Capítulo 2
Vinte anos atrás, Elise terminou o relacionamento com meu pai e, obedientemente, se casou com um Alfa rico e poderoso de outra matilha, seguindo o arranjo feito pela sua família.

Eles haviam sido namorados desde a infância, mas a família dela considerava meu pai inferior a eles.

— O filho de um Beta nunca será suficiente para a nossa filha. — Haviam lhe dito.

Com o tempo, as sortes mudaram. O homem rico perdeu seu status, enquanto meu pai que antes era apenas um lobo pobre se casou com minha mãe e se transformou em um Beta bem-sucedido.

A família da minha mãe tinha conexões, inteligência e lealdade. Com a ajuda deles, meu pai subiu na hierarquia, tornando-se o respeitado Beta da matilha.

Tudo foi tão dramático. Então, minha mãe morreu de doença, e Elise se divorciou do marido.

A coincidência no tempo não foi por acaso. Elise estava rondando, esperando o momento certo para retomar o que ela achava que lhe pertencia por direito.

Para meu pai, essas foram duas notícias maravilhosas.

Ele nem tentou esconder sua alegria. No dia seguinte ao funeral de minha mãe, peguei-o sorrindo para o celular, trocando mensagens com Elise, como se minha mãe nunca tivesse existido.

E assim, Elise e meu pai reacenderam o relacionamento. Mãe e filha se mudaram para nossa casa, roubando tudo o que era meu.

Minha comida, minhas roupas, meus brinquedos, meu quarto, e finalmente, elas queriam roubar meu pai também.

Dez dias atrás, Amber voltou para casa empolgada, dizendo que havia praticado tiro e queria uma arma capaz de disparar balas especiais de fogo.

Meu pai imediatamente se ofereceu para comprar uma para ela, mas, após uma breve hesitação, ela disse, com uma falsa timidez:

— Eu acho que aquela pistola de prata no armário de armas é muito bonita.

Respondi friamente:

— Essa arma foi um presente da minha mãe antes de morrer. Se você quiser uma, peça para o seu pai comprar. Você não tem seu próprio pai?

Aquela arma foi a última coisa que minha mãe me deu antes de deixar este mundo. Ela a colocou em minhas mãos e sussurrou:

— Proteja-se, Scarlett. Nem todos nessa matilha têm seus melhores interesses em mente.

Na época, eu não entendia o aviso dela. Agora, eu entendi.

Achei que meu pai compreenderia o significado daquilo para mim, mas suas próximas palavras destruíram essa ilusão completamente.

— É só uma arma, Scarlett. Se a Amber gosta dela, dê para ela. Você tem outras armas, por que brigar com a Amber por essa? Dê logo para ela.

Ao ouvir suas palavras, de repente percebi que meu pai não era mais o homem que um dia me amou. Ele havia se transformado em outra pessoa, alguém que eu não reconhecia.

Ainda assim, recusei-me a entregar o último presente de minha mãe. Apertei a arma com mais força e recuei, balançando a cabeça.

Os olhos de meu pai brilharam de raiva. Ele sinalizou para os guardas, que se aproximaram de mim cautelosamente.

— Tire isso dela. — Ordenou ele.

Desesperada, ergui a arma, não para atirar, mas para mantê-los afastados. Os guardas hesitaram, procurando orientação em meu pai.

— Agora! — Gritou ele, e eles correram em minha direção.

Nessa luta, sabendo que perderia, tomei uma decisão rápida. Em vez de deixar Amber ficar com a arma de minha mãe intacta, removi rapidamente um pino de disparo essencial e o engoli. Os guardas arrancaram a arma das minhas mãos, mas eu sorri, sabendo que agora ela era inútil.

Meu pai estava furioso.

— Conserte isso. — Exigiu do armeiro da matilha.

Horas depois, a arma foi consertada e entregue a Amber como presente.

Ela fez caretas de alegria e agradeceu ao meu pai profusamente, manuseando a arma com dedos inexperientes.

