Allyssa.
Ele parou no da porta porta. Semicerrou os olhos e ,em seguida ,piscou com força como se estivesse com uma certa dificuldade para distinguir se eu era real ou não.
Ele não usava mais a camisa e nem a jaqueta, mas a compressão que eu fiz para conter o sangramento ainda estava no lugar. O meu coração pulou uma forte batida e um estranho friozinho deslizou pelo meu estômago por vê-lo pela primeira vez de pé.
Eu tinha uma ideia que ele era alto , mas não que era tanto assim. Se ele não tivesse um e noventa e alguma coisa de altura, chegava bem perto disso. E ele é forte. Muito forte, na verdade.
Os ombros largos, braços e o torso musculoso e tatuado estavam ali , bem na minha frente , pra provar o quão forte ele era.
— Porra ,você voltou mesmo , pequena ! — disse ele com um largo e brilhante sorriso antes de atravessar a porta. Ele parecia feliz por ver e o meu coração pulou com a possibilidade de ser isso mesmo. Esperai ,ai. Por que ele parece tão surpreso por eu ter voltado ?
— Achou que não ia voltar?
— Sim , eu achei. Você parecia com tanto medo de mim. — ele respondeu num tom meio grogue ,causando uma pontada de ressentimento no meu peito por ele achar que eu era esse tipo de pessoa , que pegaria o dinheiro dele e o deixaria aqui sozinho e ferido com uma grande chance de sangrar até morrer. Mas tem uma coisa aí que não está se encaixando e trato logo de esclarecer.
— Se achou que eu não voltaria , porque me deixou ir e me deu tanto dinheiro, então ? Você disse que eu não poderia sair daqui antes de você, o que me levou a pensar que mudou de ideia porque confiava que eu voltaria.—Eu digo e logo em seguida ,tratei de esclarecer outro ponto, independente se ele vai acreditar ou não. — E antes que me responda ,quero que saiba que apesar de eu sem uma em teto e ter perdido a conta de quantas vezes fui chamada de mendiga ladra , eu não sou uma e muito menos egoísta. Eu seria uma dessas duas coisas se ficasse com o seu dinheiro e te deixasse aqui a própria sorte.
Ele está me olhando de um jeito tão profundamente que faz com que cada centímetro do meu corpo, que antes tinha frio, fosse atingido por um intenso calor.
Principalmente no meu rosto.
—Eu sei que você não é. — Isso foi tudo que ele disse antes de colocar a mochila no chão e depois colocar garrafa de uísque sobre o parapeito da janela. Em seguida,
empurrou a porta com o ombro e se apoiou nela. — Eu deixei voce ir porque só fui perceber depois que você se foi que eu tinha cometido um maldito erro..— Ele deu uma pausa e contraiu os lábios. E dessa vez ,a voz dele não tinha saído grogue , pelo contrário, era firme e profunda , assim como os olhos dele que estão fixos em mim agora ,me estudando.
O meu coração deu um solavanco antes de disparar feito louco. O que ele quis dizer com isso , que cometeu um erro?
Será que ele se arrependeu por não ter me matado ? Santo Deus.
É isso, só pode ser isso. Ele se arrependeu por não ter matado antes e ficou feliz por eu ter voltado pra poder consertar o erro. Me matando.
Que estúpida eu fui por ter baixado a minha guarda e ter confiado nele.
— Não pelo dinheiro que dei a você. —Ele continuou. — Mas por ter deixado você ir.
Mas aqui está você, pequena ,me poupando de um fodido trabalho de ter que ir atrás de você.
Engolindo o nó da garganta ,eu perguntei :
—Pra que ,para me matar ?— A minha voz saiu com desespero.
— Por favor , não me mate. Eu
não vou falar com ninguém sobre você. Eu prometo. Vai ser como eu nunca vi você na vida. —Esse foi o melhor argumento que consegui processar diante do desespero. Eu podia ter me ajoelhado para dar um melhor efeito na minha mendicância pela vida , mas agora é tarde.
O rosto dele endureceu feito uma pedra.
— Que diabos ? De onde você. —Ele semicerrou os olhos e trincou a mandíbula — Por que diabos achou que eu te mataria ? —Ele parece chateado. Muito chateado.
—Não ..Vai ?—Perguntei atônita de alívio.
—E claro que não ! —fechou a cara.
Meu Deus ,mais uma dessa eu infarto.
