Quando meu pedido de conexão mental foi ignorado pelos meus pais pela vigésima vez, fui até o Conselho dos Lobisomens, apertando nas mãos o relatório sobre a corrosão por poeira de prata. — Olá. Gostaria de renunciar à minha identidade na alcateia — com efeito imediato. Dez minutos depois, meus pais invadiram o local, arrastando minha irmã adotiva mais nova, Elsa, com eles, o pânico estampado em seus rostos. A porta se escancarou com um estrondo, e meu pai, um Beta, entrou como uma tempestade. Presas à mostra, garras tremendo. — Você não passa de uma pirralha mimada querendo atenção! Pare com essa palhaçada patética. Você é uma vergonha para o nome de um Beta! Minha mãe, especialista forense da alcateia, arrancou o relatório da minha mão assim que o viu. Após uma rápida olhada, soltou um riso frio. — Você forjou esse relatório só pra chamar nossa atenção? Desde filhote você é uma mentirosa. Elsa se agarrou aos dois, lágrimas nos olhos enquanto soluçava: — Me desculpa, Jennifer. A culpa é minha por ter feito o ritual de transformação. Mas por favor... não minta pros nossos pais só pra deixá-los com culpa! O sangue ainda escorria do meu nariz, mas eu o limpei com calma e voltei a me erguer diante dos conselheiros lobisomens. — Já faz muito tempo que não tenho uma família de verdade. Por favor — removam todos os meus registros pessoais da alcateia. Eu só não quero que meu funeral — marcado para daqui a três dias — sofra atraso.
Ler maisElsa saiu correndo assim que percebeu que meus pais tinham voltado.Ela encerrou a ligação apressadamente e correu para os braços deles, com a voz doce e suave, transbordando de falsa preocupação.— Mamãe, papai, o que houve? Vocês devem estar bravos com a Jennifer de novo, né?Mas antes que pudesse terminar a frase, meu pai a agarrou pelo pescoço, a voz trêmula de fúria.— Você ainda está mentindo pra gente! Você matou a Jennifer — e ainda tem a ousadia de fingir que nada aconteceu!Minha mãe bateu nas costas dela com os punhos cerrados, chorando de dor e raiva.— Como pôde tratar ela assim? Nós te demos tudo! Todo o nosso amor, toda a nossa confiança — por anos!Elsa arfou, lutando para respirar sob o aperto do meu pai. Quando ele finalmente a soltou, ela caiu no chão, tossindo e chorando com uma inocência forçada.— F-Foi a Jennifer de novo! Ela sempre me acusava falsamente, vocês sabem disso! Ela vivia armando pra virar vocês contra mim!— Você ainda se recusa a admitir a verdade!
Um silêncio cortante.Então —— O quê? Do que você está falando?A voz do meu pai tremia, quase incoerente.— O que aconteceu com a minha filha?Pela primeira vez, o verdadeiro pânico inundou os olhos deles.— A Jennifer… a Jennifer morreu mesmo? — Sussurrou minha mãe, com a voz falha, quase inaudível.— Ela estava mesmo sofrendo de corrosão por poeira de prata? Nós… nós a julgamos mal de verdade?Sem dizer mais nada, meu pai se transformou em lobo e disparou, com minha mãe logo atrás, ambos correndo em direção ao cemitério.— Chegaram tarde. — Disse o coveiro solenemente quando eles chegaram, ofegantes.— A filha de vocês morreu há horas. Ela escolheu um túmulo para si mesma, mas não pôde pagar — não tinha moedas de prata.— Você está mentindo! — Rugiu meu pai, deixando a dor ser engolida pela fúria.— Você só está dizendo isso pra ajudar ela a nos enganar de novo!Cego de raiva, agarrou o coveiro pela gola e a rasgou.— Foi tudo o que encontramos no bolso dela. — Disse o coveiro em v
