Capítulo 6

Ah, o domingo... Um dia em que, em teoria, poderíamos dormir até mais tarde e aproveitar o silêncio na casa. Aaah, quem me dera!

Acordo com a sinfonia do choro de Luana Maria misturado com o de Benjamim, como se eles estivessem ensaiando para uma orquestra matinal. Passos ligeiros ecoam pelo piso de madeira no corredor, e sem nem precisar olhar, já sei que são os meninos correndo para descer e brincar lá fora.

Por um breve momento, penso em como seria se eu fosse filha única. O silêncio, a paz... Mas logo essa ideia desaparece quando me lembro dos momentos de alegria e das risadas que preenchem cada cantinho desta casa. Realmente, minha família é perfeita do jeito que é. Com o barulho logo cedo, as brigas bobas, as birras ocasionais — tudo isso nos faz uma família unida e feliz. Esse caos é o que nos define, e eu não trocaria isso por nada.

Me viro na cama e, antes de finalmente me levantar, dou uma olhada no celular para ver as horas: ainda são oito da manhã. Obviamente, não vou levantar agora. Vou ficar na cama como uma boa adolescente que, como meus pais adoram dizer, "fica se isolando no quarto". Pelo menos, é o que os pais da minha melhor amiga, Jojo, sempre diziam. Ah, que saudades daquela louca!

Infelizmente, o pai dela virou um anjo, e por causa disso, ela precisou se mudar para a Califórnia. Não que ela reclame da mudança — quem não gostaria de morar na Califórnia, né? Mas, para mim, é como se uma parte gigante de mim tivesse ido junto com ela. A falta que ela me faz é imensa, e por mais que a gente troque mensagens o tempo todo, nada substitui o quanto sinto saudade dela.

Com esse pensamento, abro a tela do celular. Depois de responder algumas mensagens pendentes, vou direto para minha rede social, deslizando até as mensagens privadas, esperando ver algo novo ou, quem sabe, uma mensagem no Algumas mensagens são dos meus amigos e, claro, da Jojo, que sempre comenta nos meus stories. Ela viu o que postei da fogueira de ontem e, como sempre, disse o quanto queria estar comigo. O que só aumenta a saudade. Por último, e definitivamente não menos importante, vejo uma mensagem do Lucca:

"Estou bem e você?"

Levei um tempo para responder, já que a última vez que mandei mensagem demorou horas para ele me responder. Acho que ele não deve ficar muito nas redes sociais, então respondo sem muita expectativa:

"Estou bem! Fiquei sabendo que você vai se mudar pra cá. Está animado?"

E, para minha surpresa, a resposta chega quase que de imediato. Quase engasgo de susto ao ver a notificação.

"Na verdade, não."

A resposta dele me choca. Nossa, foi frio como gelo e tão direto... parecia um daqueles t***s dramáticos de novelas mexicanas. Eu fico sem entender. Ele está tendo a oportunidade de vir para Nova York, com tudo pago, de ter novas experiências, oportunidades incríveis, e ainda "ganhar" um pai. Sim, ganhar, porque, até agora, ele nunca deu muita abertura para o papai entrar de verdade na vida dele. E agora ele simplesmente diz que não está animado?

Sinceramente, não dá para entender.

Então, resolvo questionar:

"Por que não está animado? Você está vindo para os Estados Unidos! Vai conhecer novas pessoas, ter oportunidades que muita gente sonha... Isso é bom, né?"

Ele visualiza e não responde, me deixando bufar de impaciência. Ótimo, né? Resolvo largar a conversa de lado e ver o que tem de bom na minha timeline. Já estava deslizando pelas postagens quando, de repente, a notificação da resposta dele chega.

"Não me leve a mal, criança, mas tenho oportunidades por aqui e conheço pessoas o suficiente."

Nossa, que grosso! Já fiquei com um pé atrás. Pelo jeito, nossa convivência debaixo do mesmo teto não vai ser nada fácil. E ainda por cima me chama de criança! Sério? Quantos anos ele acha que eu tenho?

Não consigo deixar isso passar, então rapidamente respondo:

"Primeiro, não sou criança. Segundo, não precisa ser grosso, só estava sendo gentil."

