Fome
Sentada à beira da janela antiga, com os olhos perdidos nas sombras da floresta que cercava Valanca, Elvira deixou o silêncio da noite envolvê-la. A brisa úmida tocava sua pele como um sussurro antigo, e com ela, vieram as memórias. Vivas. Quentes. Sanguíneas.
A selva amazônica boliviana pulsava como um coração faminto naquela noite esquecida pelo tempo. Os soldados haviam montado acampamento, dias antes, homens brutos, exaustos, sujos de guerra e desejos sombrios. Elvira os observava em silêncio, oculta entre as sombras das árvores, como uma deusa vingadora, paciente, faminta.
Ela os seguia desde o amanhecer, ouvindo suas conversas rudes, testemunhando suas ações desprezíveis. Homens que se achavam deuses em terras alheias. Mas havia um que destoava. O tenente. Quieto. Discreto. Mas seus olhos… ah, seus olhos diziam mais do que sua boca jamais confessaria.
Foi numa tarde abafada que Elvira o viu com a indígena. Ela se aproximou silenciosa, envolta em folhas e perfume de sangue,