༺ Isabela Martins ༻
Observo, da varanda dessa maldita casa de praia, as ondas do mar. É o único lugar onde ainda mantenho algum resquício de sanidade, longe das agressões e da tortura psicológica que enfrento diariamente nas mãos de Diogo.
Fecho os olhos, agarrando-me ao último fio de esperança de que, em breve, esse inferno acabe e eu recupere minha vida.
Alguns meses atrás, eu estava realizando meu sonho de viver da minha arte. Deixei minha pequena cidade, me despedi da família e fui embora com o coração cheio de expectativa. Jamais imaginei que encontraria no caminho um monstro obcecado, doente, com essa ideia distorcida de amor.
Limpo as lágrimas e tento me recompor, pensando:
"Só queria que tudo voltasse a ser como antes. Mas acho que isso nunca mais vai acontecer."
Volto à realidade quando sinto as mãos dele envolvendo minha cintura. Ele cheira meu pescoço e murmura:
— Já falei que não gosto que saia da cama sem a minha permissão, Isabel.
É assim que ele me chama quando está nesse surto doentio. Apenas o empurro com as mãos, sentindo repulsa.
— Saia de perto de mim! Quando vai entender que não é meu dono? Eu não gosto de você. Te odeio! Me deixe em paz, seu monstro doente...
Ele me acerta um tapa com força, segura meu queixo e me obriga a encará-lo. Seus olhos azuis estão escurecidos, intensos. Um calafrio percorre meu corpo.
— Já avisei que você é minha. Pertence a mim. Não preciso que goste de mim ou que me queira. Você e eu estamos ligados para sempre, querendo ou não. Só sai de mim morta... ou se eu morrer antes.
Diogo me empurra sobre a cama, rasga minha camisola e se deita por cima de mim. Me violenta mais uma vez.
Não tenho forças para reagir. E mesmo que tivesse, ele é muito mais forte. Só me resta fechar os olhos e esperar que acabe, que ele se canse e me deixe com meus próprios pensamentos. Sozinha. Longe dele.
Cada vez que o rejeito, ele se torna mais possessivo, mais violento. Mas eu não posso fingir sentimentos que não existem. Esse amor vive apenas na mente doentia dele.
Quando finalmente termina, se levanta, veste sua calça de moletom e me encara. Eu me cubro com o lençol, imóvel, encarando-o com desprezo.
— Isso é pra você aprender a me respeitar. Entenda que eu sou o dono do seu corpo. E de você. Eu te amo, Isabel. E se você não for minha, não será de mais ninguém.
— Você é um louco! Mas eu vou lutar pra sair daqui, seu nojento!
Ele ri. Uma risada baixa, sarcástica e cruel.
— Boa sorte... Vai precisar. Não sei se percebeu, mas está cercada por água. Daqui, só sai se eu quiser.
— Desgraçado... Você pode me prender pelo tempo que quiser. Mas jamais vai arrancar um sentimento de mim. — Cuspo em sua direção, com nojo.
Ele dá um soco na parede, furioso, me fuzila com o olhar e sai do quarto, batendo a porta com força.
Tenho certeza de que o machuco cada vez que digo essas verdades. Mas não me importo. Tudo o que me resta é sonhar com a liberdade. Imaginar o dia em que conseguirei me livrar desse psicopata que o destino colocou no meu caminho.
As lembranças da minha família voltam como um soco no estômago. A saudade me sufoca. E choro. Não consigo evitar. Me pergunto: por que eu? Só queria ter uma vida melhor, e acabei presa na armadilha de um homem louco que cismou que me ama.
Solto um suspiro, seco as lágrimas e vou até o banheiro. Preciso tirar esse cheiro de mim. Debaixo do chuveiro, sinto-me suja. Mas, mais do que isso, me sinto invadida.
Penso: Não vou desistir. Eu vou escapar. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Sempre acreditei que, no fim do túnel, há uma luz. E eu vou encontrá-la. Mesmo que precise lutar com unhas e dentes para sair desse pesadelo.