anthony, precisava usar cada carta suja que eu tinha.Marcelo desligou o motor e virou pra mim, como se esperasse minhas ordens.— A gente precisa sujar a imagem deles primeiro — falei, tirando o cinto com raiva, como se aquilo estivesse me prendendo. — Antes de qualquer ataque direto, quero ver esses dois sangrando por dentro.Ele assentiu, atento.— Tenho contatos na imprensa. Gente que ama uma fofoca quente — ele sugeriu, abrindo um sorriso malicioso.Sorri de volta. Era disso que eu precisava.— Ótimo. Quero histórias falsas, quero escândalos. Quero que a imagem de casal perfeito deles vá pro inferno.Respirei fundo, a raiva latejando dentro de mim. Eu precisava fazer eles provarem do próprio veneno. Precisava destruir o que eles construíram às minhas custas.— E o que você sugere, dona
Brenda Narrando O relógio marcava exatamente 15h.Meu coração batia forte, mas não era medo. Era a antecipação. O gosto da vingança amadurecendo na minha boca.Peguei o telefone fixo da casa e disquei o número do presídio, usando a autorização especial que o senhor Duarte tinha conseguido pra mim.Tudo estava esquematizado.O telefone chamou três vezes até ser atendido.Ligação On — Presídio Central. Quem deseja? — a voz do agente do outro lado era seca.— Brenda Rodrigues. Tenho autorização para falar com o interno Vinícius Duarte — respondi, firme.Alguns segundos de espera, até que a linha mudou.Do outro lado, uma respiração pesada. Eu reconheceria aquele jeito em qualquer lugar.— Brenda... — a voz do Vinícius saiu arrastada, como se cada palavra pesasse.Fechei os olhos por um instante. Era ele. Ainda era ele.— Estou aqui, Vini — respondi. — Escuta, não temos muito tempo.O plano todo já tinha sido plantado na minha cabeça pelo senhor Duarte, semanas antes. Eu precisava agir
Anthony NarrandoEu, Anthony Carter, 35 anos, CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do país, sou conhecido por ser implacável. Não por prazer, mas porque aprendi, desde cedo, que a vida não tem piedade. Meu pai, Richard Carter, não teve a menor cerimônia em me ensinar isso. E eu aprendi bem a lição. O mundo é uma selva, e quem vacila morre. Simples assim.Minha empresa, minha reputação, meu controle — isso não está à venda. E a traição? Não, eu não tolero traição. Não aquelas dramáticas, que os tolos se apaixonam, mas as reais, as de quem se volta contra você. Lealdade é tudo. Ou você é meu, ou você não é.Foi isso que me fez quase explodir quando Carla entrou na minha sala com aquele semblante fechado. Sabia que algo estava errado antes mesmo dela abrir a boca. Ela entrou com aquela pasta nas mãos, o semblante sério demais, e o ar estava pesado.— Desculpe, Anthony, mas... preciso conversar com você.Eu a olhei com desconfiança. Carla sempre foi a mais eficiente, a mais leal,
Anthony NarrandoO silêncio entre mim e Bárbara era quase tão grande quanto a merda que ela acabara de presenciar.— Você precisa superar isso. Ela não é a primeira a te deixar, e não será a última. — Bárbara soltou, quebrando o silêncio.— Se veio aqui pra dar lição de moral, a porta é a mesma por onde Carla saiu. — Firmei a voz, e ela revirou os olhos.Bárbara sorriu de lado, aquele maldito sorrisinho de quem acha que entende tudo.— Um dia você vai perceber que não pode controlar tudo. Mas talvez seja tarde demais quando isso acontecer. — Ela se virou para a porta.— Some logo da minha frente. — Cuspi as palavras.Ela saiu, e a única coisa que ficou foi o barulho do meu próprio sangue fervendo.Meu maxilar travava. Minhas mãos fechavam com tanta força que as unhas quase rasgavam a pele. O gosto amargo da traição de Carla ainda queimava minha língua.Odiava perder. E odeio ainda mais perder pra alguém que não merece.Levantei bruscamente, empurrando a cadeira para trás. Fui até a ja
Ana Kelly NarrandoO vento frio da cidade me atingiu assim que desci do ônibus. A sensação era de que o mundo ao meu redor era maior do que eu conseguiria lidar. Meu nome é Ana Kelly, tenho 25 anos. Até ontem eu tinha um emprego, hoje eu sou uma turista, morena, de cabelos negros e longos, um corpo que, dentro dos seus padrões, pode até chamar atenção.Mas, vim de um relacionamento abusivo. Na verdade, o motivo de eu estar aqui, nesta cidade, é porque precisava deixar o passado para trás e dar a volta por cima.Prédios altos se erguiam, suas sombras cobrindo as calçadas apressadas, e o som incessante de carros e buzinas me deixava levemente tonta. “Bem-vinda à metrópole”, pensei, tentando reunir coragem para dar meu primeiro passo naquele novo cenário.Uníca coisa feliz nesta cidade nova, é Karen, minha melhor amiga, ela conseguiu um quarto para mim em seu apartamento minúsculo. O plano é simples: eu ficarei aqui até encontrar um emprego e estabilizar minha vida.Saí dos meus pensame