A casa estava em silêncio quando tudo começou.
Não aquele silêncio frágil, que pede cuidado excessivo, mas um silêncio denso, íntimo, quase cúmplice. Miguel dormia profundamente no quarto ao lado, e Patrícia sabia reconhecer aquele tipo de sono. Não acordaria fácil. Pela primeira vez em dias, o tempo parecia realmente disponível.
Ela estava encostada na bancada da cozinha, tomando um gole lento de água, quando sentiu Enzo se aproximar por trás. Não tocou nela de imediato. Apenas ficou ali, perto o suficiente para que o corpo denunciasse a intenção antes do gesto.
— Você percebe como tudo muda quando a casa dorme? — ele murmurou.
Patrícia fechou os olhos por um segundo.
— Percebo — respondeu. — Parece que o mundo finalmente baixa o volume.
Ele apoiou as mãos na bancada, uma de cada lado dela, sem aprisionar, apenas delimitando presença. O corpo dele estava quente, sólido, real. Não havia pressa no movimento. Havia contenção.
— Você está linda — disse, baixo.
— Eu estou inteira — ela co