Ela continuou me chutando mesmo depois de eu ter desmaiado no chão, depois se virou com um sorriso frio — como se já tivesse vencido.Mas ela não sabia...Havia uma câmera minúscula que eu havia escondido no canto, gravando tudo em silêncio.Depois de um longo tempo, recuperei a consciência. Cada osso do meu corpo doía, e minha loba mal conseguia respirar. Me arrastei de pé com as pernas trêmulas, cada respiração era uma batalha. Meus dedos tremiam quando abri um elo mental com William, sussurrando com o último fio de força que me restava:— Venha pegar a câmera. Veja a verdade... com seus próprios olhos.Era meu último dia neste mundo — eu sentia isso até os ossos.Mas se eu tivesse que morrer, então que eu levasse as mentiras comigo.Então caminhei para a noite fria e tempestuosa. Minhas pernas mal me sustentavam, mas eu não parei.Passo a passo, desapareci na escuridão sem fim.Me arrastei até o túmulo com o último sopro que ainda restava, sussurrando para o guardião com uma voz fra
— De jeito nenhum! Eu nunca vou voltar! Eu vou cumprir minha palavra!Virei as costas para aquela antiga toca — o lugar cheio de memórias — e jurei apagar todas elas do meu coração.Minha sombra desapareceu lentamente na noite fria e ventosa.Eventualmente, tropecei em uma toca abandonada, coberta de poeira e cheia de lixo velho.Sob o brilho pálido e prateado da lua, o passado voltou com força total.Sim... eu me lembrava de que, muito tempo atrás, eu tinha sido verdadeiramente feliz — antes da chegada de Elsa na minha vida.Naquela época, meus pais me amavam de verdade.Mas estavam sempre tão ocupados com o trabalho que ninguém podia ficar em casa para cuidar de mim.Então, eles me mandaram para o interior — para viver com meus avós.Ainda me lembro do dia em que foram embora.Minha mãe segurou meu rosto delicadamente entre as mãos, os olhos cheios de carinho e relutância.Ela acariciou minha bochecha suavemente e sussurrou:— Querida, assim que eu terminar essa tarefa, vou voltar pa
O rosto de Elsa empalideceu quando ouviu minhas palavras.Então ela correu até mim e agarrou minhas mãos, implorando com uma voz chorosa e cheia de pena:— Me desculpa, Jennifer. Eu esqueci de te contar que sou alérgica a nozes.— Eu caí do telhado quando era filhote, e desde então, minha memória nunca mais foi a mesma. Eu juro que esqueci de verdade!— Por favor, não fica brava comigo, Jennifer. Você pode fazer outro sabor pra mim, não pode?Ver aquele sorriso falso e manipulador me deu enjoo.Eu me lembrava perfeitamente da primeira vez que fiz bolo de nozes pra ela — eu não fazia ideia da alergia.Fiz aquilo com toda a boa intenção do mundo, querendo criar um laço de amizade.Só porque ela comentou por acaso que gostava de bolo de nozes, eu insisti em tentar dezenas de vezes, mesmo queimando minhas mãos.Mas eu não desisti. Aguentei a dor e finalmente consegui assar o bolo perfeito — por ela.No fim, Elsa desmaiou por causa da alergia.Quando recobrou a consciência, se jogou nos bra
Eu não voltei para casa por saudade — voltei para empacotar o pouco que restava de mim. Mas, quando entrei, percebi que não havia nada ali que valesse a pena lembrar.Sempre vivi no depósito — o canto mais pequeno, úmido e escuro que puderam me ceder. Só havia roupas velhas lá dentro, e mesmo essas eram restos que ninguém mais queria. O closet de Elsa era três vezes maior que o meu. Tudo o que ela não queria mais acabava no meu quarto — como se eu fosse nada além de um depósito de lixo.Quando terminei de empacotar, meu telefone tocou. Era o guardião do cemitério.— Alô, Jennifer. Você me pediu pra reservar aquele túmulo que escolheu, lembra? Se você vier logo com as moedas de prata e fechar, eu seguro ele pra você. Caso contrário, pode ser que alguém mais o pegue.Escolhi aquele túmulo apenas uma semana atrás.Era silencioso, rodeado de flores-da-lua e rosas brancas — o tipo de paz com que minha loba sempre sonhou. Ela dizia que queria descansar ali, bem longe desse mundo cruel e amar
Último capítulo