Capítulo 2
As barras de prata queimaram minhas palmas como ácido enquanto eu tentava abrir a jaula com uma força desesperada. Cada toque fazia minha carne arder, mas eu não me importava. Nada mais importava além de alcançar meu filho.

Quando finalmente consegui criar uma abertura grande o suficiente para puxá-lo, minhas mãos estavam em frangalhos, com carne e ossos expostos. Mas a cena que me esperava tornou qualquer dor irrelevante.

Sangue. Havia tanto sangue acumulado sob a pequena jaula que parecia um lago carmesim. E no centro, estava meu pequeno menino, seu corpo pálido como a neve do inverno.

— Não, não, não... — Murmurei, recolhendo-o nos braços. Sua pele estava gelada contra meu peito. — Por favor, meu amor, acorde...

Encostei meu ouvido em seu peito, tentando desesperadamente ouvir qualquer sinal de vida. Silêncio.

Aquilo só podia ser um pesadelo. Naquela manhã, ele estava puxando minha saia, implorando para que eu fizesse suas panquecas favoritas. Seu riso brilhante havia preenchido nossa casa.

Agora, ele jazia imóvel nos meus braços, seus pequenos dedos já rígidos.

Eu tropecei pelos terrenos da alcateia, segurando seu corpo contra mim. Os membros da alcateia se afastavam ao me ver passar, seus rostos exibindo uma mistura de pena e medo. Ninguém ofereceu ajuda. Ninguém ousou.

A bruxa da alcateia vivia em uma cabana na borda do território. Eu invadi sua casa sem bater, meu filho ainda nos braços ensanguentados.

— Curandeira Morgan, por favor! — Implorei, colocando-o sobre a mesa de exame. — Você precisa salvá-lo!

A mulher idosa se aproximou lentamente, seus olhos experientes analisando a cena. Ela colocou uma mão gentil na testa do meu filho e verificou seu pulso no punho.

— Criança... — Disse ela suavemente.

— Conserte ele! — Eu gritei. — Use sua magia! Use o que for necessário!

— Aria. — Sua voz era firme, mas gentil. — Esse pequeno era fraco desde o nascimento. O envenenamento por prata, a perda de sangue... Não percebe? Ele já se foi há horas.

As palavras me atingiram como golpes físicos. Eu desabei de joelhos ao lado da mesa.

— Não, você está errada. Ele estava bem ontem. Ele estava rindo, brincando e...

— Sinto muito. — A curandeira Morgan cobriu meu filho com um pano branco limpo. — Não há mais nada que alguém possa fazer agora.

Eu sabia que ela estava certa. No fundo, eu soube no momento em que o vi naquela jaula. Mas admitir isso era como morrer junto com ele.

Passei três dias preparando o corpo do meu filho para ser enterrado. As tradições da alcateia ditavam que os membros da família realizassem os ritos funerários, mas eu estava completamente sozinha.

Damon nunca veio.

Eu cavei a cova sozinha no terreno da nossa família. Minhas mãos feridas se abriram novamente a cada pá cheia de terra. A dor física era uma distração bem-vinda para o vazio em meu peito.

Os outros membros da alcateia observavam de longe, mas não se aproximaram. Eles sussurravam entre si, mas eu ouvi o suficiente para entender.

— Amaldiçoada...

— Ela cavou a própria cova...

— Devia saber melhor do que ameaçar a amante de um Alfa...

Eu cravei a lápide com minhas próprias garras, escrevendo o nome dele e as datas de sua curta vida. Cinco anos. Meu precioso menino viveu apenas cinco anos.

Por duas semanas após o enterro, eu andei pela nossa casa como um fantasma. Eu não conseguia entrar no quarto dele, não suportava ver seus brinquedos ou suas roupas pequenas. Mal comi, mal dormi.

Todas as noites, eu revivia aqueles momentos finais na minha mente. Se ao menos eu tivesse sido mais forte. Se ao menos eu tivesse sido mais rápida ao abrir aquela jaula. Se ao menos eu nunca tivesse ameaçado os filhos de Serena.

A culpa estava me consumindo por dentro.

Então, sem aviso, Damon voltou.

Ele entrou pela porta da frente como se nada tivesse acontecido, deixando rastros de lama pelo chão que eu costumava manter impecável para nossa família.

— Aria! — Sua voz ecoou pela casa. — Chega dessa lamentação ridícula!

Eu levantei os olhos de onde estava sentada, enrolada na cadeira favorita do meu filho, ainda vestindo as mesmas roupas ensanguentadas de duas semanas atrás.

— Isso é algum tipo de encenação? — Os olhos de Damon estavam frios como aço no inverno. — Essa encenação patética de mãe enlutada?

Eu olhei para ele, incrédula.

— Uma encenação?

— Você mesma procurou por isso! — Ele apontou um dedo acusador para mim. — Se você não tivesse mandado alguém sequestrar aquelas duas pobres crianças e traumatizá-las, nada disso teria acontecido!

— Sequestrar? — A palavra saiu como um sussurro rouco. — Eu nunca...

— Não minta para mim! Ethan me contou tudo. Como seus capangas machucaram ele e a irmã, depois os trancaram naquele armário escuro. Ele tem apenas seis anos, Aria! O pobre menino não consegue mais dormir. Ele acorda gritando todas as noites!

Seis anos. O número ecoou na minha cabeça como um sino fúnebre.

Meu filho tinha cinco. Apenas cinco quando seu pai o matou.

