Capítulo 3
O sangue escorria do meu rosto e pingava no chão de madeira enquanto eu me arrastava de joelhos e mãos, ignorando a dor lancinante que queimava minha bochecha. Meus dedos tatearam freneticamente cada canto, cada sombra, cada fresta entre as tábuas do piso.

— Onde estão? — Murmurei desesperada. — Por favor, eles têm que estar aqui em algum lugar.

Aqueles pequenos dentes brancos eram tudo o que me restava do meu filho. Cinco preciosos dentes de leite que ele me entregou com tanto orgulho ao longo dos anos, cada um cuidadosamente embrulhado em papel e guardado na pequena caixa de madeira.

— Mamãe, olha! A fada do dente vai vir hoje à noite! — Ele disse há apenas seis meses, quando seu último molar caiu. Em vez de deixá-lo debaixo do travesseiro, ele insistiu para que eu guardasse junto com os outros.

— Assim, podemos sempre estar juntos, mesmo quando eu crescer. — Explicou ele com aquela sabedoria inocente que só as crianças têm.

Quatro desses dentes estavam espalhados em algum lugar deste cômodo, e um havia sido reduzido a pó pelo pé descuidado de Ethan.

Encontrei um perto do pé do sofá, outro atrás da poltrona. Mas o terceiro e o quarto continuavam desaparecidos, perdidos no caos das lágrimas das crianças e da crueldade dos adultos.

Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava os dois dentes que consegui recuperar. Coisas tão pequenas carregando tanto amor, tantas memórias.

Meu filho estava morto, assassinado pela negligência de seu próprio pai, e eu nem sequer conseguia manter seguros os últimos presentes que ele me deixou.

A dor que vinha se acumulando no meu peito por semanas finalmente encontrou sua voz. Joguei minha cabeça para trás e liberei um som que veio da parte mais profunda da minha alma — um uivo que carregava todo o luto, a raiva e o desespero de uma mãe que perdeu tudo.

Ecoou por toda a casa, cru, primal e completamente devastador.

— Ah, pelo amor de Deus. — A voz de Damon cortou minha angústia como uma lâmina. — Que espetáculo teatral é esse agora?

Olhei para ele através das lágrimas, ainda segurando aqueles dois dentes preciosos.

Serena estava ao lado dele, sua mão pousada possessivamente em seu braço. A satisfação em seus olhos era impossível de esconder, agora que ela tinha tudo o que queria.

— Damon. — Ela disse com aquela voz doce e enjoativa. — Acho que ela está tendo algum tipo de colapso. Talvez ela esteja chateada porque percebeu o quanto você se importa comigo e com as crianças agora?

— É isso, Aria? — A voz de Damon transbordava desprezo. — Todo esse drama porque você está com ciúmes? Porque não suporta que eu tenha outras pessoas na minha vida que realmente significam algo?

— Você gosta tanto de ser o centro das atenções? Gosta de chorar e fazer cenas? — Ele gesticulou com desdém para o meu rosto manchado de lágrimas. — Então vá em frente! Chore o quanto quiser! Veja se alguém se importa!

Minha garganta se fechou. Como eu poderia explicar que aquelas não eram lágrimas de ciúmes, mas de uma perda devastadora? Como eu poderia fazê-lo entender que nosso filho se foi para sempre?

— Sabe qual é o seu problema, Aria? Você nem consegue criar uma criança direito. Olhe para você, no chão como um animal, fazendo esses sons nojentos.

Damon puxou Serena e seus filhos para mais perto, criando um quadro perfeito de felicidade familiar.

— A partir de agora, nosso filho será criado por Serena. Pelo menos ela sabe como se comportar como uma pessoa civilizada, em vez de uma fera selvagem.

Nosso filho. Ele continuava falando sobre nosso filho como se o menino ainda estivesse vivo. Como se ele não tivesse morrido gritando de agonia enquanto seu pai brincava de família feliz com outra mulher.

— Pare de me envergonhar na frente dos meus convidados. — Damon continuou friamente. — Esta agora é a casa deles.

Olhei ao redor daquilo que um dia foi nosso lar. Os móveis que escolhi, as fotos que pendurei, as cores quentes que pintei para torná-lo acolhedor para nosso filho. Agora parecia a casa de um estranho.

Tudo estava errado. Tudo estava destruído. E ninguém se importava, exceto eu.

Eu me esforcei para ficar de pé, minhas pernas trêmulas de exaustão emocional. Do cordão ao redor do meu pescoço, puxei o pequeno pingente de prata que marcava minha identidade dentro da hierarquia da alcateia.

Poucas pessoas sabiam o que ele realmente significava. Menos ainda conheciam a linhagem que ele representava.

Caminhei até a escrivaninha no canto e puxei um pedaço de papel. Minhas mãos tremiam enquanto eu pegava a caneta.

"Eu sou Aria Blackwood," escrevi cuidadosamente. "Ancião Magnus, alguém assassinou uma Criança da Lua. Os sinais estavam lá desde o nascimento — os olhos prateados, a marca de nascença em forma de lua crescente, a força incomum. Meu filho carregava o sangue antigo, e agora ele está morto, envenenado por prata em uma jaula de tormento."

Parei, deixando o peso completo dessas palavras afundar. O Conselho dos Anciãos estava esperando há décadas pelo nascimento de outra Criança da Lua. Eles acreditavam que tal criança traria grande fortuna ao nosso povo.

