Dois egos.

Um loft.

E zero paciência.

—

— “Isso aqui é uma pegadinha do Silvio Santos versão Vegas?”

Beatriz olhava fixamente para a produtora do reality, que tinha acabado de aparecer com um sorriso de Botox e um contrato de 47 páginas.

— “Não. Isso é 30 Dias & Um Casamento — o reality que já fez três casais se odiarem, dois se divorciarem e um virar meme.”

— “E agora querem transformar a gente no quê? Casal de capa de colágeno em cápsula?”

A produtora apenas sorriu, imune à acidez de Bia.

Caio, por outro lado, folheava o contrato com o olhar de advogado em modo turbo.

— “Tem cláusula de imagem. Cláusula de exclusividade. E uma de… convivência em loft supervisionado?”

— “Isso mesmo,” — confirmou a produtora, e estalou os dedos.

Dois assistentes entraram com uma caixa.

Dentro: dois microfones de lapela, um cartão com o endereço do loft, e… duas camisetas brancas com “RECÉM-CASADOS” estampado em rosa neon.

Beatriz arregalou os olhos.

— “Isso é cafona até pra Vegas.”

— “Mas é viral até pra TikTok,” — rebateu Caio, erguendo uma sobrancelha.

— “Vocês ganham 100 mil dólares se completarem os 30 dias sem infringir nenhuma cláusula contratual,” disse a produtora.

— “Tipo… não podem dormir em casas separadas, não podem anunciar o divórcio, não podem se pegar em público e depois negar.”

— “Mas podem se pegar?” — Beatriz cruzou os braços.

— “Desde que pareça natural.”

— “Se depender do Caio, vai parecer um comercial de perfume com erotismo constrangedor.”

Ele sorriu torto.

— “Se depender da Beatriz, vai parecer uma guerra fria com batom vermelho.”

—

📦 2 horas depois – O Loft

Eles entraram no loft e pararam.

Era lindo.

Claro, branco, com toques de mármore e um cheiro que misturava vela cara com pretensão.

— “Cozinha gourmet, cama king size, câmera em 8K na sala(que funcionava somente de dia , a noite era desligada só ficava o microfone ) tudo normal,” — murmurou Bia.

Caio jogou a mala no sofá, se espreguiçando.

— “Eles colocaram uma banheira de hidromassagem. Quer dizer… eles QUEREM que a gente transe.”

— “Pois vai ser mais fácil encher essa banheira com tônica e eu morrer afogada do que isso acontecer.”

Do alto-falante embutido no teto, a voz da produtora soou:

— “Boa tarde, casal Ferraz-Mendes. Lembrem-se: vocês têm 30 dias de convivência, 10 provas de afinidade e uma legião de seguidores acompanhando cada movimento. Sorrisos. Beijos. DRs. Tudo.”

Beatriz respirou fundo.

— “Eu odeio você.”

— “E eu tô achando isso divertido demais.”

—

22h30 – Primeira noite

Beatriz saía do banheiro com uma toalha no cabelo e um robe de seda que dizia “NOIVA” nas costas.

Ela não escolheu. Estava lá. Era isso ou dormir com uma camiseta do Elvis.

Caio estava deitado, lendo um livro de… “Gestão de Conflitos no Casamento.”

Ela riu alto.

— “Você vai psicologar nossa tragédia agora?”

— “Não. Só estou reunindo provas pro tribunal emocional que vai ser essa convivência.”

— “Olha, Caio. Eu sobrevivi a uma relação com um influenciador que usava #gratidão até pra trair. Nada me abala.”

— “E eu sobrevivi a três audiências com um cliente que achava que ‘flagrante’ era nome de lanche do Subway. Também tô blindado.”

Silêncio.

Depois, riram. Alto. Juntos. Pela primeira vez… de verdade.

— “Boa noite, Beatriz.”

— “Boa noite, Caio.”

Pausa.

— “Só por garantia… você ronca?”

— “Não. Mas falo dormindo. Às vezes em latim.”

Ela riu.

Eles apagaram as luzes.

E no escuro do loft, duas personalidades incompatíveis dividiam o mesmo teto.

Com câmeras ligadas.

Com contratos assinados.

E com o inevitável se aproximando, disfarçado de sarcasmo e batimentos acelerados.