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Não sou mulher de ninguém

                        07

— Ele quer conversar. Negócios, segundo ele. Mas com Jonathan, nem tudo é o que parece.

A tensão voltou a preencher o ar entre nós. Elói se aproximou e, pela primeira vez, tocou meu rosto com calma.

— Se ele te provocar, não reaja. Não aqui.

— E se ele me desafiar?

— Deixe que eu cuide disso. — Os olhos dele estavam mais escuros agora. — Eu nunca perco o controle... principalmente quando alguém ameaça o que me interessa.

Antes que eu pudesse processar a frase, uma batida na porta o interrompeu.

Jonathan entrou segundos depois, usando um sobretudo preto e o mesmo sorriso de sempre: afiado, encantador, perigoso.

— Belo quarto. Mas esperava que ela estivesse sozinha.

— Esperar demais é um erro que você comete com frequência — Elói respondeu, seco.

Jonathan me olhou como se eu fosse uma peça valiosa em um tabuleiro antigo.

— Espero que esteja pronta para o que Seul reserva. Aqui... alianças se quebram no tempo de um gole de soju.

— E peças frágeis se recolhem antes de cair — devolvi, mantendo o olhar firme.

Ele sorriu, satisfeito.

— Gosto dela. Vai ser uma jogada interessante.

E naquele instante, eu soube: o jogo havia começado.

E eu não estava mais apenas dentro dele.Eu era o jogo.

A noite avançou com uma tensão cortante. Jonathan sentou-se no sofá de couro, cruzando as pernas como se fosse o dono do lugar. Seus olhos passeavam por mim e Elói com uma calma estratégica, como se analisasse peças antes de movê-las.

— Vim oferecer uma trégua — ele começou, com um sorriso de quem já traçou os próximos cinco passos. — Nosso passado ficou mal resolvido, Elói. Mas talvez... possamos encontrar um novo equilíbrio.

Elói encostou-se na bancada do minibar, os braços cruzados.

— Trégua com você, Jonathan, costuma ter gosto de veneno com açúcar.

— Só se você beber sem ler o rótulo. — Ele riu e me olhou. — E quanto a você, linda? Já escolheu de qual lado do fogo quer brincar?

Respirei fundo, me aproximando com passos firmes.

— Eu não brinco com fogo. Eu sou o fósforo.

Jonathan sorriu largo, como se minha resposta fosse tudo o que ele esperava.

— Ah… então estamos todos no mesmo incêndio.

Elói deu um passo à frente, o olhar carregado.

— Chega. Diz logo o que quer.

Jonathan se levantou, arrumando a lapela do sobretudo.

— Quero o projeto de Seul. E quero que ela apresente comigo — disse, apontando sutilmente para mim. — Vai dar mais credibilidade. Ela tem presença. Voz. Olhos que fazem investidores assinarem cheques sem pensar duas vezes.

Elói não respondeu de imediato. A tensão no ar parecia vibrar como eletricidade estática.

— E o que você oferece em troca?

— Nada. Por enquanto. Só estou sendo… justo. — Jonathan piscou para mim. — Ela merece saber que tem opções.

Virou-se, já indo em direção à porta, mas antes de sair, deixou no ar a última bomba:

— Ah, e cuidado, Elói. Você anda se importando demais. E quando isso acontece... você perde. Como sempre.

A porta se fechou.

Eu respirei, mas Elói permaneceu imóvel. Até que, finalmente, ele falou com a voz baixa, perigosa:

— Ele vai tentar destruir tudo. Começando por você.

— Então é melhor que eu esteja preparada pra revidar.

Ele se aproximou, encostando a testa na minha.

— Só me prometa uma coisa...

— O quê?

— Que se tiver que queimar, você vai me levar junto.

Fechei os olhos. E desejei que ele estivesse blefando.

Mas algo me dizia… nenhum de nós sairia de Seul ileso.

A madrugada chegou pesada. Elói foi para o quarto dele, mas a porta entre os dois ambientes permaneceu entreaberta. E isso dizia mais do que qualquer gesto explícito.

Deitei, mas não dormi. As palavras de Jonathan ecoavam como um tambor invisível no peito. “Ela merece saber que tem opções.”

Era uma provocação, claro. Mas havia algo ali... uma mensagem nas entrelinhas.

Levantei da cama, com o coração inquieto, e fui até a varanda. A cidade de Seul brilhava como um organismo vivo. Luzes, carros, movimento. O mundo inteiro embaixo de mim — e, ainda assim, eu sentia que o verdadeiro campo de batalha estava naquele hotel, naquela viagem, entre aqueles dois homens.

Um ruído leve me fez virar. Elói estava na porta de vidro, descalço, com uma garrafa de vinho na mão e dois copos.

— Também sem sono? — ele perguntou, com a voz rouca, quase gentil.

Assenti. Ele se aproximou e estendeu um copo.

— Vamos brindar?

— A quê?

— Às escolhas erradas que a gente ainda vai fazer. — Ele ergueu a taça, e brindamos.

Nos sentamos lado a lado, o vento da madrugada roçando nossos rostos. Por um momento, ele ficou em silêncio. Depois, soltou:

— Quando eu tinha 25, confiei demais em Jonathan. Ele era meu sócio, meu amigo. Deixei ele conduzir uma negociação que eu devia ter assumido. Perdemos milhões. E eu quase perdi a liberdade.

— Ele te traiu?

— Ele me ensinou o que é traição com elegância. E agora, com você aqui… ele vai tentar repetir o truque. Só que dessa vez, com você no centro.

— Eu não sou fraca.

— Eu sei. Mas ele vai te seduzir com poder. Vai te fazer pensar que pode escolher entre nós dois. E no fim… ele vai querer te usar como munição.

Ficamos em silêncio. Depois, ousei perguntar:

— E você? Vai me usar também?

Ele se virou de leve, os olhos mais escuros do que nunca.

— Eu não posso prometer que não. Mas se te perder for o preço pra vencer... talvez eu prefira perder.

Engoli seco.

— Isso é real?

Ele se aproximou um pouco mais, os joelhos quase se tocando nos bancos da varanda.

— Eu não sei o que é isso ainda. Mas sei que está me mudando. E tudo que me muda, me assusta.

Nossos rostos estavam próximos demais agora. As respirações se encontravam no meio do espaço entre nós.

E então, ele encostou os lábios nos meus.

Nada urgente. Nada agressivo.

Era um beijo contido, como quem sabe que depois dali, nada mais será igual.

Quando se afastou, disse:

— Amanhã o mundo começa a tentar nos separar. Então hoje, eu só queria isso.

E eu deixei.Pela primeira vez… eu deixei.

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