Em vez disso, essa criança foi morta por seu próprio pai, movido por ciúmes e raiva.

"A justiça deve ser feita." terminei de escrever. "As leis antigas exigem isso."

Dobrei a carta com cuidado e caminhei até a estante de livros. Atrás do maior volume havia um compartimento secreto que conectava ao sistema de mensageiros da alcateia. Em poucas horas, essa carta chegaria ao Conselho dos Anciãos.

Eles viriam. E, quando viessem, Damon aprenderia o verdadeiro custo de suas ações.

Comecei a recolher os pertences do meu filho — suas roupas, seus brinquedos, o cobertor com o qual ele dormia todas as noites. Cada item parecia carregar um pedaço da alma dele.

Quando abri a porta do quarto para sair, encontrei Serena parada no meio da sala de estar, as mãos nos quadris, inspecionando tudo como uma rainha conquistadora.

— Finalmente arrumando suas tralhas? — Ela disse com um sorriso frio. — Honestamente, Aria, seu gosto para decoração é horrível. Todas essas cores quentes e fotos de família, tão nauseante e sentimental.

Ela gesticulou com desdém ao redor.

— Não se preocupe, vou redecorar tudo adequadamente assim que você sair. Algo mais... Sofisticado. Mais digno da verdadeira família de um Alfa.

Eu não mordi a isca. Tinha preocupações maiores do que os insultos mesquinhos dela.

Mas, enquanto caminhava em direção à porta da frente, Serena soltou um suspiro dramático.

Eu me virei a tempo de vê-la dar um tapa forte no próprio rosto, o bastante para deixar uma marca vermelha.

Antes que eu pudesse reagir, ela se jogou contra a mesa de centro. O canto da mesa atingiu sua testa, abrindo um corte que começou a sangrar imediatamente.

— Damon! — Ela gritou no topo de seus pulmões. — Me ajude! Ela está tentando me matar!

Passos ecoaram pela escada. Damon apareceu como um anjo vingador, seus olhos brilhando com uma fúria protetora.

— O que diabos aconteceu? — Ele exigiu, correndo para o lado de Serena.

— Ela me atacou! — Serena soluçou, apontando um dedo trêmulo para mim. — Eu só estava tentando ajudá-la a arrumar as coisas, e ela enlouqueceu! Disse que eu não merecia viver na casa dela!

— Aria! — A voz de Damon era pura raiva. — Eu não te avisei o que aconteceria se você a tocasse novamente?

— Eu nunca…

— Está procurando a morte? — O poder de Alfa emanava dele em ondas, fazendo meus joelhos cederem.

Nem mesmo eu conseguia suportar a força total de um Alfa enfurecido. O tapa dele atingiu minha mandíbula, me lançando contra a parede. Eu caí no chão, minhas costelas gritando em protesto.

O sangue encheu minha boca. Eu podia sentir o gosto metálico e algo solto na minha mandíbula.

— Mamãe! Mamãe! — Ethan e sua irmã correram do quarto, seus rostos cheios de terror fabricado.

— É aquela mulher má de novo! — A menina gritou, apontando para mim com um drama exagerado. — Primeiro ela machucou Ethan, agora machucou você!

— Por que ela simplesmente não morre? — Ethan acrescentou com uma crueldade chocante para um garoto de seis anos. — Por que ela não vai embora e morre para que possamos ser felizes?

A crueldade casual em suas vozes jovens foi, de alguma forma, pior do que a violência de Damon. Essas crianças haviam sido ensinadas a me odiar, treinadas para me ver como inimiga.

Damon observou toda a cena com satisfação fria. Só depois que suas "crianças" terminaram a performance, ele falou.

— Agora, agora. — Disse ele suavemente. — Ela ainda é madrasta de vocês. Vocês não deveriam falar assim com a família.

Família. Que piada. Será que uma mulher que perdeu seu próprio filho ainda merecia esse título?

— Damon. — Eu disse baixinho, cuspindo sangue no chão limpo dele. — Você matou nosso filho. Quer me matar também?

O rosto dele se contorceu de aborrecimento.

— Pare com essas mentiras ridículas. Você está bem, não está? De pé, respirando, falando. E nosso filho está perfeitamente seguro lá em cima.

Ele realmente acreditava nisso. Ou talvez precisasse acreditar para viver consigo mesmo.

Eu não disse mais nada. Não havia sentido. Peguei minha bolsa e caminhei em direção à porta.

Mas as crianças de Serena não haviam terminado sua encenação. Eles avançaram sobre mim como pequenos animais, arranhando e mordendo meus braços.

— Não a deixe ir! — Ethan gritou. — Ela vai voltar e machucar a gente!

No caos do ataque, papéis se espalharam da minha bolsa pelo chão.

Uma folha pousou virada para cima, bem aos pés de Damon.

A irmã de Ethan a pegou, e sua jovem voz leu as palavras em voz alta com uma clareza perfeita.

— Cemitério Descanso Eterno... Pagamento pela sepultura... Para: Lucas Blackwood...

A voz dela foi sumindo enquanto ela percebia o que estava lendo.

A sala ficou completamente em silêncio.

Os olhos de Damon se fixaram em mim com uma intensidade que fez meu sangue gelar.

— Aria. — Ele disse lentamente, sua voz mortalmente calma. — Quem morreu?
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