Olivia entrou em casa com passos lentos, fechando a porta atrás de si com um leve estalo. O silêncio do lugar a envolveu, e por um momento tudo pareceu mais frio, mais vazio. Encostou as costas na madeira da porta e suspirou, fechando os olhos. A imagem dele ainda estava ali, tão vívida — os olhos castanhos escuros analisando tudo, o uniforme impecável, a postura rígida, como se nem por um segundo ele se permitisse relaxar. Ela precisava vê-lo, e ver que ele estava bem trouxe um alívio que ela não queria admitir. Mas havia algo mais… aquela necessidade tola de provocá-lo, de chamar seu nome apenas para observar a leve tensão que surgia na mandíbula dele, como se estivesse sempre tentando manter o controle. Foi até a cozinha, abriu a geladeira sem fome alguma, apenas tentando se ocupar. Acabou pegando uma garrafa de água e se apoiou na bancada de mármore. O coração ainda batia um pouco mais rápido do que deveria. Ele a trouxe até em casa. "Não é seguro andar sozinha." Essas
Olivia saiu da sala do pai com a sensação de que o peso sobre seus ombros havia dobrado. O fato de Salvatore estar agora envolvido na investigação sobre o assalto, e ainda mais perto dela, não parecia algo simples de se lidar. A ideia de que ele poderia estar em sua vida de uma maneira tão direta mexia com ela de uma forma que ela não queria admitir, mas não podia ignorar. Ela andou pelo corredor com passos rápidos, tentando processar tudo o que o general acabara de dizer. O cheiro de café recém-passado no refeitório passou por ela, mas ela não parou. Não agora. O que ela queria era encontrar Salvatore e entender como isso tudo iria afetá-los. Quando ela chegou ao pátio da base, a visão do soldado não demorou a se fazer presente. Ele estava ali, como sempre, com sua postura impecável, os olhos observando seus soldados em treinamento. Seus músculos se moviam com facilidade enquanto ele corrigia a posição de um deles, sua voz firme, mas não áspera. Era uma cena quase rotineira, mas p
Salvatore entrou na sala reservada para investigações dentro da base. As paredes eram frias, de concreto liso, com uma mesa no centro coberta por pastas, relatórios e imagens do local do assalto. Ele havia solicitado tudo assim que o general deu a ordem. Fechou a porta atrás de si, a expressão ainda mais rígida que o habitual. Estava sozinho. Era como ele preferia trabalhar. Puxou uma das cadeiras, sentou-se e começou a revisar os relatórios do ataque à casa de Olivia. Fotos mostravam a porta arrombada, a janela do quarto quebrada, marcas de pegadas próximas ao muro dos fundos. Havia sido uma ação rápida, silenciosa… e claramente profissional. — Nada foi levado — ele murmurou, lendo o relatório de um dos agentes que estivera no local. — Nenhum objeto de valor, nenhum sinal de roubo comum. Só destruição. Puxou outra pasta. A lista de pessoas que sabiam da localização atual de Olivia era curta. Apenas o general, alguns oficiais de alto escalão e uma equipe de segurança restrita. El
Salvatore saiu do gabinete do general sem dizer mais uma palavra. Seus passos ecoavam pelo corredor com a mesma precisão que sua mente trabalhava — fria, focada, implacável. Aquilo não era apenas uma missão, não mais. Era algo pessoal, embora ele ainda se recusasse a admitir. Seguiu direto para o alojamento onde ficavam armazenadas as fichas dos soldados e registros internos. Precisava de nomes. Rostos. Pistas. Fechou a porta atrás de si e acendeu a luminária sobre a mesa. O ar ali era empoeirado e o silêncio quase absoluto, exceto pelo som dos papéis sendo folheados. Começou a vasculhar arquivos antigos, cruzando nomes com registros de turnos, autorizações de acesso, câmeras de segurança, tudo que pudesse ligar alguém da base a Mikhail. Horas se passaram. A luz do dia já se dissolvia em sombras, e seus olhos estavam ardendo. Até que um nome apareceu com mais frequência do que deveria. Um sargento: Viktor Marchetti. A ficha estava limpa demais. Boa conduta, sem faltas, mas… aces
