Mundo de ficçãoIniciar sessão— Não… você realmente perdeu a cabeça.
Aisha ouviu Pedro gesticular enquanto falava. Ela continuava olhando pela janela, as mãos apoiadas no vidro frio. Lá fora, a rua ainda acordava. Era de manhã. Ela só tinha conseguido sair porque seu pai havia viajado, a única coisa boa naquele homem era quando ele desaparecia por dias. — Por que é uma má ideia? Se você soubesse o inferno em que eu vivo… Pedro a encarou com um misto de preocupação e pena. Ela detestava esse sentimento vindo das pessoas, mas parecia inevitável. — Aisha, isso é demais. Você sabe o risco? Você pretende realmente fingir ser aquela criança? Tem noção do perigo que vai correr? Ela tinha. Sabia muito bem. Mas, para descobrir a verdade, faria qualquer coisa. — E mais: o que você pretende fazer com um homem como Artem? — Pedro insistiu. — Você enlouqueceu de vez. — Não sei — Aisha disse, seca. — Talvez descobrir por que ele fez aquilo com a minha irmã… e depois cortar a garganta dele enquanto dorme. — Ela forçou um sorriso, tentando transformar a raiva em piada, mas Pedro continuava com o rosto fechado. — Aisha, se eles descobrirem, o inferno que vão fazer você viver é pior que o inferno do qual está tentando fugir. Eu não apoio isso. É arriscado demais. E se a criança verdadeira voltar? Aisha deu de ombros. Para ela, nada era mais importante que Cassandra. Ninguém nunca buscou justiça pela irmã. — Ela não vai voltar. Sumiu aos sete anos. Nunca mais foi vista. Por que voltaria agora? — Ela respirou fundo. — E convenhamos… coincidência demais a menina ser albina como eu, não acha? — Eu sei, também fiquei surpreso. Mas, Aisha, não esqueça um detalhe: ela é cega — ele disse, quase gritando. — Nada impossível. Eu já vivo de óculos escuros. Fingir que sou cega não vai ser tão difícil. Pedro ergueu as mãos, rendido. — Eu desisto. Você está decidida a fazer essa loucura. — Só preciso saber onde ele está vivendo agora. — E se seu pai descobrir? Já pensou na guerra que isso vai causar? — Meu pai está mais ocupado tentando me vender por poder. Se eu sumir, ele coloca a Hana no meu lugar. — Isso é loucura. Eu não quero me envolver nisso. — Pedro… no momento em que você começou a trabalhar pra mim, já estava envolvido. Se não me passar os detalhes, eu mesma vou descobrir. Ele suspirou, derrotado. — Está bem. Mas será do meu jeito. Primeiro, vou enviar você para um convento. Aisha o olhou, incrédula. — Um convento? Eu não quero virar freira. — É lá que Olga vai te encontrar. — Quem é Olga? — A mãe de Artem. Ela está procurando a criança. Será sua ponte. Toda semana ela visita aquele convento. Você vai para lá, conta sua história às freiras e, provavelmente, elas entrarão em contato com Olga. — Só isso? Fácil assim? — Você está brincando comigo? — Pedro esfregou o rosto. — Sua vida vai começar a correr perigo no minuto em que você pisar no território de Artem. Ele está morando em Moscou. — Você sempre soube…? Por que não me contou antes? — Para o seu próprio bem. Aisha, você tem certeza de que foi ele o responsável pela morte da sua irmã? — Quem mais seria? Cassandra não tinha amigos, só trabalhava. A única pessoa que conviveu com ela nos últimos meses foi ele. Pedro se aproximou, sério. — Se algo der errado, não pense duas vezes. Fuja. Entendeu? — Entendi. Quando tudo acabar, deixarei tudo para trás. — Você pretende entregá-lo à polícia? — Pedro, não seja ingênuo. A polícia não vai fazer nada. Eu vou matá-lo com as minhas próprias mãos. Sei que parece impossível, mas fingindo ser uma cega submissa… eu vou enganar todo mundo. Ele fechou os olhos, resignado. — Está bem. Vou preparar tudo para sua fuga. Mas seja discreta. Ninguém pode descobrir seu plano. — Já está tudo pronto. Esta noite eu fujo daquele inferno… e seja o que Deus quiser.






