Daphne
Fiquei exatamente uma hora falando sem parar, contando todo o meu passado como um passeio no trem, com a paisagem de ruína e destruição. Foi inevitável não sentir meu peito arder com aquelas lembranças. Eu tentei ter um esforço sobre-humano para não chorar outra vez.
Aquilo borraria minha maquiagem e eu não teria tempo para refazê-la. Quando a entrevista terminou, a repórter parada à minha frente se debruçava em lágrimas.
— Sinto muito por tudo o que aconteceu com você – ela disse com a voz embargada – mas essas acusações são muito sérias. Estamos falando de Ramon, o homem mais poderoso dessa cidade.
— Preciso ter certeza de que você vai publicar essa matéria da maneira como relatei – estiquei o braço e agarrei a mão dela – a minha segurança e a do meu filho estão em suas mãos.
A repórter abaixou o olhar para nossas mãos, a minha sobre a dela e seu semblante se modificou. Ela não se afastou. Limpou o rosto com um lenço, sugou o ar fazendo um barulho comum e depois estufou