11. Ele Me Ilude

Luciana

— Sexo? — Repeti.

— Exato. — Christofer respondeu, mordendo o lábio inferior. Estava sério. Acho que ele queria que eu fizesse alguma correlação, mas confesso que minha inteligência é limitada.

Fiquei morrendo de vergonha. Ele sabe que eu não entendia nada sobre sexo.

— Eu não sei fazer isso. — Reclamei. Perdi o BV outro dia, quanto mais ver um pênis.

— Você pode aprender. — Christofer disse. Algo me diz que ele queria passar uma mensagem com isso. Não captei.

Anteriormente, Christofer tinha falado que eu ia ter que beijar o Otávio. Agora estava vindo com esse papo, o que ele queria? Eu não sei se preciso ir tão longe assim para conquistar o Otávio.

Bem, uma coisa que Christofer disse é real: que chance eu tenho se não fizer isso? Otávio já deve ter saído com muitas mulheres, como uma inexperiente pode ter chance?

— E se eu assistisse alguns filmes pornográficos? — Suscitei.

— Todo adolescente vê filmes pornográficos, Luciana, e nem todos sabem transar. — Christofer explicou didaticamente, tocando a ponta do meu cabelo.

— Você pode me ajudar? — Perguntei.

— Como? — Ele indagou, se fazendo de inocente.

— Me explicando alguma coisa. Algum truque. Eu não sei. Você entende dessas coisas, não é? Eu estou te pagando.

Christofer suspirou.

— Vou ver o que posso fazer por você. — Ele disse, vitorioso, ainda que chateado. Acho que deixei alguma ponta solta na conversa, não sei. — Bem, até mais, Luciana.

Christofer estava frustrado. Ele estava acostumado a conquistar as pessoas com facilidade, e eu juro por Deus que ele chegou bem perto. Por sorte, ele não faz meu tipo, senão eu não sei que loucuras poderiam acontecer.

Sei que ele estava brincando comigo como um gatinho zombando do rato indefeso. Eu não sou um brinquedo.

Uma coisa era verdade. Otávio era um homem de 35 anos, sem tempo para minhas piadinhas e meu jeito envergonhado.

Assim como Christofer também dificilmente ia se sujeitar a uma pessoa tão infantil quanto eu se eu não estivesse pagando. Eu tinha plena certeza que para conquistar o coração de qualquer um dos dois era preciso ser uma atriz pornô, no mínimo.

Suspirei.

Christofer jogou a garrafa no lixo e eu o levei até a porta.

Quando fiquei a sós comigo mesma, Alessandra saiu do quarto de hóspedes, de roupão e com as minhas pantufas de pantera cor de rosa, rindo. Eu nem a vi saindo do banheiro, provavelmente ela viu alguma coisa ali na sacada.

— O que aconteceu ali? Saí do banho e vocês estavam se pegando pra valer. — Ela comentou, ansiosa pelas boas novas. Infelizmente, ia se decepcionar.

— Ai, amiga, não aconteceu nada. — Murmurei. — Estamos treinando vários tipos de beijos, mas você sabe como eu fico quando sou enquadrada. Na hora eu fiquei nervosa e acabei falando do Otávio. Eu não sei se fiz bem.

— Fez muito bem. — Alessandra disse.

— Sério?

— Não, idiota! Você só faz merda. — Ela ralhou comigo. — Ele nunca mais vai querer nada com você depois disso.

— E você acha que ele quis algum dia? — Segurei meu queixo, refletindo estilo escultura grega.

— Óbvio. — Ela apontou para os céus, como se perguntasse a Deus por que eu não passei na fila de distribuição de cérebros. — Amiga, ele te protegeu. Ele foi legal pra caralho.

— Ele só não é um bucéfalo como outros caras. — Resmunguei.

— Ou, ele pode estar com o orgulho ferido porque você quer o irmão dele.

— Mas, foi ele que propôs essa situação! — Cocei a cabeça com o indicador.

— Eu também não sei, mas o fato é que já é a segunda vez que ele te salva. Eu, por muito menos, estaria apaixonada. Aliás, por muito menos estou grávida.

Cruzei os braços e fiquei pensativa.

