— Você tem que comer.
— Eu. Não. Estou. Com fome! — Sleny! C respira fundo e passa a mão no rosto. — Escuta, você tem que comer, tá a dois dias sem comer, deve se alimentar para o seu bem. Sorrio de maneira espontânea, ou ele é louco, ou ele é louco, não tem cabimento, — como assim dois dias? Você me sequestrou ontem! Espero ele se corrigir, ou ao menos mudar de expressão, sei lá. Vai que errou? Como eu saberia o que passa na cabeça de um pouco? Mas ele se cala, ele simplesmente se cala. — O quê você fez comigo? Como assim dois dias?! — Mesmo tentando manter a postura de alguém confiante, minha barriga ronca como um sinal de 'mude de assunto cadela e nos mantenha vivas'. Senhor 'C' rir de mim como um 'eu te avisei'. — Tem certeza de que não está com fome? — Eu não quero nada que venha de você. Ele sorrir, como alguém se divertindo de tudo, — Eu quero ir para casa! Para a minha casa! — Está é! A sua casa! — Respira fundo, e passa novamente a mão no rosto. — Ou você come sozinha, ou eu te forço a comer!! Ele levanta a mão e eu recuso, abaixo a cabeça com os olhos fechados e ele sorrir. Ele me ajuda a sentar na cama, mesmo com as mãos algemadas. — Vai comer? — Ok... Eu como... Senhor C estende a bandeja e eu apenas o encaro. Se eu não estivesse nessa situação, riria dele. Mas se eu tentar rir, eu vou chorar por causa desse babaca. — O quê foi? — Me responda um coisa, 'senhor C'. — Sim? — Como você quer que eu coma? Se eu estou assim — mexo as mãos algemadas. Seus olhos confusos demoram para olhar minhas algemas e assimilar a situação. — Isso é um problema, realmente. — Sério? Eu também acho — Se eu te desamarrar, com toda certeza iria tentar fazer algo para fugir, não é? "Esse bastardo só pode tá brincando com a minha cara!". — Eu não vou, então por favor, me solta pra eu poder comer. — Como eu poderia acreditar em você? — Ele sorrir e coloca os braços cruzados por cima do peito. Seu sorriso sarcástico e desconfiado me sinalizando. — Eu te dou a minha palavra, só me solta. — Sua palavra? Isso não vale nada pra mim. "Droga!". — Então o que você quer? Por Deus! — Minha voz treme e minhas lágrimas descem, — Olha aquela porta! Não dá de fugir por ali porque eu não sei a maldita senha! E este quarto não tem janelas! — E se me atacar? — Olha o seu tamanho! Com certeza iria ganhar de mim! E mesmo que por algum milagre eu conseguisse vencer e te matar! Eu nunca sairia daqui porque você é a minha chave pra merda de quarto! Sua gargalhada ecoa pelo quarto e seus olhos ficam marejados por conta dos risos. — Há! Sorria, eu só estava brincando com você hahha. Eu fecho os olhos soluçando, queria passar as mãos pelo meu rosto e limpar as minhas lágrimas, se desse, também me abraçaria forte e oraria. Mas Deus não está aqui, assim como eu também não posso me consolar. — Se você conseguisse fugir do quarto, não sairia daqui com vida, tem seguranças lá fora aguardando qualquer suspeita, caso te vissem, seria pega novamente. — Seu...! "Lunático! Lunático! Lunático!". — Eu gosto desse seu lado esperto, mas saiba muito bem no que você deve investir sua inteligência. C belisca a ponta do meu nariz de leve enquanto sorrir, e eu estou consciente disso. Ele está me ameaçando, caso eu planeje alguma fulga. De repente, penso em minha genitora, se eu tivesse contato com ela, ou se ela me procurasse, com certeza teria meios necessários para me ajudar. Sorrio para mim mesma e abaixo a cabeça, só agora vejo os inúmeros erros que cometi. Se eu soubesse... Se eu soubesse que tudo estaria assim agora, não teria brigado com as minhas irmãs, não teria corrido daquele restaurante, ou talvez, minha mudança seria antes mesmo deste momento, como ter uma conversa adequada com os meus pais, antes dele partir e ela fugir de suas responsabilidades. Quem eu quero culpar neste momento? Apenas eu e eu confiei. Se eu tivesse seguido aqueles conselhos ridículos dos adultos, sobre nunca em hipótese alguma aceitar algo de desconhecidos, eu teria ido direto pra casa e acordaria com uma ressaca desgraçada. Estaria tomando café da manhã escutando sermão de Lily e consolo de Amy. Eu tive escolhas, só cometi as erradas. — Eu vou te soltar, para que possa comer. Ele pega alguma coisa no bolso de sua calça e percebi que é a chave. As algemas são facilmente soltas e a sensação de estar com as mãos livres é sem dúvidas algo impagável. Massageio meus pulsos doloridos e aproveito cada segundo de poder me mexer livremente. — Coma. — Umhhun... Me ajeito na cama e ele coloca a bandeja em cima das minhas pernas. Fico hesitante em comer, mas meu corpo cobra mais forte e eu me rendo a fome. — Você é tão fofa. Mesmo incomodada, eu como devagar. A cada mordida no sanduíche recompondo meus nervos. O suco é de manga, e tudo está uma delícia apesar da atmosfera. Só comendo assim, passo a perceber o quanto estou tremendo. Me pergunto se é pela fome, ou por medo deste homem que cruelmente me tirou de casa e me arrastou para sua vida. — E aí? Como está? Bom? — Não respondo nem olho para ele, — você deveria pelo menos agradecer pelo lanche. — Obrigada... — Wou, está tão obediente agora. C toca a minha bochecha com carinho, me afasto do seu toque e reprimo meus sentimentos de querer gritar e correr do lugar. — Estou comendo, por favor, não me toque. Ele bufa e murmura, algo como 'coma rápido' enquanto desvia o olhar. Depois que termino de comer, ele me olha sério. — Vou colocar as algemas agora, estenda as suas mãos. — Por favor, não faça isso comigo. Meu pavor volta ao corpo e minhas lágrimas voltam a cair pelo meu rosto incessantemente. — Para de chorar. Isso me irrita. — O quê?! Me sequestra e quer que eu aceite isso numa boa? Normalmente?! Eu sorrio e passo as mãos no rosto, secando as minhas lágrimas e me abraçando depois. Meus lábios tremendo e minhas pernas também. Sinto calafrios, não estou bem. — Você quer que eu finja que nada está acontecendo aqui?! Eu não quero estar presa! Eu sou um ser humano! Um ser humano com direitos! Com uma família me esperando em casa! — Primeiro! — Seu grito ecoa pelo ambiente fechado, aumentando ainda mais a voz dele. Fico assustada e instintivamente me encolhi e me escoro na cabeceira da cama, fazendo de tudo para não chorar alto. — Me chame de 'senhor'! Me chame de 'senhor C'! Eu sou o seu dono!, e você tem que aprender desde já a me respeitar! Família? Há! Eu sou a sua família agora! Eu sou o seu tudo! — Por favor... Por favor!! — Segundo, eu vou te algemar sim, não adianta chorar. Quando eu perceber que você tá começando a aceitar a sua nova vida, eu te solto desta cama e você poderá andar livremente pelo quarto. — Senhor C, por favor! — Eu já falei pra ficar calada! Porra! — Me desculpe! Me desculpe! Me desculpe! Me desculpe!! — Levanto os meus pulsos, mostrando as marcas, — Eu não quero fugir, não faça isso... Meus pulsos doem, por favor.