Nunca me vesti para uma galeria antes.
Quer dizer, sim — já estive em exposições, já admirei quadros com cara de quem entende alguma coisa. Mas expor? Ter uma parte sua presa a uma moldura para o mundo ver, julgar, sentir ou ignorar?
Era outra coisa.
Passei boa parte da sexta-feira encarando roupas no cabide como se alguma delas pudesse me transformar em alguém pronta. Como se existisse um vestido capaz de conter todas as camadas de medo e desejo dentro do meu peito.
— Escolhe o que faz você se sentir viva — disse Sophia, sentada no chão do quarto, com um copo de vinho e o gato Louis no colo. — Não o que faz você parecer forte. Você já é.
Acabei optando por um vestido preto simples, de tecido leve e mangas transparentes. Cabelos soltos, lábios corados. Um par de botas que me dava firmeza nos pés.
E um batom vermelho — porque, se o mundo ia me encarar, eu também podia encará-lo de volta.
A galeria Montclair ficava num prédio discreto, escondido entre cafés com mesinhas de ferro e vitri