—O seu discurso soou como se fosse isso. —eu disse e o rosto dele se fechou ainda mais. —Eu nunca machucaria você, pequena. —deu uma risada áspera e balançou a cabeça como se estivesse indignado ,e só então, olhou para mim novamente. —Eu não acredito que você pensou que eu faria isso com você.
—E, eu pensei e sinto muito. Mas se não quer que eu tenha medo de você , não haja todo assustador pra cima de mim de novo , está bem ? Você quase me matou de susto! — Eu disse , respirando fundo.
—Assustador? —Ele estreitou um olho e teve a audácia de rir.
—Sim ,isso mesmo , assustador. —Afirmei. — O jeito que você falou deu a entender que tinha se arrependido por não ter me matado ao invés de ter me deixado sair daqui e depois aliviado por eu ter voltado pra poder fazer isso.
—Pequena..— Curvou os lábios. —Acredite em mim quando eu digo que você não quer testemunhar o meu eu verdadeiramente assustador.
—Tem razão, eu não quero. E ficaria muito grata se você não me obrigasse a testemunhar.
Ele ofereceu um sorriso torto. —Isso eu não posso garantir, mas garanto que eu prefiro cortar as minhas bolas do que fazer qualquer mal a você.
Foi impossível não rir.
—Eu estou falando sério. —disse ele, fingindo estar ou realmente ofendido por eu estar rindo da sua promessa absurda.
— Está bem. Se você está dizendo. —eu disse e mudei de assunto —Então, o que você quis dizer sobre ter se arrependido por ter me deixado ir ? —Perguntei.
Ele inalou e soprou com dificuldade, apertou os lábios duramente como se estivesse com muita dor. Oh, gênia! Claro que ele está com dor.
— Vamos deixar isso pra depois. Enquanto estamos conversando, você está perdendo sangue. Mas antes ,eu preciso trocar de roupa. Você pode já ir pro colchão enquanto isso. — dizendo isso,
entrei no banheiro ,encostando a porta em seguida. Uma vez vestida com a minha segunda troca de roupa , uma legging preta desbotada e uma camiseta preta também desbotada ,lavei as mãos e só então saí . Dei de cara com Tristan encostado do lado da porta com os braços cruzados. —Bom , é melhor irmos logo com isso.
— Eu sinto muito por antes. —disse ele, entrando na minha frente, e em seguida, pairando sobre mim ,fazendo o meu coração disparar feito doido.
—Eu não queria ter te assustado. —Ele deu mais um passo , não me dando outra escolha a não ser recuar para trás até estar encostada na parede. Ou era isso ou acabar com o meu corpo colado no dele. —Está tudo bem, já resolvemos esse impasse. —eu disse , a minha voz demonstrando o meu nervosismo com a proximidade dele. Não é um nervosismo de medo. É um nervoso diferente. — Você é uma pequena coisinha fofa , corajosa e muito intrigante , Allyssa. —Ele dá mais um passo , deixando apenas alguns centímetros de distância entre nós ,em seguida, ele segura um lado do meu rosto antes de deslizar os dedos ásperos em uma carícia suave e lenta.
Santo Deus, acho que o meu coração está tendo um ataque epilético agora.
Driblando o desconforto da minha garganta, eu pergunto:
—O que você está fazendo?
— Certificando a sua febre. Está muito quente. —ele tirou a mão do meu rosto e se afastou um pouco. E eu voltei a respirar com mais facilidade depois disso.
—Você comprou remédios e se alimentou ?
Era muito difícil acompanhar o humor desse cara . Em um momento ele me deixava congelada de medo com o seu jeito bruto e postura ameaçadora para em seguida,me derreter como manteiga agindo tão gentil e protetor.
— Comprei remédios para nós dois e algumas barras de cereais que encontrei na farmácia. — No instante que essas palavras saíram dos meus lábios, ele fez uma carranca de repreensão.
—Barras de cereais ? Por que não comprou comida de verdade , pequena?
Ele estava tão chateado por eu não ter comprado comida que se eu dissesse que não fiz isso porque estava preocupada demais com ele, era bem provável que se sentisse culpado ao invés de chateado.
Engolindo o nó de emoção da minha garganta causada pelo fato desse homem se importar tanto comigo ,eu forcei um sorriso antes de falar : — O único restaurante perto daqui já estava fechado. E além disso, eu gosto de barras de cereais.
