O vento cortante do inverno gaúcho chicoteou o rosto de Ravi assim que ele saiu do carro. Enfiou as mãos nos bolsos do casaco, os lábios tremendo sob o frio que parecia trespassar até os ossos. À sua frente, o Hotel Wish Serrano impunha-se como uma fortaleza de vidro e luz, suas linhas modernas contrastando com o céu cinzento e pesado de Gramado.
No lobby, o calor do aquecimento central envolveu-o como um abraço, enquanto seus olhos percorriam o ambiente: lustres de cristal cintilavam sobre o mármore polido, flores exóticas exalavam um perfume doce e a música clássica ecoava suave, quase hipnótica. Ravi caminhou em direção à recepção, cada passo ecoando em meio ao silêncio elegante.— Seja bem-vindo, senhor Castellani — cumprimentou o recepcionista, com um sorriso treinado.Ravi assentiu, entregando o cartão de crédito sem perder o olhar vigilante. A chave do quarto 1005 brilhou em sua mão, fria e metálica.O elevador dAssim que Gabriel baixou o celular ele voltou a vibrar como um alarme. Gabriel atendeu, a voz de tia Rosa explodindo em pânico: — Gabriel! Derick levou um tiro! Foi só no braço, mas… levaram a Malú! Ele quase deixou o aparelho cair. — Como assim? — rugiu, os dedos branqueando ao apertar o telefone. — Invadiram a casa… trancaram todos no quarto… Derick chegou na hora, mas… — Rosa engasgou em soluços. — Ela sumiu, Gabriel! Faz mais de uma hora! Gabriel encostou-se na parede, o coração batendo freneticamente. O mundo girava. Viktor. Só pode ser Viktor. — Merda. Merda! — golpeou a parede com o punho, mas a dor sequer chegou ao cérebro, ele precisava agir. Digitou freneticamente para Ravi, e a ligação foi atendida antes do primeiro toque: — Ravi, Viktor ele… — Já sei… — cortou Ravi, o sussurro tão gelado que quase congelou a linha. — Ele está aqui. Na festa. Com
A música ressoava pelo salão, envolvendo os convidados em uma atmosfera sedutora. Todos dançavam, riam, bebiam… menos Ravi e Malú, paralisados em seus próprios infernos. Helena, com um sorriso calculado e um vestido que parecia feito de sombras, aproximou-se dele: — Vem dançar — ordenou, os dedos fechando-se em seu braço com força disfarçada. Ele hesitou, os olhos fugindo para Malú, que observava tudo a alguns metros de distância. Mas recusar seria suspeito. Deixou-se levar, os passos mecânicos, enquanto o olhar permanecia grudado nela. Conforme os passos de ambos se sincronizavam, ela colocou as mãos suavemente em seu pescoço e inclinou-se para murmurar algo ao ouvido dele.Ravi virou-se abruptamente após as palavras de Helena e seu olhar cruzou com o de Malú novamente. Havia algo devastador na expressão dela – uma mistura de tristeza profunda e um medo que para Ravi parecia perfurar a sua alma. Seu coração apertou, e embora seus braços
Enquanto Ravi subia as escadas, a respiração ofegante ecoando no vazio do corredor… No salão abaixo, sete agentes disfarçados de garçons surgiram como sombras, posicionando-se ao lado de Helena. Em minutos, os homens de Viktor Petrova caíam um a um. Mas nem todos se renderam: dois fugiram para a cozinha, e o tiroteio explodiu em rajadas curtas e mortais. Helena, com o distintivo da Interpol erguido, gritou para a multidão aterrorizada: — Polícia internacional! Abaixem-se e fiquem imóveis! Um tiro raspou seu ombro, estilhaçando o espelho atrás dela. Sem piscar, ela apontou para dois agentes: — Kay, Marlon! Protejam os civis! Ninguém sai até meu aviso! Com um gesto brusco, ordenou ao resto da equipe: — Acabem com essa festa! — E avançou em direção à cozinha, os passos sincronizados com os tiros que ecoavam. Quando o último capanga de Viktor caiu, Helena sabia: o verdad
Naquele momento, Gabriel surgiu. A ventania gelada gerada pelo motor do helicóptero colava suas roupas ao corpo. A neblina reduzia a visibilidade a quase nada — só um louco como Viktor arriscaria voar naquele caos, pensou ele. Mas agora, aquela era sua única saída. Quando os olhos de Gabriel se ajustaram, avistou Malú e Ravi escondidos atrás de uma estrutura metálica. Ravi, com o braço esquerdo ensanguentado e o rosto pálido de exaustão, ainda mantinha os homens de Viktor sob fogo. O policial que o acompanhava jazia no chão, vítima de um tiro fatal. Do outro lado, Helena e dois colegas disparavam contra os capangas. Ela gritava por reforços, mas os policiais restantes estavam ocupados nos andares inferiores. Gabriel sabia que a ajuda demoraria — e Viktor tinha números a seu favor. Foi então que Viktor surgiu das sombras. Antes que Gabriel pudesse gritar, um tiro ecoou. Ravi caiu de joelhos, as mãos pressionando o peito.