Na manhã seguinte, Olivia acordou com o coração inquieto, como se algo dentro dela estivesse se preparando para desabar. O dia amanhecia com uma calma aparente, mas o silêncio da casa parecia mais denso que o normal. Desde que soube que Salvatore estava investigando o assalto, ela não conseguia parar de pensar nele — em como estaria lidando com isso, em como ele levava tudo tão a sério, como se o mundo estivesse sempre pendendo entre o dever e a guerra. Vestiu-se devagar, prendeu o cabelo com pressa e caminhou até a cozinha, onde o café já estava sendo preparado por uma das funcionárias da casa. Agradeceu com um aceno e pegou a caneca, mas não sentou-se. Caminhou até a janela e observou o portão principal lá fora. Parte de si esperava vê-lo ali, parado como da última vez, rígido e silencioso… mas não havia ninguém. Sentia-se inútil, um peso no meio da tempestade. Ela queria ajudar, queria fazer parte de algo, não apenas ser protegida como uma peça frágil. Mas seu pai já havia deixad
Salvatore observava o movimento ao redor com atenção cirúrgica. Estava de volta às ruas onde o assalto havia acontecido, mas dessa vez, com olhos diferentes. Já não era apenas um soldado cumprindo ordens — era um predador em silêncio, caçando cada detalhe que pudesse lhe dar respostas. A área parecia tranquila, mas ele sabia que a quietude muitas vezes escondia o caos. Parou diante de um beco estreito, onde uma das câmeras da base havia captado o vulto de um homem fugindo após o ataque. A imagem era borrada, quase inútil, mas a altura, o porte físico… tudo batia com Viktor. “Você queria vingança, não é?” — pensou, os olhos escuros se estreitando. “Mas foi burro o suficiente pra deixar rastros.” Seguiu até uma antiga oficina mecânica, uma das poucas próximas dali que ainda funcionava. Segundo o levantamento, Viktor costumava frequentar o local em horários estranhos, principalmente à noite. Salvatore entrou com passos firmes, uniforme impecável, olhar firme como aço. O dono da ofic
O vento balançava levemente as cortinas da sala quando Olivia se sentou no sofá com um livro nas mãos, mas os olhos não liam nenhuma palavra. A cabeça estava distante, pesada. A sensação de estar sendo observada persistia, mesmo dentro de casa. Ela tentava ignorar, tentava se convencer de que era apenas paranoia — fruto dos últimos acontecimentos — mas a inquietação não passava. Passou os dedos pelos cabelos, respirando fundo. — Você está perdendo o controle, Olivia… — murmurou. Desde que voltara da base, não havia sinal de Salvatore. Nenhuma mensagem, nenhum recado, nada. E isso a consumia mais do que gostaria de admitir. Ela sabia que ele era dedicado, que devia estar imerso em alguma missão, mas... custava mandar um aviso? Um "está tudo sob controle"? Um "estou vivo"? Levantou-se com irritação e foi até a janela. Observou o movimento da rua — tranquila como sempre — mas seus olhos estavam fixos em nada. Queria vê-lo. Queria ouvir sua voz. De repente, o som agudo do interf
O general Riccardo Fiore estava na base militar desde a noite anterior. As luzes do gabinete ainda estavam acesas quando o relógio marcava 6h47 da manhã. Ele terminava de revisar relatórios sobre os últimos avanços na investigação do assalto, com as sobrancelhas tensas e o olhar fixo no papel, quando o telefone da base tocou — o toque direto, usado apenas em casos urgentes. — General Fiore — atendeu com firmeza. A voz do soldado do outro lado estava carregada de urgência: — Senhor… recebemos uma chamada da equipe de vigilância enviada à sua residência. Dois seguranças foram encontrados mortos. A senhorita Olivia… ela não está na casa. Tudo indica que foi levada. Por um segundo, o tempo pareceu parar. Riccardo apertou o telefone contra o ouvido, os nós dos dedos esbranquiçando. — Tem certeza disso? — sua voz saiu baixa, mas cheia de uma tensão contida. — Sim, senhor. Já lacramos a área e iniciamos a varredura. Mas… havia sinais claros de retirada forçada. Não houve tempo para re