Capítulo 7

“- Eu mando o motorista, Ella” – desdenhei, enquanto contava a história toda para Amanda.

Obviamente eu tinha ligado correndo para a minha amiga. Eu não tinha a menor intensão de aparecer no escritório de Matt usando calça jeans e camiseta do Harry Potter. Mas, dito isso, eu não fazia ideia do que usar. Não era exatamente como se eu tivesse muitas opções.

- Ele é fofo – respondeu ela, mexendo no meu armário.

- Ah, claro. Vai ser muito fofo também quando o Bruno ou outra pessoa me ver entrando em um carro de luxo.

- Mete o foda-se, Ella! Você não está fazendo nada de errado.

- Eu sei! Mas você sabe que as pessoas não pensam assim...

- Você deveria se importar menos com o que as pessoas pensam! – Ela briga. – Ninguém tá pagando suas contas! Aliás, o Matt tá.

- Você sabe que eu não consigo ser como você!

Amanda revira os olhos e volta a se concentrar nas minhas roupas.

- Posso te emprestar algo, se quiser.

- Não posso ficar te pedindo roupas emprestadas toda vez que for sair com ele, Mandy, até porque isso vai se tornar algo constante.

- Você também não pode usar isso... – ela faz um gesto exagerado em direção ao meu armário.

- Hey! – Protesto.

- Amiga, você tem noção de que a família dele é dona de uma empresa de joias de luxo? Joias! – ela enfatiza. – Não dá pra você sair com ele usando seu “colar banhando a ouro” – ela faz as aspas com as mãos – que fica verde no primeiro contato com vapor, ou roupas sem corte e com tecido transparente. Você precisa comprar roupas.

- Eu já gastei a maior parte da grana, tá?

- Não precisa ser nada de grife... Só de qualidade. Vamos nos encontrar no shopping amanhã de tarde, tá? Nesse aqui perto de casa... Mas amanhã, acho que você pode usar... isso!

Ela coloca sobre a cama uma calça de couro preta (não couro original, claro, aqueles couros que começam a descascar na primeira oportunidade), uma blusa cinca e um blazer bege.

- Usa com aqueles seus saltos prateados, vai ficar elegante. Ou algo perto disso.

Amanda tinha razão. Ou menos sobre a parte de “algo perto de elegante”. Eu tinha saído de casa confiante de que estava bem-vestida, mas ao entrar no prédio da empresa de Matt, novamente eu me sentia um peixe fora d’água. Não era porque eu estava usando um blazer que eu estava elegante. O tecido parecia tão vagabundo agora!

- Posso ajudá-la?

- Eu... – me afasto do elevador, onde eu mal tinha me dado conta de que fiquei parada, e caminho até a mesa da recepção. – Eu vim ver o Matt.

- Senhor Lennox?

Puta que pariu, Lennox? Eu não fazia ideia de que esse era o sobrenome do Matt. Tudo bem, Amanda me disse que a família dele era dona de uma empresa de joias de luxo, mas... a Lennox? Sempre que eu passava em frente a uma loja da Lennox no shopping eu ficava consideravelmente mais pobre só de olhar na direção da vitrine!

- Senhorita? – A secretária me traz de volta a realidade.

- Ah, sim, Matt Lennox.

Puxo meu blazer mais para junto do corpo, como se isso pudesse me esconder. Estou me sentindo extremamente desconfortável sob os olhares da secretária e das outras pessoas na recepção. Todos claramente tentando entender o que uma pessoa como eu estava fazendo ali.

- Você tem horário marcado?

- Er... eu...

- Qual seu nome?

- Ella. Antonella.

Ela digita rapidamente alguma coisa no computador.

- Não encontrei seu nome, desculpa.

- Mas... é que...

- Desculpa, sem horário marcado, não posso fazer nada por você – imediatamente ela perdeu o interesse por mim e voltou a olhar para o computador.

- Mas o Matt pediu que eu...

- Escuta, você pode agendar um horário online, ok? – Nem ao menos me olhou.  

- Ella? – Escuto a voz de Matt e automaticamente me viro naquela direção, respirando aliviada. – Achei que tinha ouvido sua voz – ele vem caminhando em minha direção. – Por que não entrou?

- Porque eu não tenho um horário marcado.

- Não seja ridícula – ele ri. – Desde quando minha namorada precisa de hora marcada?