Dois meses se passaram desde aquela noite fatídica em Gramado. O cenário sombrio da festa, a morte de Viktor e a turbulência emocional que se seguiu haviam deixado marcas profundas. Agora, porém, a calmaria começava a despontar no horizonte. Malú, Ravi e Olga — que há muito deixara de ser apenas a ex-babá de Malú para se tornar uma figura materna tanto para May quanto para ela — encontravam, enfim, paz na mansão de Ravi. A residência, com seus jardins amplos e atmosfera acolhedora, era um refúgio após meses de caos. Os dias seguintes à queda de Viktor foram marcados por depoimentos intermináveis, batalhas jurídicas e a luta para reconstruir o que fora destruído. Malú mergulhara de cabeça na recuperação de tudo o que pertencia a ela e a May por direito: a fortuna roubada por Viktor, às propriedades da família Petrova e a Zenit Motors, a renomada fábrica de carros que era o legado de gerações. O processo foi exaustivo. Malú viajava constantemente entre
Depois de mais alguns momentos aconchegados, Malú levantou-se ainda enrolada nos lençóis e dirigiu-se ao banheiro, anunciando: — Agora vamos logo, Ravi. Quero descer para ajudar Olga com a May. — A voz dela transbordava entusiasmo. — Ela está na fase de encharcar todo mundo com comida! Ontem, eu soube que ela cobriu a Olga de papinha e ainda achou graça! Ravi sorriu enquanto a via desaparecer no banheiro. Ambos adoravam tomar banho juntos – hábito que cultivavam desde o início da convivência. Ele especialmente se deliciava em fazer amor com Malú na banheira ou sob o chuveiro, sentindo o corpo dela deslizar contra o seu enquanto a água quente escorria sobre ambos. Aquilo superava até seus sonhos mais ousados. Mas, por ora, conteve-se. Sabia que precisaria adiar os desejos. Afinal, passaram vários dias na Rússia, e a pequena May ficara para trás – o frio intenso levara Malú a deixá-la sob os cuidados de Olga. Na noite em que retornaram ao Bra
O jantar começou em um clima de expectativa e magia. No horário combinado, o motorista da mansão chegou para buscar Malú. Enquanto o carro avançava pelas ruas iluminadas de Goiás, seu coração acelerava, ansioso para descobrir o que Ravi havia planejado. Ao chegar ao destino, Malú viu Ravi parado na entrada do restaurante, visivelmente ansioso. Ele estava impecável em um terno escuro, com aquele sorriso que a conquistara desde o primeiro encontro — mesmo quando ela temia o mundo inteiro. Malú lembrava como aquele sorriso equilibrava sensualidade e doçura, lhe transmitindo uma incrível e aquecedora sensação de refúgio e segurança. Agora, ao aproximar-se dele, entendia plenamente por que se rendera: ali estava sua paz. E naquele momento, o sorriso dele transbordava admiração ao vê-la descer do carro. Ravi aproximou-se imediatamente, segurando sua mão com firmeza carinhosa: — Não tenho palavras para descrever sua beleza esta noite, princes
Enquanto Ravi beijava Malú, ela deixou escapar pequenos gemidos que incentivaram ele a aprofundar o beijo. Ele a ergueu no colo com facilidade, enquanto ela o abraçava pelo pescoço, seus lábios recusando-se a se separar. Com cuidado, Ravi a levou até a cama, deitando-a suavemente sobre as pétalas. Seus dedos traçaram o contorno do rosto dela, os olhos capturando cada detalhe como se fosse a primeira vez. Malú, entregue ao momento, deslizou as mãos para os botões do paletó e da camisa dele, desabotoando-os com lentidão deliberada. Os músculos tensos e quentes sob suas mãos fizeram seu coração acelerar. Ravi, por sua vez, deslizou o zíper do vestido, deixando o tecido escorregar pelos ombros dela. Parou por um instante, a respiração entrecortada, para admirá-la. — Você é perfeita, Malú. Sempre será. Ela sorriu, o rosto levemente corado, e o puxou para mais perto. Seus toques eram uma mistura de amor e desejo, como se cada carícia fosse