E quer saber? Isso já é o suficiente. Não vou perder o meu tempo com alguém que claramente não vale a pena. A resposta dele não chega, e, sinceramente, agradeço por isso. Menos um estresse na minha vida. O Lucca pode até se parecer fisicamente com o papai — tem os mesmos olhos, e se parece muito — mas no fundo, ele é um babaca de marca maior! Agora faz total sentido o que o papai disse uma vez, sobre ele ser um "jovem adulto que ainda não percebeu que já passou da fase de ser tratado como criança."

Honestamente, espero que o papai o trate como o bebezinho mimado que ele parece ser, porque é exatamente o que ele é. Ficar dando patada em quem só está sendo educada? Não, obrigada. Tenho coisa mais importante para fazer do que lidar com gente que acha que o mundo gira em torno do próprio umbigo. Se ele acha que vai chegar aqui, na nossa casa, com essa atitude de "sou melhor que todo mundo", está muito enganado. Comigo, isso não vai colar.

Já é fim de tarde e a luz dourada do sol começa a desaparecer no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e rosa. Estamos todos na rua de casa, pedalando e aproveitando o restinho do dia. O papai vai à frente, carregando o Benjamin na cadeirinha da bicicleta, enquanto os outros seguem atrás, cada um na sua própria bike.

— Me espera, papai! — grita Luana Maria, com aquela vozinha aguda de quem está tentando pedalar mais rápido do que pode, montada na sua bicicleta das princesas, ainda equipada com as rodinhas auxiliares. As tranças que mamãe fez mais cedo balançam conforme ela se esforça para acompanhar o ritmo.

— Papai tá aqui, filha. Não vou sumir! — ele responde, virando levemente a cabeça para trás, com aquele sorriso de pai orgulhoso e paciente.

Mais à frente, Enzo e Felippo estão em uma corrida intensa. Eles pedalam como se suas vidas dependessem disso, disputando para ver quem chega primeiro no final da rua. Posso ouvir a risada deles ecoando pela rua quase deserta, misturada ao som das correntes das bicicletas e ao barulho das rodas no asfalto.

Eu sigo no meu próprio ritmo, meio que no meio da confusão toda, observando a cena e sentindo uma onda de paz misturada com aquela alegria simples de estar com a minha família, curtindo um fim de tarde tão tranquilo e leve. Esse tipo de momento me faz pensar que, apesar das brigas e das zoações, a gente é muito unido. E é nesses detalhes que eu percebo o quanto amo tudo isso.

É engraçado como, apesar de terem personalidades tão diferentes, Enzo e Felippo estão sempre competindo. Qualquer coisa vira um desafio entre eles — quem é o mais rápido, quem sabe mais, quem tem razão. É como se eles vivessem numa eterna corrida para provar algo, e às vezes fico pensando se isso acontece por causa da pouca diferença de idade. Quando os gêmeos nasceram, o Felippo tinha acabado de completar um ano. Eu sei, parece que os números não batem, mas calma, mamãe não furou o resguardo nem nada assim. Acontece que, quando ela engravidou dos gêmeos, o Felippo tinha apenas quatro meses. Como os gêmeos nasceram prematuros, de sete meses, a diferença de idade entre eles é de apenas onze meses, o que tecnicamente dá quase um ano. Acho que por isso eles parecem estar sempre num cabo de guerra.

Enquanto os meninos continuam pedalando feito loucos, eu vejo Mariana mais atrás, se esforçando, mas claramente já ficando sem fôlego.

— Papai, estou cansada. — ela resmunga, soltando o guidão por um momento e balançando os braços, como se isso fosse ajudá-la a pedalar mais fácil.

Papai olha para trás, uma sobrancelha levantada.

— Cansada? Acabamos de sair, filha. — ele responde, com um riso leve. — Você precisa se exercitar mais.

Mariana revira os olhos, claramente sem paciência para o discurso de "atividade física" do papai. Ela sempre foi a mais vaidosa, toda preocupada com moda e aparência, e exercícios só entram no plano dela se estiverem relacionados a uma sessão de fotos ou desfile imaginário.

Mariana definitivamente não é fã de esportes, e pedalar aos domingos é como um verdadeiro tormento para ela. Enquanto os meninos continuam em sua competição, eu olho para ela, notando o jeito que seu rosto se contorce de desespero a cada pedalada.

