Virei-me.
E dei de cara com Axel, parado bem atrás de mim, cuja chegada fora completamente silenciosa.
Sua expressão estava fria como gelo, o olhar fixo na minha mala totalmente arrumada. Ryker se apoiava no batente da porta do quarto, me encarando com a mesma frieza.
Willow os havia seguido e agora fitava minha bagagem em silêncio.
A expectativa mal disfarçada em seus olhos era impossível de ignorar.
Por um instante, considerei dizer a verdade.
Mas então me lembrei das palavras impacientes de Axel: "Essas coisas não nos dizem respeito. Você não precisa nos contar."
De repente, perdi a coragem de me abrir.
Dessa forma, quando eu finalmente fosse embora, ao menos poderia mentir para mim mesma.
Poderia fingir que eles simplesmente não sabiam que eu estava partindo, em vez de admitir que não se importavam.
Minha mão escorregou para o bolso do casaco, com os nós dos dedos doendo de tanto que eu apertava o punho.
Falei com falsa casualidade:
— Só estou mudando minhas coisas de quarto. Como eu disse, o quarto principal é da Willow.
A expressão de Axel suavizou levemente.
Mas logo endureceu de novo, e ele declarou com severidade:
— Willow não vai ficar aqui.
— Você a empurrou escada abaixo há poucos dias. Acha mesmo que nos sentiríamos confortáveis em deixá-la sob o mesmo teto que você?
Respondi no automático:
— Então eu me mudo para a moradia do campus.
O breve abrandamento em sua expressão desapareceu por completo, dando lugar a uma escuridão total.
Juro que não tinha a intenção de provocá-lo.
Com minha partida tão próxima, só queria não dificultar mais as coisas para eles.
Willow assumiu um ar inocente:
— Este é o seu quarto, irmã. Eu não posso ficar com ele.
Respondi com frieza:
— Não se preocupe. Assim que eu sair, não voltarei mais.
Willow imediatamente não conseguiu conter o sorriso no canto dos lábios.
Ao perceber a própria falha, abaixou a cabeça depressa.
Axel gritou, furioso:
— Está ameaçando quem?!
Ryker riu com desprezo:
— Se quer ir embora, vá. Achou que alguém ia implorar para que você ficasse?
Não disse mais nada. Continuei a arrumar minhas coisas.
Depois de viver nesta casa por mais de vinte anos, eu havia acumulado coisas demais.
Não podia levar tudo, então escolhi apenas o essencial e os objetos que meus pais me deixaram antes de morrer.
Enchi duas malas grandes e as arrastei em direção à porta.
Atrás de mim, a voz furiosa de Axel ecoou:
— Se tiver coragem, nunca mais volte!
Com dificuldade, carreguei a bagagem pesada escada abaixo, atravessando o hall de entrada até alcançar a porta da frente.
Por trás, a voz irritada e sarcástica de Axel ainda me alcançou:
— Depois de todos esses anos de drama, finalmente teremos um pouco de paz e sossego.
— E não volte rastejando quando não aguentar nem três dias sozinha!
Eu pretendia pegar um guarda-chuva.
Mas suas palavras travaram minha garganta, e acabei pisando direto sob a chuva torrencial.
O aguaceiro era intenso, me encharcando completamente em questão de segundos.
Enquanto atravessava o jardim da frente, a chuva embaçava minha visão.
A voz exaltada de Axel continuava às minhas costas:
— De agora em diante, quem ousar abrir a porta para ela pode ir junto!
Meus olhos ardiam tanto que mal consegui mantê-los abertos.
Não sabia se era a chuva ou as lágrimas que turvavam minha visão.
O vermelho começou a se espalhar pela manga do meu casaco encharcado.
O ferimento no meu braço mal cicatrizado desde que carreguei a bagagem escada abaixo tinha reaberto e voltado a sangrar.
Há muito tempo, no incêndio que tirou a vida dos nossos pais, eu me queimei gravemente protegendo Axel. Minha loba ficou tão danificada que perdeu grande parte da capacidade de autocura.
