Vitimas
Desde que fora expulsa da casa do pai, após ele descobrir a gravidez, a vida dela havia se transformado em um inferno sem janelas. Agora vivia sob o teto da amante de Tony, e, ironicamente, ex-peguete do próprio pai. Uma humilhação que queimava mais do que qualquer castigo que pudesse imaginar.
Ficava trancada a maior parte do tempo. Uma prisioneira sem grades, mas com paredes que pareciam respirar sua dor. Tony a visitava apenas quando o desejo o chamava, e ela já aprendera a reconhecer o som dos passos dele no corredor, o ranger do assoalho que antecedia o toque sujo na maçaneta.
Mas numa dessas noites, quando ele veio atrás de prazer e ela de sobrevida, seus olhos captaram algo que ele deixou cair: a chave.
Pequenina, quase insignificante. Um erro, um milagre, uma brecha no inferno. Disfarçou, engoliu o medo e a escondeu sob o travesseiro. Nos dias seguintes, observou Tony vasculhar o quarto, o rosto crispado, os punhos cerrados. Ele nunca a encontrou.
“Babaca”, murmurou