Agora,pelo amor de Deus, vamos tratar esse ferimento logo!—
Deixando a minha mochila no chão , fui até a sacola da farmácia e comecei a separar os itens para a limpeza do ferimento. Um rápido olhar sobre os meus ombros ,vi que me observava. Respirando fundo, acendi mais duas velas e as coloquei perto do colchão.
—Você tem que se deitar para que eu possa limpar e esterilizar o corte antes que comece a suturar.
Ele assentiu e se deitou no colchão e voltou a me olhar novamente.
Se ele não parasse de me olhar daquele jeito,tão fixamente e profundamente ,eu não ia conseguir me concentrar no que tinha que fazer.
O problema não era ele me olhar , mas o jeito que me olhava e o efeito que causava no meu sistema nervoso.
— Será que você pode parar de olhar assim ?— Oh ,Deus ,eu realmente falei isso em voz alta.
—Assim ,como ?—Ele perguntou com um toque de humor.
—Só pare de me olhar desse jeito que já está bom.
— E qual jeito exatamente é esse que eu estou te olhando? —Ele parecia curioso ,um tanto intrigado , e com quem também estava achando a situação divertida.
—Esquece isso. — O respondi.
—Não, agora eu quero saber. —Ele exigiu antes de segurar o meu pulso.
— Vamos lá ,diga.
É, parece que ele não vai desistir tão fácil.
—Como se quisesse me devorar ou algo do tipo. — Eu disse ele riu.
— Então , não tem nada a dizer em sua defesa? — brinquei.
Ele ficou sério.
— Não. —Respondeu ele, simples assim e algo me disse que era melhor eu deixar isso pra lá e mudei de assunto.
— Eu gastei um pouco mais do previsto do seu dinheiro.—Tirei o dinheiro que tinha sobrado do bolso da minha calça jeans e entreguei a ele. —
Faz tanto tempo que não compro nada que perdi a noção dos preços das coisas. Tudo custou oitocentos dólares. Me desculpe.
Ele franziu rigidamente as sobrancelhas.
—Por que está se desculpando ?
— Porque é muito dinheiro.
— Não é. E fique com o que sobrou. -disse ele.
—Com tudo isso?—Foi inconfundível o espanto em minha voz. Tinha mil e duzentos dólares naquele maço e ele estava me dando.
—Sim.
—Mas e você?
—Eu o que? —Perguntou ele com as sobrancelhas erguidas.
—Não vai precisar de dinheiro para voltar para casa ?
Ele sorriu.
—Não se preocupe, eu tenho mais.
—Ah , então, obrigada. —Devolvi o dinheiro no meu bolso e tratei de cuidar do ferimento , começando por desamarrar a camiseta, e em seguida, tirando a toalha úmida de sangue e deixando de lado. Já não sangrava tanto como antes. Menos mal. Sinal que o meu método de emergência tinha funcionado. — Dói muito? —eu perguntei.
— A dor diminuiu um pouco depois de meia garrafa de uísque e alguns baseados . Não sou um viciado. —Ele explicou rapidamente. —Só uso em casos de emergências, principalmente como essa, por exemplo. Ajuda a aliviar a dor.
— Deve ter ajudado e muito mesmo uma vez que você estava batendo pernas por aí quando devia ter ficado deitado. —Eu disse ganhando um sorriso torto dele.
Umedecendo um maço de gases com asséptico, comecei a limpar o corte.
Ele sorriu , mas logo ficou sério.
—Quer saber agora o porquê eu disse que foi um erro tê-la deixado ir ? E o porquê eu ia atrás de você se não voltasse?
— Claro. — eu disse ,mal ouvindo a própria voz de tão baixa que saiu.
— Porque quando você se foi eu não consegui pensar em outra coisa senão em ir atrás de você pra trazê-la de volta , mas do jeito que eu estou ,eu não ia ter muito sucesso.
Então,decidi esperar até ficar um pouco melhor. Mas eu ia atrás de você ,pode apostar que eu ia.
—Você está me deixando confusa de novo. Por que ia querer ir atrás de mim ? — Perguntei . Eu não tinha ideia de onde ele queria chegar com aquilo.
—Quero que venha comigo quando eu partir ,Aly.
O meu coração quase parou.
Será que ele está mesmo falando sério ? Ou era só o efeito do álcool e a maconha ?