12. Um Cara Tentou Me Sequestrar

Luciana

Ah... uma cantada barata.

Revirei os olhos. Afinal, faz sentido ele me usar para se livrar de garotas chatas. Além disso, se ele fosse ficar com alguém naquela noite, não íamos ter nossa aula mais tarde. E ele tinha o dever de cumprir sua parte, pois estava sendo pago para isso. Então, tomei mais um gole de Skol Beats e disse:

— Eu libero você hoje.

— Não quero ser liberado. — Ele disse, fazendo uma cara feia. — Você se livra de mim muito facilmente, Luciana.

— Ué?! — Exclamei. — Você quer que eu banque a sua namorada?

— Qual seria o problema? — Ele perguntou. — Nós já nos beijamos.

— Ah, ta! — Eu tive vontade de rir, mas estava com a boca cheia de Skol Beats. Então, tive que segurar. Christofer parecia ser do tipo que não namorava nem se a garota engravidasse. Ele estava muito piadista. — Se não quer sair com ninguém, basta falar.

— Eu fiz isso. — Ele disse. — Mas, não precisaria se você me agarrasse.

Cuspi a bebida numa chuva de gotículas.

Christofer gostava de garotas histéricas e possessivas desde quando? Pelo que bem sei, a ex-namorada dele fez um barraco e quebrou os instrumentos dele e eles não estão mais juntos. Tem algo errado nessa história.

— Ah, desculpe. Vou fazer o tipo ciumenta. — Forcei um pigarro e endureci o tom de voz. — Christofer Prescott, se você olhar para outra garota eu queimo suas roupas!

— Exagerada. — Christofer deu um sorriso e pegou minha cintura com a mãos. — Mas, está melhorando.

— O que vai fazer? — Perguntei, vendo que ele se aproximava perigosamente, e não pude afastá-lo por estar com as latinhas em mãos. Christofer me beijou com a naturalidade de quem já é casado há 50 anos. Mas, a malícia era de um jovem cheio de hormônios. Ele se insinuou para dentro dos meus lábios e os prendeu com os seus.

Inspirei e fiquei nervosa.

Eu estava tão tranquila e ele me deixou tão nervosa!

Fiquei toda arrepiada e ruborizada. A língua dele era muito quente. Meu Deus, estávamos em público. Por que ele fez isso? Se, segundos atrás, tinha outra garota aqui, ansiosa para provar o sabor dos lindos lábios dele. Passei a língua na dele, e aquilo me acalmou. Minhas sobrancelhas estavam unidas naquele momento, e eu fiquei abalada de verdade.

Ele era irresistível, de verdade.

Mas, meu coração ficava um pouco angustiada toda vez que estávamos assim, pois eu sentia que nossa amizade ficava confusa. E eu não queria que ficasse.

Tenho pavor de homens disputados como Christofer. Eu precisava agir antes que alguém mais nos visse e inclinei meu corpo para trás, fugindo dos lábios dele.

— Chega, né? Eu pensei que a aula ia ser em casa. — Comentei.

— Eu sei. — Ele disse, me puxando em sua direção de novo. — É que não consigo resistir.

Ele me beijou de novo, e sua mão subiu das minhas costas para minha nuca. Não tinha como sair, e não dava vontade de sair do enlace dele.

Eu não sou uma adolescentezinha caindo na tentação do badboy que fica com todas. Virei o rosto, buscando um meio de conseguir falar. No entando, ele lambeu meu pescoço e eu me arrepiei dos pés à cabeça. Senti um ardor na sola do pé. Que loucura.

Meus pelos dos antebraços se eriçaram completamente, ao ponto de dor. Ele se aprofundou no meu pescoço mais e mais e, se eu não recuperasse o controle de mim, ia cair de joelhos.

— Chega. — Pedi, e ele parou instantaneamente.

— O que houve? — Christofer perguntou, preocupado, mas depois aqueles grandes olhos azuis ficaram fixos um pouco mais abaixo.

Eu nunca mais vou usar um sutiã sem bojo na vida. Os meus mamilos estavam quase furando a blusa por causa dos calafrios que sofri.

Christofer só parou de olhar quando cobri meus seios com os antebraços e me virei de costas.

— Você não viu nada! — Reclamei, completamente ruborizada. Eu queria enfiar o rosto na terra e passar cem anos ali. Ele viu como me deixou, que saco. Que vergonha...

— Por que está escondendo? São lindos. — Ele perguntou, sem me tocar.

— Que saco, finge que não aconteceu nada! — Exigi, eu não queria que ele falasse sobre aquilo.

— Tudo bem, se for te deixar confortável eu finjo que não vi nada. — Christofer falou.

— Obrigada. — Suspirei. E ficamos em um silêncio confortável.

— Mentira, não consigo parar de pensar nos seus peitos. O que preciso fazer para que você os mostre a mim?

— Christofer! — Gritei. Meu rosto estava carbonizando como se eu tivesse metido o rosto numa fogueira.

De repente, senti as mãos dele deslizando pelos meus antebraços. Ele estava me abraçando por trás.

— Estou brincando com você. Gosto de te ver vermelhinha. — Ele deu uma risadinha e eu suspirei.

