Ana Kelly Narrando
Eu ainda sentia o gosto dele nos meus lábios. O toque, a pressão, a intensidade daquele beijo... Meu corpo fervia, minha mente em guerra. Como ele, que mal me conhecia, conseguia me envolver desse jeito? Eu nunca quis me apegar a ninguém, mas Anthony parecia ter outros planos. Entrei em casa sentindo o coração disparado. Ele não saía da minha cabeça, e isso me irritava. Quem era esse cara? O que ele queria comigo? Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Assim que pisei na sala, Karen me encarou de braços cruzados, já esperando fofoca. — E aí? Como foi? — Ela perguntou com aquele olhar curioso, pronta para ouvir cada detalhe. Me joguei no sofá, passei a língua nos lábios ainda sentindo o gosto do beijo e suspirei. — Eu não sei, Karen... — Comecei, tentando organizar os pensamentos. — Esse Anthony... Ele tem alguma coisa, sabe? O cara sabe exatamente o que fazer pra me deixar fora de controle. O beijo foi tão... intenso. Eu tentei resistir, mas não deu. Karen arqueou a sobrancelha, segurando o riso. — Quando eu falei pra você sair, não era pra arrumar um casamento, amiga! Era pra curtir! — Ela brincou, passando os dedos pelos meus cabelos. — Mas ele não me conhece! — Falei, frustrada. — Ele apareceu do nada, se meteu na minha vida como se tivesse direito. Agora fica me pegando, me tocando, como se pudesse fazer o que quiser. Eu não posso, Karen. Não posso me envolver. Eu não sou assim. Karen riu e jogou os saltos pro lado antes de se jogar no sofá. — Ah, amiga, e você acha que ele não percebeu? O fato de você estar resistindo só tá deixando tudo mais interessante pra ele. Bufei, cruzando os braços. — Ótimo! Ele que se divirta então, porque eu tô ficando maluca. Eu mal sei o que eu quero e ele já tá bagunçando tudo. Karen ficou me observando em silêncio, como se tentasse decifrar meus pensamentos. Ela sabia o que eu estava passando. Depois de tudo que vivi com meu ex-marido, eu prometi que nunca mais cairia nessa cilada de novo. — Mulher, depois do que passei, eu não me jogo em relacionamento nenhum. — Tirei o casaco e joguei no sofá. Karen puxou o ar e soltou fazendo um barulho dramático, me fazendo rir quando ela revirou os olhos. — Me conta tudo, Kelly. O que rolou de verdade? Suspirei fundo, buscando palavras. O passado ainda pesava. — Meu ex... Ele não só me batia como me prendia. Não tinha mais carinho, nem respeito. Eu era só uma sombra ao lado dele. Ele tinha outras mulheres, e eu tinha que fingir que não via. Mas ninguém sabia disso. Só eu. Karen balançou a cabeça. — E aposto que todo mundo te julgava, né? Assenti, sentindo um nó na garganta. — E você ainda ficou com ele? — Ela perguntou, surpresa. — Fiquei. Achava que ia melhorar... Mas nunca melhorava. No fundo, eu ainda tinha esperança, e isso me prendeu mais ainda. — Você sabe que só vai se libertar de verdade quando parar de se segurar, né? Franzi a testa, incomodada com a verdade naquelas palavras. — E agora eu chego aqui, tentando recomeçar, e dou de cara com outro doido. — Ri sem humor. — Eu só queria que as coisas fossem diferentes. Mas não esperava que alguém como Anthony aparecesse. Ele... Ele tem a cara de que vai fazer o mesmo que o outro fez. Karen gargalhou alto, jogando a cabeça pra trás. — Ah, amiga, dessa vez eu acho que você tá errada! Anthony não parece com seu ex. Ele é diferente, de um jeito bom. Ele tá jogando, e você tá resistindo, mas no fundo... Você tá adorando essa tensão. — Ah, claro! Agora você virou especialista em Anthony? — Revirei os olhos. Karen sorriu, sem responder. Em vez disso, começou a fazer cócegas em mim, me arrancando uma risada. E, por um instante, esqueci de Anthony. Mas só por um instante. Porque o telefone vibrou, e eu apertei os lábios. Karen já sabia. — Vai me dizer que já é ele? — Ela perguntou, e eu só balancei a cabeça, confirmando. — Mas será, amor? Não é possível! Não tô dizendo que não pode ter rolado um amor à primeira vista... Tu é linda, atraente, gostosa, mas essa porra tá virando obsessão. — Ela brincou, mas meu coração já estava acelerado. — Pelo amor de Deus, vira essa boca pra lá! B**e na madeira três vezes! Ninguém merece homem obsessivo. Eu não acredito que seja amor. — Respondi, mas o telefone continuou vibrando. — Vou fazer um chá pra gente. Pode atender, finge que eu nem tô aqui. — Karen bagunçou meu cabelo e levantou, indo pra cozinha. Suspirei, joguei o cabelo de lado e me deitei de barriga pra cima no sofá. Deslizei o dedo na tela e atendi. Ligação On — Você gosta de me testar, né? — A voz dele veio baixa, mas cheia de autoridade. Fechei os olhos. — Oi pra você também, Anthony. — Não enrola, Ana Kelly. Eu te mandei mensagem, liguei e nada. Revirei os olhos. — Eu tava ocupada. Preciso avisar antes de viver minha vida agora? Ele soltou um riso curto, mas sem humor. — Você acha que pode se esconder de mim? Acha que pode me ignorar? Não pode. Eu não sou qualquer um, e você sabe disso. Engoli seco. O tom dele era firme, seguro, como se já tivesse decidido tudo por mim. — Anthony, eu não sei o que você quer de mim, mas eu não tô nessa de joguinho. — Ah, mas tá. E tá jogando muito mal. Porque no fundo, você já sabe o que eu quero. Você. Inteira. Sem fuga, sem desculpa. Senti um arrepio subir pela espinha. — Você mal me conhece. — E ainda assim, já sei que você é minha. Só falta você aceitar isso. Ri sem acreditar. — Tá doido. — Tô. Por você. E isso não vai mudar. Então, quanto mais cedo você entender que lutar contra mim é inútil, melhor pra você. Minha respiração falhou um segundo. Ele falava com uma certeza que me deixava sem saída. — Anthony... — Amanhã, às oito. Eu vou te buscar. — Eu não disse que posso. — Você também não disse que não. E eu não aceito um não. Ligação Off A chamada caiu antes que eu pudesse responder. Karen me olhou da cozinha. Fiquei com o celular na mão, o coração martelando no peitö e uma certeza aterrorizante: Anthony não ia desistir......