Meu lobo guardião
Meu lobo guardião
Por: Elenya Sousa
1. Um

“Você poderia ao menos fingir estar feliz por mim?”

As palavras duras que romperam os mexericos das mulheres reunidas no interior da Adefild, uma loja de vestidos de luxo para casamentos, vinham de Rosalind Milton, a noiva pela qual toda a loja fora reservada. Rosalind era alta, magra e tingia os cabelos castanhos de loiro a cada três meses, tinha um sorriso perfeito e olhos verdes tais como o da irmã mais velha, Lenna Milton, para quem ela impiedosamente dirigiu a frase.

Lenna que estava sentada em um dos cantos do sofá perolado com a cabeça apoiada em uma das mãos, não conseguiu evitar de bocejar diante da irmã que a fuzilava com o olhar. Não era tão alta ou magra quanto Rosalind, mas tinha o porte atlético e cabelos pretos com cílios igualmente escuros que ornamentavam seus olhos, no momento, cercados por olheiras profundas.

“Me desculpe, eu não dormi bem essa noite. Estou cansada, Rosalind, e esse é o sétimo vestido que você experimenta” Respondeu Lenna de forma direta.

Desde que fora promovida a investigadora no departamento de polícia que atuava, Lenna estava trabalhando duro em seus casos, tudo para garantir que a sua promoção não fora algum privilégio dado pela influência do seu pai, como a maioria dos seus colegas diziam por suas costas ou comentavam quando pensavam que ela não estava ouvindo.

“Não a obriguei a vir.” Disse Rosalind, unindo as sobrancelhas finas.

“Mas está brigando comigo porque não estou aplaudindo e bajulando você a cada vestido que coloca. Se eu não tivesse vindo, você faria um escândalo similar quando nos víssemos novamente.”

“Já chega, mocinhas.” Interveio Pamela, mãe de Rosalind e madrasta de Lenna.

Tomar a atitude de mediadora era uma tarefa recorrente para Pamela nos conflitos familiares da família Milton, que em sua maioria estavam envolvidos com Lenna.

Apesar de Rosalind ser sua única filha biológica, Pamela demonstrava o mesmo afeto por Lenna e Jean, os filhos do primeiro casamento do seu marido. Jean era mais fácil de lidar, tinha seguido os passos do pai no ramo empresarial, era educado e reservado com suas opiniões, ao contrário de sua gêmea. Lenna tornou-se rebelde na adolescência e então contra todas as expectativas se devotou a uma carreira policial.

“Se é tão doloroso para você ter um pouco de simpatia, pode esquecer o convite para o meu casamento.” Disse Rosalind, segurando os saiotes do vestido para descer da plataforma circular. “Não é como se alguém fosse sentir sua falta de qualquer forma.”

“Rosalind!” Gritou Pamela, chamando a atenção da filha.

Mas já era tarde para Lenna que se levantou e caminhou até Rosalind, encarando a irmã com desaprovação.

“Pode ficar irritada comigo o quanto quiser, mas isso não muda que falei apenas a verdade nua e crua para você.” As palavras de Lenna foram sussurradas para Rosalind, de forma que só as irmãs ouviram.

Não era segredo para ninguém que Lenna nunca apoiou o relacionamento entre Rosalind e seu noivo, Joshua. O segredo estava no motivo, motivo que Lenna revelou a Rosalind no dia que soube que Joshua havia pedido sua irmã em casamento.

Joshua Watanake, um conceituado médico cirurgião era suspeito em um caso de tráfico de órgãos e não apenas isso, sua família tinha ligações estreitas com a máfia japonesa da cidade. Um terreno perigoso para a doce, supérflua e estúpida irmã mais nova de Lenna.

Era por isso que ela não poderia ficar ou sequer fingir estar feliz com o casamento.

Rosanlid engoliu em seco e não respondeu nada. Lenna podia ser desrespeitosa com a família, mas não era mentirosa. Rosanlind sabia disso, mas também acreditava nas palavras de Joshua, de que sua irmã era paranoica e exagerada, que ele não tinha nada haver com algum caso de trafico de orgãos ou com a máfia japonesa. Joshua rira e questionou se Lenna não estava apenas com ciúme deles. Das duas versões, Rosalind escolheu a mais agradável, a de Joshua.

“Esse vestido ficou bem em você, mas eu prefiro o que você colocou antes desse, seus olhos se iluminaram quando você entrou com ele.” Disse Lenna, colocando as mãos nos bolsos do blazer. Por mais que Rosanlind fosse teimosa e mimada, Lenna a amava.

Seu celular vibrou e ela se afastou da irmã e dos olhares curiosos das amigas de Pamela para atendê-lo. A ligação era de Travis Suarez, o superior de Lenna e o seu principal acusador de nepotismo.

“Investigadora Milton, espero que eu não esteja interrompendo sua folga no meio da semana.” Disse Travis, assim que Lenna atendeu.

Lenna havia trabalhado durante o final de semana e feito turnos ao longo das madrugadas para conseguir a folga e acompanhar a prova de vestidos de Rosalind, mas ela não disse isso a Travis, porque ele sabia.

“De nenhuma forma, senhor. Alguma atualização sobre os meus casos?” Perguntou, na esperança de que fossem boas notícias.

“Não, na verdade, tenho outro caso para você. Está com disposição para aceitá-lo ou devo repassar para alguém com mais aptidão?” Perguntou, uma pequena provocação no fim frase.

“Estou a caminho.” Respondeu, pegando as chaves do carro no bolso para ir a delegacia.

“Nada disso, vá para Road Villagi, 62, uma patrulha já foi enviada para o local.”

Antes que Lenna pudesse pedir mais detalhes, Travis desligou.

Ela suspirou pesadamente e contraiu os lábios, depois virou-se para o pequeno público. As amigas e madrinhas de casamento de Rosalind, a mãe e as irmãs de Pamela, as funcionárias da Adefild. Treze mulheres era mais do que o suficiente para decidir um vestido de casamento.

“Preciso ir, agora, estão me chamando no trabalho.” Falou, sem nenhuma culpa, andando até a porta de saída.

“Lenna! Você vai para o casamento, não é?” Gritou Rosalind.

“Lembre-se que você precisa encontrar um acompanhante.” Disse Pamela.

“E ele precisa ser bonito.” Adicionou Rosalind.

“Posso emprestar um dos meus irmãos, se ela não encontrar nenhum.” Falou Ingrid, uma das amigas de Rosalind.

Lenna já estava do lado de fora da loja, caminhando até o carro estacionado no outro lado da rua.

Para ela, resolver um novo caso era mais fácil do que encontrar alguém que desejasse levar para o casamento da irmã.

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