— Você está falando do filho da Serena. — Eu disse devagar, a realização caindo sobre mim. — Você realmente acredita que eu machucaria crianças?

— Você os ameaçou! — O rosto de Damon ficou vermelho de raiva. — Você disse que me faria me arrepender! Achou que eu tinha esquecido?

Eu tentei falar, explicar, mas minha garganta estava completamente fechada. A dor e o choque tornaram impossível formar palavras.

— Serena é uma boa mulher. — Damon continuou, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado. — Gentil e doce, diferente de você. Não vou permitir que você a machuque mais!

Ele se virou para me encarar, sua autoridade de Alfa irradiando de cada poro.

— A partir de hoje, Serena e os filhotes dela vão morar nesta casa. Ethan pode ser mestiço, mas ainda é meu filho, meu herdeiro. Não vou deixá-lo sofrer nas ruas por causa do seu ciúme!

— Nosso filho está morto. — Eu sussurrei.

— O que você disse?

— Nosso filho está morto! — As palavras explodiram de mim como um grito primal. — Enquanto você brincava de família feliz com sua amante, seu verdadeiro filho morreu em agonia!

O rosto de Damon ficou vazio.

— Isso é impossível. Alguém teria me contado...

— Quem? Você desapareceu por duas semanas! Eu o enterrei sozinha!

Por um momento, a incerteza brilhou nos olhos dele. Então, sua expressão endureceu novamente.

— Você está mentindo. Tentando me manipular com culpa. Nosso filho está bem. Ele provavelmente está escondido porque tem medo de você.

A rejeição casual da morte do nosso filho quebrou algo dentro de mim.

— Sabe de uma coisa, Damon? Você está certo. Serena deve se mudar. Dê a ela o meu quarto também enquanto estiver nisso.

As pupilas dele se contraíram — Eu reconheci o sinal da raiva iminente.

— Não me teste, Aria! Qual Alfa não tem várias amantes? Eu fui mais fiel a você do que a maioria! Ter uma amante não significa nada!

— Uma amante? — Eu ri amargamente. — Isso deveria me fazer sentir grata?

— Você sempre será minha companheira principal. — Ele disse, como se estivesse me oferecendo um grande presente. — Serena nunca poderia te substituir. Ela sabe o lugar dela.

Eu pensei na jovem que fui há dez anos, quando nos conhecemos. Como os olhos de Damon brilhavam com adoração enquanto ele prometia me amar para sempre.

— Você jurou um voto. — Eu disse baixinho. — Disse que a lealdade era a natureza de um lobo.

— Eu fui leal! Ter uma Ômega do lado não é traição — é praticamente esperado!

Antes que eu pudesse responder, a porta da frente se abriu novamente. Serena entrou com o queixo abaixado submissamente, mas eu percebi o brilho de triunfo em seus olhos.

— Damon, desculpe interromper. — Ela disse com uma voz doce como mel. — Mas se Aria não nos quer aqui, talvez Ethan e eu devêssemos procurar outro lugar para ficar...

Ela carregava uma pequena bolsa de viagem em uma mão e segurava as mãos de seus filhotes com a outra. Claramente, ela estava ouvindo atrás da porta, esperando o momento perfeito para entrar.

— De jeito nenhum! — Damon caminhou até ela e pegou a bolsa. — Esta é sua casa agora. Ninguém vai te expulsar.

O filho de Serena — Ethan — correu imediatamente até a mesa de centro onde eu guardava uma pequena caixa de madeira. Antes que eu pudesse reagir, ele a abriu e derrubou o conteúdo no chão.

Os dentes de leite do meu filho se espalharam pelo piso de madeira como estrelas caídas.

— Não toque nisso! — Eu me joguei para frente, desesperada para proteger as únicas lembranças físicas que me restavam.

Mas já era tarde. O sapato de Ethan já havia esmagado um dos pequenos dentes em pó.

As duas crianças começaram a chorar imediatamente. Serena pegou seu filho com facilidade, lágrimas falsas escorrendo pelo rosto.

— Eu sei que você me odeia. — Ela choramingou para Damon. — Mas, por favor, não deixe ela machucar meu bebê. Ele já passou por tanta coisa...

— Damon, ela tentou agarrar Ethan! — A voz de Serena subiu até um tom histérico. — Bem na sua frente! O que ela vai fazer quando você não estiver aqui para nos proteger?

Eu ainda estava de joelhos, recolhendo freneticamente os dentes restantes. Um deles havia desaparecido completamente, reduzido a pó sob o pé de uma criança de seis anos.

A última lembrança física do meu filho. Perdida.

Damon foi até a parede onde ele guardava suas ferramentas de disciplina. O chicote cravejado de prata era tradicionalmente usado apenas em lobos renegados ou criminosos.

Nunca em uma companheira.

Nunca na mãe do seu filho.

— Você precisa aprender seu lugar. — Ele disse, sua voz mortalmente calma. — Fui muito indulgente com você. Muito tolerante.

O primeiro golpe atingiu meu rosto, cortando minha pele até o osso. A prata queimava como fogo líquido, garantindo que o ferimento nunca cicatrizasse completamente.

O segundo golpe atingiu meu ombro, rasgando tecido e carne.

— É isso que acontece quando você ameaça minha família. — Rosnou Damon, levantando o chicote novamente. — Lembre-se dessa lição, Aria. Não haverá uma próxima vez.
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