Três dias depois, o desastre aconteceu. Amber estava estudando a arma em seu quarto, ou seja, meu antigo quarto, quando ela disparou acidentalmente. O projétil incendiou as cortinas instantaneamente. As chamas se espalharam rapidamente, prendendo-a lá dentro.

Os alarmes de fumaça soaram por toda a casa. Membros da matilha correram para ajudar, mas o fogo estava intenso, alimentado pela munição especial.

Antes de perder a consciência, Amber conseguiu ligar para meu pai. Sem se importar com sua própria segurança, ele se transformou em lobo e avançou através de chamas para resgatar Amber.

A equipe de resposta a emergências da matilha chegou minutos depois, apagando o fogo e tratando os feridos. Felizmente, Amber teve apenas queimaduras leves no braço. Meu pai tinha alguns pelos chamuscados, mas estava, no geral, ileso.

Quando Amber recobrou a consciência na ala médica, ela imediatamente se fez de vítima.

— Foi um acidente. — Lamentou, lágrimas escorrendo por seu rosto. — Eu devo ter cometido um erro ao usá-la. Sei que Scarlett não alteraria a arma para me machucar.

Suas palavras, aparentemente me defendendo, tinham o objetivo oposto. E funcionaram perfeitamente.

Meu pai, de pé ao lado de sua cama, se virou para mim com uma raiva que eu jamais havia presenciado. Seu corpo todo tremia de fúria, seus olhos agora completamente amarelos.

— Você fez isso. — Rosnou, sua voz mal humana. — Você alterou a arma, sabendo que ela iria usá-la.

— Não! — Protestei. — Eu nunca...

Antes de eu terminar, sua mão atingiu meu rosto com tal força que eu me estremecei, caindo contra a parede atrás de mim. Os membros da matilha presentes viraram os olhos, não dispostos a intervir.

— Donovan... — Elise, ainda na sala, se colocou entre nós. — Talvez ela não tenha tido a intenção.

— Ela tinha que ter! — Rugiu meu pai.

Meu pai estava além da razão. Ele me arrastou para fora da ala médica e me levou até o porão, onde eu fui forçada a viver depois que Amber tomou o meu quarto.

De um compartimento secreto, ele retirou algo que eu só havia ouvido falar nas histórias de terror da matilha: um chicote de prata. A prata, a única substância capaz de impedir que nossos lobos se curassem.

— Você precisa de uma lição. — Sibilou ele, erguendo o chicote.

O primeiro golpe rasgou minha camisa e entrou na minha carne. Gritei enquanto a prata queimava minha pele, minha loba uivando dentro de mim. O segundo golpe cruzou o primeiro, formando um X de fogo nas minhas costas.

Após o décimo golpe, eu já não conseguia mais me manter em pé. Caí no chão, o sangue se espalhando sob mim.

— Leve-a para a casa de fogo. — Meu pai ordenou ao mordomo, que assistia em horrível silêncio. — Em intervalos de duas horas. Pelo menos uma semana.

Fui arrastada, meio inconsciente, até o prédio isolado. As paredes de pedra absorveram meus gritos enquanto o primeiro jato de fogo caía do teto.

Minha loba, já enfraquecida pelo chicote de prata, não podia me proteger. A cada nova queimadura, sua presença dentro de mim se tornava mais tênue.

O cheiro de pelos e carne queimados preenchia o pequeno espaço. Entre as queimaduras, implorava a qualquer um que pudesse ouvir por água, por misericórdia. Mas ninguém apareceu.

No quinto dia, senti minha loba ir embora primeiro.

E depois eu segui.

Agora, dez dias depois de ser trancada na casa de fogo, cinco dias após a minha morte, observava meu corpo se decompondo no calor.

Os fluidos do meu cadáver vazavam pelas rachaduras no chão de pedra, criando uma mancha escura visível do lado de fora.

Membros da matilha que passavam por ali torciam o nariz com o estranho odor, mas não diziam nada. Ninguém ousava questionar as ordens do Beta.
Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP