Felipe
O relógio marcava uma e meia da manhã e eu ainda estava no escritório, sentado na penumbra, com a luz fraca da luminária refletindo sobre as páginas do relatório que Pedro havia deixado antes de ir embora. Li cada linha com atenção quase cirúrgica, analisando tudo o que dizia respeito a Sérgio — e, principalmente, tudo o que dizia respeito a ela.
O documento trazia praticamente tudo que eu precisava e o que já havia visto no outro: o endereço atual dele, a situação decadente da empresa, os contatos recentes, possíveis investidores, tentativas falhas de reerguer o negócio… e, finalmente, uma breve referência a Lorena. Curta, limpa, verdadeira.
“Pianista e professora de balé.”
Nada mais. Nada daquelas nojeiras que outros haviam insinuado. Nada que maculasse quem ela era. E isso bastou para que meu sangue fervesse ainda mais ao lembrar do primeiro relatório — aquele que sugeria uma mentira absurda sobre ela, como se fosse algum tipo de entretenimento para fechar contratos. Idiotas