No Calor da Paixão
No Calor da Paixão
Por: Jaque Joy
Lembranças

A vida é a dádiva mais preciosa que temos. Um verdadeiro tesouro cujo não temos total controle. Que no decorrer do tempo escorrega por entre os dedos e não há nada que se possa fazer em relação a isso. A morte é o fim de tudo.

Você está no quarto do hospital aos prantos, pois acabara de perder a pessoa mais importante da sua vida, por mais que chore, grite, se desespere ela jamais voltará

— Por que você me deixou, mãezinha? Você prometeu que jamais me deixaria

Seu desespero é tanto que te faz debruçar sobre o corpo dela. Sua alma está dilacerada, o chão se abriu debaixo dos seus pés. Uma parte de você também morreu ali

— Volta, por favor, mãe, não me deixe sozinha neste mundo. Não estou preparada para viver sem você

— Vem comigo, Mayly, vamos lá pra fora respirar um pouco — Babby fala te puxando de cima do corpo de sua mãe

— Me deixe em paz, Babby. Minha vida acabou

— Não diga isso, amiga — Babby fala com grande pesar na voz — Você precisa ser forte, Mayly

Ela te abraça guiando pelo corredor do hospital, do lado de fora você chora profundamente nos braços dela. Thomas aparece logo em seguida

— Amor leva Mayly para casa. Vou cuidar do… — Thomas pausa por um momento olhando para você e então continua. — Eu vou cuidar de tudo, Mayly, não se preocupa com nada irmãzinha

Thomas e Babby são seus melhores amigos, eles entraram na sua vida há pouco mais de um mês e desde então vocês se tornaram inseparáveis. Ele te trata como uma irmã caçula.

— Eu não tenho mais ninguém, Thomas, estou sozinha neste mundo

— Não diga isso pequena, eu estou aqui, Babby também, nós seremos sua família a partir de hoje. Eu prometo que nunca vou te desamparar

Apesar das palavras dele, você continua chorando

— Estou devastada. O que eu vou fazer da minha vida agora? Dói tanto… é uma dor que não cabe no peito, como vou superar a perda da minha mãezinha?

— Mayly, eu sei que é muito difícil tudo que você está passando. Perder um ente querido não é nada fácil, pois você terá que conviver com a dor da perda e a saudade constante. Amiga, tudo que posso dizer é: viva um dia de cada vez

— Babby…

— Vamos pra casa, você precisa descansar um pouco. Thomas cuidará de tudo

Você vai com Babby completamente desolada. Thomas fica para cuidar de todos os trâmites legais. Ao chegar em casa você vai direto para o quarto, deitar, mas não consegue dormir. Tudo é uma tortura, o cheiro de sua mãe está em cada parte da pequena casa composta por três cômodos

— Mayly, eu fiz um chá, vai te ajudar a dormir um pouco. — Babby fala te entregando a xícara

— Obrigada amiga, mas eu não quero nada. Eu quero dormir e nunca mais acordar

O choro volta com tudo, você chora por quase duas horas ininterruptas. Babby fica em pé ao lado da cama com a cabeça baixa, as lágrimas caindo dos olhos dela silenciosamente. Depois de um tempo na mesma posição agarrada ao travesseiro o cansaço te vence, mesmo dormindo as lágrimas continuam rolando em seu rosto

Ao anoitecer, Thomas chega em casa, seus olhos estão profundamente vermelhos. Babby senta ao lado do namorado segurando sua mão

— Como ela está, amor?

— Mayly… chorou a tarde toda, Thomas. Só dormiu porque não aguentou a exaustão

— Ela vai precisar de nós mais do que nunca. Eu prometi para mãe dela que nunca a deixaria sozinha

— Nós dois vamos cumprir essa promessa, meu amor. Passe o tempo que passar sempre estaremos juntos como uma verdadeira família

Há um minuto de silêncio em seguida Babby pergunta:

— Quando será o velório, Thomas?

— Amanhã a tarde, amor. — Ele fala suspirando profundamente

Os dois passam a noite te fazendo companhia. Seus sonhos são agitados a noite toda intercalados de gritos e choro.

Como um piscar de olhos à tarde chega mais rápido que um trem-bala, você se vê diante do caixão de sua mãe sendo jogada na mais profunda das covas. Seu mundo parece ter parado, a dor é esmagadora dentro do peito. As lágrimas parecem nunca ter fim, você chora incessantemente com todas as suas forças

— Por favor, não jogue terra nela. Minha mãezinha não vai conseguir respirar. — Você fala suplicando para o coveiro que continua jogando a terra por cima do caixão

— Pequena, você tem que ser forte agora. — Thomas te abraça carinhosamente

— Eu não sou forte o suficiente, Thomas. Pede ele pra parar, não deixa fazer isso com minha mãezinha. — Você grita. — Mamãe, você prometeu… você prometeu que não ia desistir…

Babby também se junta a Thomas te acalentando. Neste momento não há palavras suficientes para tirar toda dor que habita em seu peito.

Depois do velório, Thomas e Babby decidem levar você para casa deles. Você passa o mês inteiro dentro do quarto chorando e dormindo. Todas as investidas deles para te fazer sair do quarto são falhas. Você perdeu a vontade de viver, nada mais faz sentido. Sempre que fecha os olhos, a mesma cena vem em sua mente, o quarto de hospital, a promessa feita, o último suspiro de sua mãe.

Numa tarde fria e chuvosa, você sai da cama de pijama e descalça. Não tem ninguém no apartamento, com os olhos marejados você sai pela porta com o intuito de estar perto dela. Caminhando por horas com o corpo todo molhado pela violenta chuva que cai intensamente

Horas depois você está no mesmo lugar onde enterrara sua mãe

— Oi, mãezinha. Sou eu, Mayly. — Você deita em cima do túmulo — eu vim ficar com você

Seu ombro balança para cima e para baixo acompanhando seu choro

— Não posso mais seguir sem você… eu não consigo… eu não quero, mamãe.

Você passa a tarde toda chorando profundamente ao anoitecer o cansaço te abate te fazendo dormir exaustivamente e então acontece. Sua mãe está de frente para você

— Mayly, o que você está fazendo?

— É você mesma, mãe?

— O seu lugar não é aqui, filha

— Eu não tenho forças para continuar sem você, mãezinha

— Você me prometeu, querida. Precisa cumprir a promessa

— Você também prometeu nunca me deixar

— Mayly, então é isso? Você mentiu para mim?

— Eu jamais mentiria para você, mamãe

Sua mãe alisa seu rosto com carinho limpando suas lágrimas

— Então vai, meu amor! Cumpra com sua promessa, não me desaponte. Eu sempre acreditei no seu potencial, você é capaz, Mayly querida, nunca duvidei disso.

Um barulho forte de trovão te desperta do sono. Você levanta olhando por toda parte, mas não vê ninguém além da claridade dos relâmpagos riscando o céu

— Foi somente um sonho, mas parecia tão real. Mãezinha…

Novamente você tem uma crise de choro, mas logo se lembra do sonho. Determinada, você para de chorar limpando o rosto

— Eu vou cumprir minha promessa. Aconteça o que acontecer, passe o que passar, eu te juro mãe, não vou desistir…

(…)

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo