Celina Alves Descobrimos o hospital em que ele estava internado e partimos para lá sem pensar duas vezes. Meu coração já batia acelerado desde o momento em que soube. Mas a aflição só aumentava. Chegando lá, fomos direto ao balcão de informações. A atendente parecia não saber de nada. Eu quase tive um colapso. — Moça, olha aí outra vez, por favor... É um paciente que deu entrada no hospital por ter inalado muita fumaça. O nome dele é Lorenzo! — minha voz já beirava o desespero. Ela digitou, olhou o sistema, demorou... e então finalmente respondeu: — Ah, sim. Encontrei. Ele está na UTI. O médico responsável é o doutor Elias, vou encaminhá-los para ele. Até que enfim! Fomos para onde ela indicou, pegamos o elevador e andamos por corredores intermináveis. O hospital era enorme. Tudo parecia frio, silencioso e sem vida. Como se o tempo ali estivesse congelado. — Por que um hospital precisa ser tão grande? — murmurei, apertando o passo, como se quanto mais rápido eu andasse, mais rá
Celina Alves Lorenzo ainda se encontra no hospital, pois ele havia piorado. Sua respiração ainda estava comprometida, e respirar era uma grande dificuldade para ele. Então, o doutor Elias achou melhor que ele permanecesse internado. Era o melhor a se fazer no caso dele, pois ele só não morreu por um milagre. Lorenzo poderia estar morto. Demoraram muito para socorrê-lo, e a grande sorte foi que o fogo não chegou até ele. No entanto, ele inalou uma grande quantidade de fumaça, prejudicando completamente suas vias respiratórias. Aos poucos, ele vai superar. Mas nunca mais será cem por cento. Ainda assim, poderá ter uma rotina normal — exceto no que envolve esforço físico, isso foi bem explicado pelo doutor. Após dias de internação, finalmente ele terá alta. Ficou decidido que Lorenzo ficará na casa da mãe. E mesmo ele tendo me dito que me amava quando acordou… tem me evitado a todo custo. Acredito que a culpa que ele sente é tão grande que mal consegue me olhar nos olhos. Cheguei
Celina Alves Chegamos. E minha sogra veio correndo, ao encontro do “bebê dela”. É assim que ela o chama. Agora vê se pode… Um homem de 30 anos… sendo chamado de bebê. Mas, para as mães, os filhos sempre serão seus bebês. — Meu bebê, que maravilha que você está em casa! Estava com muita saudade de você, coisa linda da mamãe! — Dona Elizabeth diz, indo abraçar Lorenzo. Heitor e eu estávamos a ponto de gargalhar da cara que o Lorenzo fazia. — Mãe, a senhora me viu ontem! Como já está com saudade? E para de me chamar de bebê na frente das pessoas... — ele responde, constrangido. — Meu filho, não é na frente de estranhos. É do seu amigo, que sempre me viu te chamando assim, e da sua mulher. Ninguém é estranho! Elizabeth me olhava, pois sabia que o filho tinha surtado de novo, só que agora a culpa era dela. Ele nem ligou e entrou feito um furacão — sei que estava doido para ver o filho, que estava no quarto do avô. Só ouvi o grito de Luan: — Papai, você voltou! Olha, vovô, o pa
Tamara Borralho Sou linda e gostosa. Sim, tenho que me achar assim, pois sou gordinha. Sempre fui. E, por isso, era muito zoada na escola. Era horrível ouvir todos me chamando por apelidos ofensivos. Quando me tornei adolescente, tudo piorou. As garotas da escola riam de mim, e quando sabiam que eu gostava de algum garoto, faziam questão de me humilhar: — Se enxerga, ô baleia! Você acha mesmo que algum garoto vai querer ficar com uma pessoa como você? Aquilo me matava por dentro. Eu ia pra casa chorando, com o coração em pedaços. Meus pais, no entanto, sempre me diziam que eu era a garota mais linda do mundo. Me ensinavam que eu não deveria ligar para a crueldade dos outros. E foi isso que eu fiz. Quando cresci, me aceitei do jeito que sou: gorda e maravilhosa. Quem não gostar de mim, que se foda! Hoje, moro no Rio de Janeiro — essa cidade linda que eu tanto amo —, mas passei um tempo em Londres fazendo um curso. Fiz faculdade de turismo, mas quero ir além. Quero explorar o m