Matt é tão rápido que só percebo seu movimento quando seus lábios já estão colados nos meus, em um selinho. Se eu tivesse qualquer dúvida de que todo mundo naquele ambiente tinha visto, os murmurinhos crescentes ao redor deixariam isso bem claro.

- Vamos! – Ele coloca a mão na base da minha cintura, me guiando para onde, eu imagino, fica sua sala.

- Você não pode me beijar assim! – Protesto, ainda desconcertada.

- É claro que posso... – Ele caminha até a sua mesa e a contorna, sentando-se. Depois aponta para a cadeira em sua frente, em um convite silencioso para que eu o imite. – Você leu o contrato?

- Eu... Não tive tempo ainda – minto. Nem ao menos tinha pensado em pegar novamente naquele papel.

- Existe uma cláusula inteira sobre troca de carícias em público. Ninguém realmente acreditaria que estamos juntos se eu nunca te beijasse, não é mesmo?

- Bem, sim, é só que... Fui pega desprevenida, só isso... – minto. – Então, você queria me ver?

- Sim, nós temos um problema.

- Temos?

- Ella, eu não posso namorar uma garota que trabalha atendendo bêbados em um barzinho de bairro.

- Hey! – Eu protesto. – Isso é tão preconceituoso!

- Eu sei – ele diz sem se abalar. – Mas é a verdade. O que as pessoas vão pensar quando elas descobrirem?

Queria protestar dizendo que ele não deveria se importar com o que as pessoas pensam, mas eu seria extremamente hipócrita se fizesse isso. Eu era a primeira a me importar com opiniões alheias. E se Matt não fosse minimamente parecido comigo, ao menos nesse aspecto, ele nem me contrataria para fingir que era sua namorada.

- E o que você espera que eu faça em relação a isso?

- Lembro vagamente de você ter falado que fez faculdade. No que você se formou?

- Nada – admito. – Precisei trancar – me limito a essa informação. Não preciso dizer que foi por falta de dinheiro, por mais que tenha certeza de que a informação ficou implícita.

- Mas você tem experiência com administração? Administra a mercearia da sua família, certo?

- Er... acho que sim.

- E no que mais você tem experiência?

- Vendas em lojas de roupas, telemarketing, limpeza, manicure, massagista...

- Massagista?

-  Massagista de verdade! – Friso. – Não é um código.

- Eu entendi... – ele responde, um sorriso dançando em seu rosto. – Eu vou pensar no que fazer. Vamos jantar hoje a noite e eu já vou ter uma solução.

- Eu não tô vestida para...

- Esse é outro ponto – ele me interrompe. Observo enquanto Matt mexe em uma gaveta da sua mesa e tira de lá um cartão de loja, o qual me entrega. – Minha irmã costuma fazer compras nessa loja, eles têm uma personal stylist e vão te ajudar.

- Er... ok – me sinto intimidada em dizer que já gastei boa parte do dinheiro que ele me deu e mesmo que não tivesse gastado, a última coisa que gostaria é de usá-lo em roupas chiques.

- Eu vou pedir um para você, mas até lá use esse – ele me empurra um cartão de crédito.

- Espera... – eu estou ligeiramente perplexa. – O quê?

Matt revira os olhos.

- Vá aqui – ele aponta para o cartão da loja em minha mão. – E peça ajuda para renovar seu guarda-roupas. Depois use isso aqui... – ele aponta para o cartão de crédito – para pagar.

- Mas... eu... quanto eu...?

- Não se preocupe com isso, use o quanto precisar. Faça as compras, almoce, vá ao cinema, sei lá... Me espere para o jantar.

- Mas... e se... e se... É uma loja muita cara... E se quiserem me empurrar muita coisa, e...

- Então aceite muita coisa – diz com simplicidade. – Se você gostar, é claro.

- Mas... mas...

Eu me calo porque simplesmente não sei como perguntar. Se eu tentasse passar uma blusinha dessa loja no meu cartão de crédito, provavelmente estouraria o limite. Por Deus, só de entrar nessa loja meu cartão estouraria o limite!

- Ella... – ele ri, e eu vejo em seus olhos que compreendeu minha preocupação. – Você sabe por que esse cartão é dourado e não preto? – Balanço a cabeça negativamente. É claro que eu já tinha ouvido falar no black card que as pessoas ricas usavam, mas eu nunca teria nada além de um cartão roxo. Não entendia nada sobre aquilo. – Porque ele é feito de ouro. Só vá em frente e use o quanto precisar.

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