Tiro os sapatos.
Uma vozinha no fundo da minha cabeça disse para eu fazer isso, então eu apenas o faço. Descalça e andando na pontinha dos pés, caminho na direção do quarto principal. Pelo caminho, encontro várias peças de roupas jogadas, ao lado de um salto branco com o salto grosso. Eu não uso saltos assim. Fico encarando a porta do quarto do Isaac, com medo do que encontraria. Agora, não estou sentindo nada, estou apenas seguindo a minha intuição. Então reúno a pouca coragem que tenho e abro a porta. O quarto está escuro e muito bagunçado. Acendo a luz e não acredito na cena à minha frente. Dois corpos nus, e o lençol mal os cobria. Tinha uma morena com a cabeça deitada em cima do peito do Isaac, eles estavam dormindo tranquilamente. Comecei a respirar mais rápido e, de repente, minha cabeça começou a doer bastante. A minha mente está gritando apenas uma palavra: VINGANÇA. O que causaria um estrago na vida do Isaac? Fico pensando com a mente mais clara agora. Foi então que lembrei de uma coisa: o Isaac vinha trabalhando há dois anos na sua tese. Ele está quase finalizando o curso de medicina e é estritamente proibido pagar outras pessoas para escrever sua tese. O computador dele está em cima da bancada da cozinha, ele sempre o deixa lá. Saio do quarto de fininho, mas antes me lembro de um detalhe. Tiro meu celular da minha bolsa e abro a câmera. Tiro várias fotos do Isaac com a outra e gravo um vídeo, aparecendo. Você deve estar se perguntando por que estou fazendo isso. Pelo simples motivo de que ele pode negar tudo e tentar argumentar que sou maluca, eu nunca mexi no celular dele. Mas sabe quando pequenos sinais começam a piscar juntamente com um alerta de fumaça? 1. Quando uma pulga começa a inquietar sua mente; 2. Quando sua amiga diz que viu seu namorado na cidade quando ele deveria estar viajando; 3. Quando um funcionário do seu restaurante predileto liga confirmando a entrega de dois pratos de frutos do mar, duas sobremesas e duas garrafas caríssimas de champanhe; 4. Quando você liga para ele e cai na caixa postal; 5. Quando você consegue falar com ele, e Isaac parece completamente desinteressado no que você está falando. Começo a sair do quarto de fininho e desligo a luz. Tenho uma missão a cumprir. Caminho na ponta dos pés na direção da cozinha, tomando cuidado para não esbarrar em nada pelo caminho. Encontro o que quero: o MacBook do Isaac está em cima da bancada, aberto e ligado. Chegando mais perto da bancada, vejo que está aberto justamente na tese dele. Sem pensar duas vezes, eu apago tudo, entro na nuvem e apago os backups de outros arquivos importantes também. Entro na galeria do MacBook e percebo um detalhe triste. Não tem uma foto minha com Isaac. Não tem nenhuma foto minha. Só tem fotos dele, com os amigos e com a loira que está com ele agora na cama. Preciso sair daqui antes deles acordarem. Calço os meus saltos, pego a minha mochila e saio do apartamento com o coração se desintegrando aos poucos. Espero o elevador com impaciência, dando leves batidas no piso de porcelanato. Quero ir embora o mais rápido possível. O elevador finalmente chega, entro nele como um raio e aperto o botão do hall. Os sinais estavam bem claros, esfregados na minha cara. Eu fui tão inocente, tão ingênua, tão idiota por acreditar em todas as suas explicações mal colocadas. Quando finalmente chego no hall do prédio, passo pela recepção de cabeça baixa e chamo um dos muitos táxis que estão passando na avenida principal. Entro no carro que parou como uma bala e coloco minha mochila ao lado. E com todas aquelas informações, nada se encaixa, mas meu mundo desmorona. Minhas mãos tremem, meu coração palpita, comprimindo meus pulmões. Meu estômago sente a necessidade de expelir a última refeição. — Senhorita? — Ignoro aquele chamado. Todos os nossos momentos juntos não significaram nada para ele, cada detalhe importante era tudo uma farsa agora. — Senhorita, você está bem? — Olho para o motorista com raiva por estar atrapalhando meu momento de sofrimento. — Sim, estou bem. — Preciso saber o seu destino. — Ele pergunta, me deixando envergonhada. Não tinha percebido que não tinha dito o meu endereço. — Beacon Hill, bem na frente do prédio novo, o The Charles. — Respondo, oferecendo um sorriso fraco e tentando amenizar minha gafe.