Andreas Lykaios
Eu estava arrasado. A dor que aquela criança humana sentiu, eu também senti, como se meu coração tivesse sido destruído. É impressionante como a Deusa da Lua consegue ligar duas pessoas a ponto de uma sentir a dor da outra. Eu estava ali, de mãos atadas, sem poder fazer nada para tirar a dor dela. Mesmo sem querer, a força que nos unia era muito grande, e eu teria que arrumar um jeito de quebrar esse laço, romper essa conexão antes que ela me levasse à perdição.
Mas agora, eu precisava descobrir quem foram os lobos que atacaram aquela pequena criança e sua família, causando a morte de sua mãe. Juntei meus melhores guerreiros e mandei vasculhar toda a cidade. Mesmo com a densa vegetação, para nós isso não era problema — podemos sentir o cheiro e a presença de outro lobo a quilômetros de distância. Mas os lobos que atacaram Annabelle eram diferentes: desconhecidos, sem cheiro, sem presença. Eu, o rei dos lycans, não consegui sentir nenhum traço deles. Algo estava errado — havia um feitiço muito poderoso envolvido. Provavelmente, alguma bruxa usou seus poderes para atacar aquela criança.
Não encontramos nada. Nenhum vestígio. Era como se aqueles lobos tivessem desaparecido ou nunca tivessem existido. Corri frustrado por toda a mata em minha forma lupina, mas não havia sinal algum. O que mais me afligia, porém, era o olhar de medo nos olhos da minha pequena humana quando me viu naquela forma. Luke, meu lobo, chorava dentro de mim e, em desespero, se escondeu no fundo da minha mente.
A humana foi embora da cidade com sua família. Voltaram para o seu país de origem e ninguém nunca mais ouviu falar deles. Sua presença, que antes eu sentia, desapareceu. Mas mesmo assim, sentia a necessidade de encontrá-la. Uma força me arrastava, me empurrava para ir até ela. Mas eu sou um rei. Eu posso me controlar.
Conforme o tempo ia passando, a dor em meu peito só aumentava. Eu sentia suas emoções, e com os anos se acumulando e ela nunca mais voltando, minha alcateia parecia sempre triste e abatida. Toda época do ano em que ela costumava nos visitar era lembrada com melancolia. E assim, enfrentei os anos com o peito doendo e meu lobo adormecido.
Quando a humana não apareceu mais, meu lobo se trancou em minha mente e adormeceu de tristeza. Isso me deixou fraco. Eu poderia ser derrotado por qualquer alfa que me desafiasse. Mas escondi isso e deixei meu beta na linha de frente para resolver qualquer problema que surgisse.
Tamires me visitava com frequência, desesperada para se tornar minha rainha. Mas eu não podia aceitar enquanto não rejeitasse minha verdadeira companheira, já que o nosso vínculo havia sido formado.
Após sete anos, o inesperado aconteceu. E foi aí que descobri o que era dor de verdade.
Eu corria pela floresta em minha forma lupina. Mesmo transformado, eu não tinha mais a força que meu lobo me dava — era como se eu fosse apenas um lobo comum. Mas os outros não precisavam saber disso. Mantive esse segredo, até perceber uma atividade suspeita dentro da alcateia.
Uma jovem loba, todas as tardes, corria para a floresta, sempre para o mesmo lugar. Decidi segui-la. Não podia permitir nenhum traidor no meu território. Talvez ela estivesse tramando algo contra mim. Corri pela mata, mantendo distância para que ela não me notasse.
Para minha surpresa, a loba se encontrava com um humano. Os dois se beijavam em uma cabana escondida no meio da floresta. Fiquei observando, escondido, até eles terminarem o que estavam fazendo. Eu não podia enfrentá-los naquele momento, ou eles perceberiam que eu não tinha mais tanto poder. Se aquele humano fosse um caçador treinado, poderia me matar facilmente. Preferi ficar em silêncio e descobrir a verdadeira identidade dele. Depois, mandaria meu beta capturá-los para que fossem punidos.
— Majestade, tem certeza de que quer fazer isso? E se a Deusa da Lua aparecer de novo e nos castigar? — perguntou Jonas, meu beta.
— Jonas, não seja medroso. Se a Deusa da Lua aparecer de novo — coisa que jamais acontecerá — eu assumo toda a responsabilidade. Eu serei castigado, não você nem qualquer outro lobo da nossa alcateia — falei, firme, antes de entrar na casa da alcateia, enquanto Jonas saía para investigar e trazer a loba e seu companheiro humano.
Se havia uma coisa em que meu beta era bom, era em rastrear. Era o lobo com o melhor faro que já conheci. Não demorou muito para ele descobrir quem era a loba e o homem com quem ela estava. Mas isso me custaria muito caro. Talvez fosse o começo do meu fim. O início do abismo.
Mas eu era orgulhoso demais, egoísta demais para recuar, para aceitar o destino. Como rei, eu achava que podia mudar tudo, fazer tudo do meu jeito. Sempre tive todos aos meus pés. Desde que nasci, fui treinado e educado para ser rei. Me ensinaram que todos eram inferiores a mim. Mas ninguém me contou que isso teria um preço — uma dor imensa, e quase a extinção dos lobos.
Sem hesitar, mandei meu beta trazer a jovem loba e seu companheiro humano para serem julgados em praça pública. Ou melhor, executados, como sempre fiz, e como continuaria fazendo. Porque quando chegasse a minha vez, eu rejeitaria aquela humana. Os lobos estavam aflitos. Eu via o medo em seus olhos — não de mim, mas do que eu estava prestes a fazer.
Logo, Jonas trouxe a loba arrastada e o humano escoltado por soldados da alcateia. Quando olhei para ela, lembrei: era a irmã do meu delta — aquele que eu matei há dezoito anos e que, por isso, condenei ela a viver como uma ômega.