— Ei, Mariana! — chamo, aproximando-me. — Que tal eu te acompanhar de volta pra casa?

Ela me lança um olhar de alívio que diz tudo.

— Sério? Você faria isso por mim? — pergunta, os olhos brilhando de esperança.

Com um sorriso, digo que sim. Afinal, como boa irmã e em agradecimento ao look maravilhoso que ela escolheu para mim na noite passada, é o mínimo que posso fazer.

Então, seguimos até o papai, que parece um pouco relutante em nos deixar voltar.

Depois de uma pequena discussão saudável, na qual ele tenta nos convencer a continuar, mas nós insistimos que já fizemos o suficiente por hoje, ele acaba cedendo.

O domingo passou voando, como sempre, e já é uma tradição na nossa casa pedirmos algo gostoso para comer. Cada domingo, um de nós sugere um prato, e papai faz o sorteio. Hoje, a sorte foi para a pizza, o que deixou Luana Maria super chateada, já que ela estava ansiosa para ir ao McDonald's. Mas ela não aceitou bem a derrota e, claro, fez a famosa birra, se jogando no chão. Agora, o choro dela ainda ecoa pela casa, e eu respiro fundo, quase perdendo a paciência e desejando tacar uma almofada nela.

Ah, qual é! A menina é insuportável às vezes. E tudo isso por causa do papai, que a mimou demais.

Enquanto saboreio a última fatia da pizza de pepperoni, meu celular começa a apitar freneticamente com notificações da minha rede social. Curiosa, abro as mensagens e vejo que Lucca decidiu finalmente responder.

“Não fui grosso, só objetivo.”

“Não chora não.”

“Vou porque minha mãe pediu muito.”

“E sim, é criança pra mim.”

Bufo, irritada com as respostas dele. Como ele pode ser tão insensível?

“Pelo jeito, nem ela tá te aguentando. Por isso entrou nas drogas? Falta de pai e mãe?”

Assim que aperto “enviar”, um arrepio de arrependimento percorre minha espinha. Ok, eu sei que fui longe demais. Não deveria me importar com o que ele diz, mas ele conseguiu me tirar do sério.

Fico pensando em cancelar a mensagem, mas já era tarde demais; ele já visualizou e parece que está digitando.

“Você não sabe nada sobre mim, então não fala nada não, criança.”

Dou uma risada anasalada involuntária, e isso chama a atenção dos outros na mesa. Eles me olham com curiosidade, e eu sinto meu rosto esquentar, percebendo que agora estou no centro das atenções.

— O que foi, Denise? — pergunta Mariana, com um sorriso malicioso.

— Tudo bem, filha? — mamãe pergunta, e eu respondo positivamente com um movimento de cabeça. Mas, na verdade, não sei mesmo.

“Não sei mesmo não. Por que será? Ah, já sei. É porque você nunca deixou papai ser o seu pai.”

“Já disse, não fala o que você não sabe.”

“Então me conta.”

Fico olhando para a tela do celular, esperando sua resposta, mas ele some de novo, me deixando com a pulga atrás da orelha e super curiosa para saber a versão dele.

Termino a minha pizza e olho para Mariana e Enzo, sabendo que o que vou dizer vai fazer os dois resmungarem.

— Ontem ajudei na cozinha, hoje quem dos dois vai?

Claro que a discussão entre eles começa, e papai logo dá um jeito, mandando um tirar as coisas da mesa e o outro colocar a louça na máquina. Sorrio com a situação, que é sempre igual, mas que, se não fosse assim, acho que nossa família não seria tão perfeita. É incrível como essas pequenas brigas e as risadas em torno delas tornam nossos domingos tão especiais.

— Eu não quero! — reclama Lorena, fazendo uma cara de desgosto.

— Ah, mas a De já ajudou ontem, e eu anteontem, então é a vez do Enzo! — responde Felippo, se aproveitando da situação.

— Não vale! Isso é injusto! — Enzo protesta, cruzando os braços.

No fundo, eu adoro ver essa dinâmica. É um lembrete de que, apesar de todas as nossas diferenças, somos uma família unida.

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