— Ridículo. — Suspirei e revirei os olhos. Mas, ele ia passar constrangimento por ter brincado comigo daquela forma. — Escute, que história foi aquela de dizer que é fiel? Você não pegou a prima da sua ex?

Christofer revirou os olhos.

— Já tínhamos terminado. — Ele disse. Depois, me soltou e se afastou um pouco.

— E importa? — Falei, cruzando os braços e continuei alfinetando. — Se meu ex pegasse uma prima minha, eu acho que nunca ia perdoar.

Christofer ficou chateado com o que falei, pois seus olhos ficaram amargurados. Ele disse:

— Luciana, o que pensa de mim? Sinceramente.

— O que penso de você? — Repeti a pergunta dele para pensar com cuidado nas palavras.

Excelente pergunta. Boa, mesmo. Eu não tinha uma resposta pronta que não fosse ofendê-lo, então o melhor era me fingir de sonsa. Enquanto eu fazia isso, Renan se aproximou de nós, bêbado, caindo sobre as próprias pernas, e perguntou:

— De onde vocês se conhecem? Por que estão namorando?

Eu não sabia se eu ria ou se enxotava ele dali. Renan fazia parte do grupinho odioso de Estela que falava mal de mim.

Renan conhecia Otávio, se era mesmo amigo de Christofer. Então, eu deveria começar a morrer de medo que chegasse aos ouvidos de Otávio essa mentira de que eu estava namorando com Christofer.

— Sai daqui, Renan! — Christofer se irritou antes de mim.

— Você não tinha namorada? — Renan insistiu. O rosto de Christofer adquiriu uma expressão sinistra. — Responde, Chris!

Se a namorada a quem Renan se referia era a ex que quebrou os instrumentos de Christofer, então os dois amigos não se encontravam há algum tempo. Talvez Renan faltasse o Taekwondo como faltava as aulas da faculdade.

— Como você é babaca! — Christofer disse. — Vai ficar falando da minha ex na frente da Luciana?

Renan deu um passo à frente e pisou em falso. Toda a sua caneca de cerveja caiu no peito de Christofer, molhando sua camiseta.

Eu admiro a paciência de Christofer, que respirou fundo e não quebrou a cara do colega ao ver os estragos em sua roupa.

— Desculpa! — Renan tentou consolar e abraçar Christofer depois de fazer aquela besteira, como se fosse resolver alguma coisa. Eu queria muito ver o desfecho dessa trapalhada, mas minha bexiga reclamou. Eu não devia ter bebido tanto. Deixei eles discutirem ali e fui ao banheiro.

Eu confesso que sou bem fraca com bebidas. Joguei uma água em meu rosto na pia e, quando dei por mim, havia algumas pessoas atrás de mim no banheiro.

— Certas pessoas não se enxergam. Alugar um acompanhante é muita carência, mesmo. — Uma voz familiar disse.

Virei o rosto e notei que se tratava de Estela e duas amigas. Elas falavam de mim, mas não comigo. Era sempre assim: apelavam para a máxima “se a carapuça serviu”. Nunca falavam nada na minha cara.

Eu estava bêbada, então não tinha medo de responder, ainda que não tivessem me perguntado nada:

— Vai se ferrar, garota!

E saí do banheiro dando dedo do meio para elas.

Depois disso, fui me trancar numa sala vazia para chorar um pouco. Eu sabia que, se me vissem com Chris, iam comentar esse tipo de coisa. Por isso, evitei tanto que fôssemos flagrados juntos, mas ele não entendeu isso.

Eu também tinha medo de as pessoas nos virem indo juntos para casa e acharem que éramos namorados... e depois ele aparecer com outra garota. Afinal, ele tinha direito a ter sua vida particular intacta, ele tinha que continuar saindo com as pessoas que quisesse.

Mas, eu queria que ele também mantivesse a minha vida particular intacta, e ele não estava tendo esse cuidado.

Horas se passaram e eu chorei e pensei no que estava fazendo. Que grande besteira eu estava planejando com Christofer? Não era melhor esquecer Otávio?

Lembrei do meu médico favorito me perguntando como foi meu dia no consultório. O sorriso dele, o seu jeito descontraído de se importar comigo.

Ninguém mais serviria.

Tinha que ser Otávio.

Ele não ia ter uma fila de mulheres me encarando e querendo me matar. Ele não é esse tipo de homem, ele é um cara exclusivo. Que não iria me fazer sentir ciúme ou insegurança. Ninguém jamais quebraria nada dele. Aposto que ele terminou seus casamentos na paz e na conversa madura. Ele é maduro.

Christofer só pode oferecer turbulência, e eu tenho pena de quem possa se envolver com ele.

Quando saí da sala vazia já era um pouco tarde. A música tinha acabado.

Provavelmente, Christofer tinha ido embora. Então, achei melhor pegar um táxi até minha casa, era mais rápido e eu estava bêbada demais para pensar com coerência. O ambiente estava começando a ficar perigoso pela hora. O último ônibus interno era 22 horas, e devia ser mais tarde do que isso.