Lorenzo Ferraz Minha mãe me perguntou se eu queria perdê-la. Celina. Minha mulher, minha luz, minha perdição. Fiquei em silêncio. Não foi por desprezo, nem por indecisão. Foi por dor. Uma dor que não me larga, que não permite que eu a toque sem me sentir um monstro. A verdade? Eu não quero perdê-la. Nunca quis. Mas o homem que sou agora... não é o homem que ela merece. Talvez eu precise de uma clínica. De um exorcismo. De um lugar onde eu possa arrancar essa maldita culpa do meu peito. Por ter deixado Celina criar nosso filho sozinha, por ter me afastado dela quando ela mais precisou. Só que antes de buscar ajuda, antes de me curar... eu quero pegar Gabrielle. Ela sumiu, escorregou pelos meus dedos como fumaça. Mas não desapareceu da minha mente. Ela ainda está viva dentro da minha raiva. Celina entrou no quarto de mansinho. Como no hospital, quando eu estava desmoronando e ela simplesmente se deitou ao meu lado. Ela não falou nada. Só encostou os lábios nos meus, me beijando c
Lorenzo Ferraz O dia amanheceu frio, mas o calor do corpo de Celina ao meu lado aquecia mais do que qualquer cobertor. Beijei sua testa com cuidado, sem querer acordá-la. O rosto sereno dela enquanto dormia era uma das poucas coisas que ainda me dava paz. Levantei da cama devagar e fui direto para o banheiro. Escovei os dentes, lavei o rosto e encarei meu reflexo no espelho. Meus olhos estavam fundos, exaustos. A culpa me corroía por dentro. Desci as escadas com passos pesados e fui direto para a cozinha, onde minha mãe já estava acordada, como sempre. — Oi, mamãe. Bom dia! — murmurei, tentando forçar um sorriso. — Bom dia, meu amor. — Ela me respondeu com a voz doce. — Como foi sua noite? — Atormentada. Como sempre. Pesadelos, arrependimento, dor... — Sentei à mesa e apoiei os cotovelos nela, escondendo o rosto entre as mãos. — Mãe, preciso que me prometa algo. Não diga à Celina para onde vou, por favor. Eu preciso ficar um tempo longe. Preciso tirar essa culpa do meu coração ant
Celina Alves Acordei com o sol já se escondendo no horizonte. O quarto estava silencioso, e a cama ainda guardava o calor dos nossos corpos. A lembrança da manhã me atingiu como uma maré intensa: Lorenzo e eu... juntos, como antes. Como se nada tivesse nos separado. Mas algo estava errado. Estiquei o braço e senti o espaço ao meu lado vazio. Nenhum som de chuveiro, nenhuma voz vinda da cozinha. Apenas o silêncio. Um silêncio incômodo. Foi então que vi o papel sobre o travesseiro. Meus dedos trêmulos o alcançaram, e meu coração disparou antes mesmo de ler. “Meu anjo, me perdoe, mas eu terei que ir... Logo voltarei para você, minha doce Celina. Eu não posso ficar do jeito que estou, infeliz e me sentindo culpado por tudo que te fiz. Eu não ia te falar isso, mas eu precisei para você não me odiar. Por favor, meu amor, não me odeie. Eu te amo demais!” Minhas pernas fraquejaram. Mas continuei lendo. Cada palavra pesava como uma sentença. “Só que não durmo mais e você não sabe
Celina Alves — Olha o que vocês fizeram com a minha boca e meu cabelo, suas loucas! — Gabrielle gritou, tentando arrumar as madeixas desgrenhadas enquanto cuspia sangue no chão. O rosto dela já estava quase irreconhecível, inchado, marcado pela raiva que Tamara e eu descontamos com gosto. — Você nunca mais vai fazer mal a ninguém, sua vadia — respondi com frieza. — E não vai abrir o bico pra ninguém, me ouviu bem? Se alguém perguntar, foi o seu ex, aquele maluco ciumento. Você sabe exatamente de quem estou falando... Tamara se aproximou, ainda ofegante, e apontou o dedo na cara dela. — Vamos, Celina. Deixa essa cobra apodrecer no chão. Logo o médico vem socorrê-la. Vou chamar uma ambulância... Mas se você ousar mexer de novo com a família da Celina, juro por tudo que é sagrado, eu vou atrás de você onde quer que esteja. E, dessa vez, não vou parar. Eu sabia que tínhamos ultrapassado um limite — mas não me arrependia. Se Lorenzo estivesse no meu lugar, Gabrielle estaria morta. Ele