Capítulo 6

“Querido diário,

Hoje foi um dia MUITO especial! John me chamou para ir à fogueira de abertura dos jogos. Caracaaaaa, estou tão animada que poderia explodir! Ele é como um príncipe que saiu de um livro de fantasia, todo carinhoso, cavalheiro e gentil. E aqueles olhos? Brilham tanto quando ele me olha que é impossível não me sentir nas nuvens! Nunca pensei que eu pudesse ter tanta sorte!

Mal posso esperar para amanhã, depois da fogueira, contar tudo como foi. Estou tão ansiosa que vou sonhar com isso!

Beijos, Denise.”

Já faz uma semana desde que fui com John à lanchonete, e sinceramente, comecei a pensar que as coisas entre nós não estavam fluindo. Ele continua agindo como um amigo. Amigo esse que anda de mãos dadas, é super gentil e atencioso, mas… ainda assim, apenas um amigo. Confesso que comecei a questionar seus gestos. Não consigo afastar a sensação de estar sendo usada, como se ele estivesse comigo apenas para apagar aquela fama de 'garoto gay' que ganhou entre os outros.

Não que eu ainda não esteja me sentindo insegura com tudo isso. Mas, depois que ele me chamou ontem para a fogueira, uma pontinha de esperança se acendeu dentro de mim. Talvez as coisas possam realmente ficar mais sérias entre a gente. Quem sabe?

Já está escuro lá fora, e aqui estou eu, na minha milésima tentativa de escolher uma roupa decente. Nada parece bom o bastante. Primeiro, tentei o básico: jeans e uma camiseta. Aí olhei no espelho e pensei, "Sério, Denise? Parece que vai pra escola." Depois fui para um vestido florido que mamãe comprou e que nunca usei, mas quando me vi no espelho, parecia que eu estava pronta para um piquenique dos anos 50. Tentei mais uns três looks diferentes e, juro, cada um deles me gritou "Exageradoooo" na cara.

Agora, estou aqui, finalmente parada em frente ao espelho com uma blusinha branca simples, um macacão jeans e meus fiéis All Star. Cabelo preso em um rabo de cavalo bem casual, me fazendo ficar ainda mais parecida com a mamãe, já que nossos cabelos tem o mesmo tom de castanho. Nada espetacular, mas... talvez seja exatamente isso o que eu preciso. "Simplicidade é a chave," certo?

Saio do meu quarto ainda indecisa, procurando mamãe pela casa. Encontro ela na sala, sendo bombardeada pelos meus irmãos, que estão discutindo sobre quem sabe o que. Eles vivem brigando por tudo, especialmente quando querem a atenção dela. Mamãe, com aquela paciência de santa, tenta se concentrar no livro que estava lendo para o Benjamin, mas eu sei que sua mente está a mil.

— Mãe, o que você acha? — pergunto, já me preparando para o veredito, que poderia ser tanto um "você está ótima" quanto um "volta e tenta de novo, filha".

Ela levanta os olhos e me olha de cima a baixo, com aquele olhar de quem já passou por essas inseguranças e sabe exatamente como me sinto.

Ela me sorri, mas ao invés de me acalmar, sinto uma onda gigante de insegurança me engolir. Antes que eu possa afundar completamente nos meus pensamentos, vejo mamãe se levantar do sofá com uma energia que não esperava. Ela vem até mim, segura minha mão e me faz girar devagar, me analisando como se estivesse montando um quebra-cabeça.

— Falta alguma coisa — ela comenta, olhando-me com aquele olhar atento de mãe que sabe exatamente o que está faltando, mas gosta de fazer um pequeno suspense. — Já sei.

E antes que eu possa perguntar o que é, ela já está subindo as escadas. Fico parada ali, sem saber muito bem o que esperar. Olho para Mariana, que está jogada no sofá, me encarando com aquele olhar de julgamento que só uma irmã mais nova pode ter. "Sério que vai usar isso?", é o que seu rosto grita silenciosamente.

Ah, claro, como se ela fosse a rainha da moda.