Vi as luzes dos postes como borrões na minha frente, e caminhei até o ponto de ônibus. Minha cabeça ainda doía. Por mais que agora estivesse silencioso, a caixa de som ficou estourada no máximo durante a noite toda.

— Aonde pensa que vai, sua retardada? — Ouvi a voz de Estela nas minhas costas. Ela veio atrás de mim, gritando. Ela estava sozinha. — Finalmente te achei. Pensou mesmo que ia falar daquele jeito comigo e ia escapar ilesa?

Eu queria muito ter forças para responder à altura, mas eu estava tão bêbada que somente apontei para ela e ri. Estela detestou o deboche e se aproximou perigosamente. Ela empurrou meus ombros com força e eu não consegui me equilibrar. Eu caí para trás, sentada. Ela ficou rindo de mim e tirou umas fotos, indo embora em seguida.

Minhas mãos ficaram sujas de folhas secas e terra, e eu grunhi alguns palavrões enquanto me levantava para ir embora. Limpei minha calça com a força do ódio. Minha bolsinha a tiracolo também ficou suja.

Maldição de festa. Estela só faz isso comigo quando não estou com Alessandra, pensei.

Continuei andando até o ponto de ônibus, irritadíssima. Eu queria socar alguém, queria chorar, não sei. Precisava, urgentemente, extravasar todo aquele ódio que recebi gratuitamente. Era bom, mesmo, eu ir embora.

Inesperadamente, um perigo novo surgiu.

Um cara bloqueou meu caminho, vindo de trás de uma árvore. O homem parecia ter uns 30 anos, não devia ser um estudante. Tinha uma cara nojenta de assediador, eu nunca vi aquele homem na vida.

— Ei, gatinha, aonde vai com tanta pressa? — Disse ele. — Ainda está muito cedo.

Ele era alto, bem alto. Ou, eu que sou baixinha demais.

— Com licença. — Tentei passar pela lateral, mas ele puxou meu braço. Senti um solavanco forte, sem nenhuma intenção de ser gentil. — Pode me soltar, por favor?

— A noite está apenas começando. — Ele apertou meu pulso com tanta força que senti a pele queimar. Em seguida, indicou seu bolso, onde pude ver um objeto reluzente escondido, mas que ele revelou parcialmente para mostrar que o tom da conversa mudou.

Uma faca.

Eu estava sendo ameaçada. Entendi.

Ok, eu estava em apuros. Ele começou a me puxar pelo pulso, e eu entendi que ele ia me machucar e fazer algo abominável comigo, então gritei. Caí de joelhos, não queria ser arrastada por ele.

Senti quando ele tirou o canivete do bolso e colocou a lâmina gelada no meu rosto e disse:

— Se gritar de novo, eu vou ter que machucar esse lindo rostinho.

Ah, não. Aquilo não estava acontecendo.

“Eu vou morrer?” Pensei.

Continuei chorando silenciosamente e tive que me levantar, sendo arrastada com grosseria e violência, como quem puxa uma sacola que ficou presa a um obstáculo. Meu pulso estava ardendo.

O homem me arrastou aos trambolhões um pouco mais. Eu estava paralisada, horrorizada e congelada. Não entendi nada do que estava acontecendo, mas meu alarme natural estava em pânico. Tropecei umas 3 vezes, deixando o homem ainda mais irritado tendo que me erguer com um chacoalhão.

Eu queria gritar de novo, mas senti muito medo. E, estávamos chegando perto de um carro que eu achei ser dele. Meu tempo estava acabando. O que ele ia fazer? Me agredir, me violentar e depois me jogar num matagal?

Não! Socorro! Eu tentei parar, tentei fazer forças para trás, mas fui puxada com agressividade e caí, ralando os joelhos mais um pouco. Minhas pernas travaram completamente. Ele ia me surrar se eu não conseguisse me levantar, mas eu não conseguia mesmo. Ele começou a me arrastar puxando pela blusa, mas eu resisti sentada. Ele vociferou palavras criminosas e abomináveis a meu respeito, e ia me dar um segundo puxão, pelos braços, mas não teve tempo.

Uma mão grande cheia de veias empurrou a cabeça do homem contra a árvore de forma truculenta. Foi muito forte, eu só ouvi o estalo seco e o criminoso caindo sobre as raízes da árvore. Eu me assustei tanto que me arrastei para trás, tremendo.

Era Christofer. Ele estava com sua expressão misteriosamente tranquila, a mesma que eu vi em seu rosto no dia em que Gustavo me empurrou.

— Luciana, sai daqui. — Christofer murmurou, vendo que o homem se levantava. Sei que Christofer estava tentando se manter calmo, mesmo diante daquela situação assombrosa.

Ele queria que eu não visse alguma coisa? Eu queria gritar e dizer que aquele homem estava armado, mas não consegui falar nada. No estado mental em que eu estava, só consegui obedecer.

Eu assenti. Lentamente, rastejei na direção oposta e levantei para correr. Dei alguns passos, me afastando o quanto pude. Eu só ouvia minha respiração, de tão alta que estava. De repente, ouvi um estalo e um grito. Cobri meus ouvidos para não entrar em choque e acabei de joelhos no chão, lacrimejando.

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