“Algumas dores não quebram. Elas transformam.”
O refeitório estava mais barulhento que o habitual. Risadas, talheres, passos apressados, o som da televisão ao fundo transmitindo um noticiário abafado. Sophia entrou segurando sua bandeja com o cuidado de sempre — os olhos baixos, os ombros curvados, a presença quase imperceptível.
Passou por algumas mesas. Ninguém a cumprimentou. Ninguém notou.
Como sempre.
Ela se dirigia ao canto mais afastado, onde costumava se sentar sozinha, até que uma explosão de vozes e palmas desviou sua atenção. A cabeça ergueu por instinto — e foi nesse instante que seu mundo parou.
Edward Mason, impecável em seu uniforme, estava de pé ao centro do refeitório. Ao lado dele, Elizabeth Scoot, sua prima, a filha perfeita de Pierre. Médica, altiva, sorrindo como se estivesse no palco de uma premiação.
E então... ele a puxou para um beijo.
Longo. Público. Destruidor.
Sophia ficou imóvel, os olhos arregalados. A bandeja tremeu entre os dedos, mas ela não a soltou. Todos no refeitório viraram-se. Alguns sussurraram. Outros riram. E uma parte — uma parte cruel — apenas observou com desdém.
Edward levantou o queixo com arrogância.
— É com muito orgulho que apresento minha noiva, Elizabeth Scoot — anunciou alto, fazendo questão de projetar a voz. — A mulher que conquistou meu coração.
Houve palmas. Algumas forçadas.
Ela ainda segurava a bandeja. Mas agora, seus olhos estavam vidrados, e o peito subia e descia com rapidez.
No meio dos presentes estavam os pais de Viktor Belmont.
— Isso é uma palhaçada — disse, a voz fervendo. — É esse tipo de comportamento que permitimos dentro de um quartel?
Dr. Elias tentou contê-la, segurando-lhe o braço.
— Calma, amor... não aqui. Não agora.
— Eu vou dar uma lição nesses dois — ela rosnou, mas sentou-se, ainda com o olhar queimando os dois noivos recém-declarados.
Sophia não ouviu nada disso. Seus ouvidos zumbiam. Seus olhos ardiam.
Horas depois, Sophia estava em sua sala, diante de cinco telas com códigos piscando. As mãos tremiam sobre o teclado. Tentava manter a mente ocupada. Trabalho. Entrega. Missão. Isso ela conseguia fazer.
O coração, no entanto, era outra história.
A porta rangeu. Um calafrio subiu pela espinha.
Edward.
— Achei que você viria me parabenizar — disse ele, encostado no batente com um sorriso cruel.
Ela não respondeu. Apenas o encarou. Pela primeira vez sem abaixar a cabeça.
Ele se aproximou devagar, puxando uma cadeira e se sentando diante dela.
— Porque você não é feita pra ser amada. Você é prática. Útil. Como uma ferramenta. Eu te usei, sim. Mas agora tenho alguém à minha altura. E você...
Você volta pro lixo de onde saiu.
Sophia apertou os olhos com força, como quem segura uma explosão. Mas não chorou. Não mais.
Edward levantou-se, satisfeito.
E então saiu, deixando o cheiro da humilhação no ar.
O helicóptero pousou com precisão cirúrgica. A poeira subiu, os soldados afastaram-se. A porta se abriu e desceu o homem que era considerado uma lenda viva, seguido de três figuras que exalavam presença
Major Viktor Belmont
James "Hawk" Connor
Luna "Bee" Green
Mike "Joker" Jordan
Suados, exaustos, mas vitoriosos como sempre.
Viktor tirou a luva tática e a jogou para o lado. Seu olhar era direto.
James estalou os ombros.
— Eu salvei a missão, tá? — Mike rebateu. — Se você tivesse feito o que eu falei, a gente já tava tomando café.
— Eu quase perdi a perna! — James retrucou.
— E continua inteira. Não reclama.
Luna riu, ajeitando o colete.
Viktor caminhava à frente, impassível, mas uma sobrancelha subiu ligeiramente.
— Ainda falta o último nome, né? — perguntou Luna.
Viktor parou.
— Sim. E eu já sei quem é.