Antes que eu possa retrucar ou me explicar, mamãe volta, trazendo algo nas mãos. Quando se aproxima, vejo o que ela está segurando: um par de brincos de argolas prateadas, delicadas, nada muito chamativo. Mas o que realmente chama minha atenção é o que está junto: uma correntinha fina, com um pingente de coração cravado de pequenos brilhos. Eu sei bem o valor sentimental daquela joia. Foi um presente que papai deu para ela há alguns anos, e agora ela está me oferecendo.

— Sério? — pergunto, surpresa, sentindo o coração disparar. Eu queria ter certeza de que era real antes de pegar as joias de suas mãos.

— Claro. Vire-se. Vou colocar em você.

Me viro de costas, segurando a respiração enquanto sinto o toque leve da mamãe ajustando o colar ao redor do meu pescoço. Depois, ela se posiciona ao meu lado, colocando o primeiro brinco com cuidado e indo para o outro lado para colocar o segundo. Há algo de reconfortante em seu jeito meticuloso e carinhoso.

— Falta o toque final, De — diz Mariana, se aproximando com um batom em mãos. Ah, claro, é aquele batom que papai a proibiu de usar, o quase-vermelho-escândalo.

— Obrigada! — digo, pegando o batom e indo direto para o espelho grande da sala. Passo o batom com cuidado, olhando atentamente para meus lábios enquanto a cor vai tomando forma. Sinto uma onda de confiança subindo junto com o brilho nos meus lábios.

Antes que eu possa admirar meu look por mais tempo, ouço uma buzina lá fora. O som é inconfundível: John chegou. Combinamos que ele viria me buscar para irmos juntos à fogueira. E depois de uma verdadeira batalha de argumentos e uma mamãe advogada no caso, meu pai finalmente concordou que John me traria de volta para casa. Um avanço gigantesco, diga-se de passagem.

— Ai meu Deus, ele chegou! — falo, nervosa, fazendo um check mental para garantir que estou com tudo: celular? Check. Documento? Check. Cartão de crédito? Check.

O nervosismo me dá uma fisgada no estômago. O que eu faço agora? Saio correndo ou espero mais um pouco? Ah, como eu queria que esses momentos de pânico adolescente fossem menos intensos.

Não tenho tempo para surtar completamente, então sigo em direção à porta, tentando controlar minha respiração e o nervosismo crescente. Mas, claro, nem tudo pode ser fácil. Sinto o “frufru” que amarrava meu cabelo deslizando pelo rabo de cavalo, e de repente, meus cabelos caem soltos, completamente desalinhados.

— Hey, Mariana, me devolve! — peço, minha voz tremendo de nervoso.

— Não! — responde ela, com firmeza irritante. — Assim fica mais bonito. Realça a sua beleza e deixa esse seu look... menos pior.

Mariana! — mamãe a repreende, lançando um olhar que faria qualquer um repensar as palavras.

— Desculpa, mas você sabe que é verdade, — ela responde, dando de ombros, sem a menor culpa.

Eu estava prestes a rebater, mas antes que eu pudesse, a voz de papai ecoa pela sala.

— Quem buzinou? É aqui? — Ele aparece na porta, ainda de terno, com uma expressão exausta, mas curiosa.

Ótimo, a última coisa que eu precisava era que ele começasse a fazer perguntas agora. Eu praticamente congelo quando seus olhos me alcançam, e meu coração dispara.

— É o John. É melhor eu ir logo, não quero deixá-lo esperando mais. — Tento escapar rapidamente, já sentindo o nervosismo crescer com a possibilidade de papai querer fazer um interrogatório.

Mas, é claro, ele não deixa barato.

— Espera, filha, eu te levo até lá.

Touché! Eu sabia que isso ia acontecer. Meu pai nunca perde uma chance de ser o superprotetor. A cena do encontro precisa ser mais embaraçosa?

— De jeito nenhum, amor. Outro dia você faz isso, — mamãe intervém, segurando seu braço e fazendo um gesto discreto, mas muito claro, para eu sair correndo antes que ele mude de ideia.

E é exatamente o que eu faço. Corro porta afora com o coração aos pulos e, assim que saio, lá está ele: John, parado ao lado do carro, todo cavalheiro, me esperando com um sorriso tranquilo.

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