Agora, eu não sentia dor, apenas um entorpecimento completo enquanto arrastava minhas malas para longe da mansão.
Me perguntei se os dormitórios da escola ainda estariam abertos àquela hora.
A verdade é que eu não fazia ideia de para onde estava indo.
Willow correu atrás de mim, a voz dramática e chorosa:
— Irmã, me desculpa, por favor, não vai embora! Se você não gosta de mim, sou eu quem pode sair!
Logo em seguida, veio a voz urgente de Axel, tentando contê-la:
— Willow, quem tem que sair não é você! Não pode se molhar assim!
Tentei sorrir, mas nem isso consegui.
Minha loba já estava enfraquecida pelas antigas queimaduras, e eu vinha me exaurindo nos últimos dias. Agora, encharcada pela tempestade, minha visão começou a escurecer.
No instante em que meu corpo começou a desabar, uma mão firme me segurou de repente.
Ao mesmo tempo, a chuva que martelava minha cabeça cessou.
Com esforço, levantei os olhos. Depois de alguns segundos, reconheci Derek, o Alfa da Alcateia da Sombra.
Ele vinha se dedicando incansavelmente à busca por uma cura para o envenenamento por prata entre os lobisomens.
Admirava minha habilidade com ervas e já havia me convidado várias vezes para integrar sua alcateia como Curandeira-Chefe.
Mas o projeto da prata era sigiloso demais, e os materiais de pesquisa não podiam vazar. Era necessário isolamento completo do mundo exterior por pelo menos quinze anos. Por isso, eu recusara repetidas vezes.
Dessa vez, no entanto, era diferente. Eu aceitara.
Porque já não havia mais nada nem ninguém do lado de fora que valesse a pena.
O carro dele esperava sob a chuva pesada.
Sem dizer uma palavra, ele pegou minha bagagem e a colocou no porta-malas.
A risada fria de Axel soou às minhas costas:
— Indo embora tão rápido? Vejo que arrumou uma proteção poderosa.
Ele devia ter me seguido apenas para testemunhar minha humilhação.
Derek olhou para o meu estado deplorável e respondeu com raiva:
— Por que você ainda os reconhece como irmãos?
— Em poucos dias, você vai partir de vez.
Interrompi desesperada:
— Alfa!
Derek se calou imediatamente.
Ele abriu a porta do carro e me empurrou firmemente para dentro.
Pelo canto do olho, vi o rosto de Axel escurecer no mesmo instante:
— Derek, o que você está insinuando?
Derek arqueou os lábios com nojo:
— O que eu estou insinuando? Daqui a alguns dias, você vai descobrir.
Meu coração subiu até a garganta.
Axel ficou parado, como se não conseguisse processar o que estava acontecendo.
Depois de um longo instante, quando o carro já estava prestes a partir, ele correu até minha porta para abri-la.
Derek já havia entrado e trancado o veículo rapidamente.
Através do vidro e das cortinas de chuva, mal consegui distinguir os lábios de Axel formando as palavras:
— Ember, sai do carro!
Sua expressão estava tomada pela raiva, mas havia algo mais ali algo estranho que eu não soube identificar.
Não compreendia o que era, só sabia que, naquele momento, a minha partida provavelmente não significava nada para ele.
Nem para ele, nem para Ryker.
Fechei os olhos, recusando-me a olhar para trás.
Enquanto o carro se afastava, o espelho retrovisor mostrava Axel ainda parado no mesmo lugar, imóvel sob a chuva.
Derek continuava desabafando, indignado:
— Você está ferida e eles te expulsam no meio de um temporal. Sinceramente, não entendo por que voltou, só para ser tratada assim.
Virei o rosto para a janela, observando a chuva torrencial lá fora.
Depois de um longo silêncio, falei baixinho:
— Eles costumavam ser muito bons comigo.
Derek não acreditou.
Ele só me conheceu na faculdade; nunca viu como Axel e Ryker já haviam se importado comigo.
Meus olhos se encheram d’água, e insisti com sinceridade:
— É verdade. Eles foram muito, muito bons comigo um dia.