— Ou ele é muito legal ou eu sou muito desastrada. — Sacudi a cabeça e resolvi mudar de assunto. — E aí, já decidiu o que vai fazer?

— Já. Mandei o vídeo para o meu pai.

***

Alessandra ficou esperando a resposta dos pais, que não chegou imediatamente. Eles estavam viajando.

Ela precisava de um tempo para relaxar depois de tanta confusão e foi para sua casa. Eu me ofereci para ficar com ela, mas senti que ela preferia pensar sozinha.

Bem, eu não tinha desculpas. Tinha que ir para a aula para anotar a matéria para ela. Afinal, nós não conversávamos com mais ninguém na turma. Sem meu celular ia ser difícil fingir que não existo, eu precisava comprar outro.

Preguiça.

Suspirei.

Tudo bem.

Naquele dia, para o meu azar, o professor esqueceu de olhar o relógio e só notou que a aula tinha acabado quando as pessoas começaram a se levantar para ir embora. Quando eu estava saindo, vi que tinha uma festinha acontecendo no gramado. E, para minha surpresa, quem me esperava na saída do prédio?

Ele.

Christofer estava ali. Não posso negar que nosso acordo era o que o motivava a estar ali, ja que ele saiu da minha casa bem chateado.

Ele me viu e abriu um sorriso. Ah, aquele sorriso lindo. Eu acho que nunca tive um amigo tão bonito.

Acho que todas as teorias de Alessandra estavam erradas, ele não estava chateado, o que é bom. Meu plano para conquistar Otávio respirava por aparelhos, mas existia.

— O que está fazendo aqui? — Indaguei, tentando não parecer grossa..

— Boa tarde para você também, azedinha. — Christofer se aproximou e me deu um selinho como se fosse a coisa mais simples do mundo. De novo. Olhei em volta para ver se nenhum conhecido tinha visto isso e, sim, um colega tinha visto. Renan: o aluno fantasma.

Para minha surpresa, ele veio andando até nós. Eu fiz uma careta de confusão, mas Renan falou com Christofer:

— Estão namorando?

Entortei o rosto. Como ele ousava perguntar isso?

— Se manca, garoto. — Respondi.

— Sim. — Christofer falou, abusado. Quase o fuzilei com os olhos naquele instante.

— Não, não estamos. — Corrigi, e Renan ficou com uma interrogação na cabeça. Deu de ombros e disse para Chris:

— Você vai para o Taekwondo hoje?

Ah, eles se conheciam. O mundo é, realmente, pequeno. Mesmo assim, ele não tinha nada a ver com isso.

— Não, eu tenho um compromisso. — Christofer respondeu, dando a entender que era óbvio. Os lábios de Renan se curvaram em um “Oh” e ele se retirou depois de alguns segundos de confusão.

— Escute, por que falou isso? Sabe que é mentira. — Falei.

— Eu só queria ver a cara dele. — Christofer sorriu e apertou minha bochecha.

— Mesmo assim, vai que as pessoas acreditam? E se o Otávio souber disso?

— Acho muito difícil. — Christofer deu de ombros.

— Você faz o que quer. — Cruzei os braços. — Aliás, o que te faz pensar que eu planejava te ver hoje?

— Mas, eu queria te ver. — Ele disse, jogando a informação toda para que eu sedimentasse. Depois, cruzou os braços. — Por que não queria me ver? Tem planos melhores? Com quem?

— Bem, eu queria beber. — Falei, apontando para a festa.

— Pode beber, eu espero. — Ele disse, pegando minha mão e andando em direção à aglomeração. Christofer, realmente, não tinha problemas com contato humano.

— Eu não queria… — Hesitei. Eu ia falar que não queria ser vista em público com ele. Bem, eu não estava sendo muito legal com Chris ultimamente, então simplesmente segui andando com ele.

Era incrível como Christofer chamava a atenção. Cada passo que ele dava uma nova garota olhava para ele e ficava de queixo caído. Eu estava vendo a hora que ele ia pedir licença para pegar alguma.

Fui procurar a tendinha que vendia Skol Beats porque cerveja me dava enxaqueca e eu não estava aparecendo no consultório de Otávio para ganhar uma balinha ultimamente. Comprei logo três latas por 12 reais. Eu nem tinha mãos para segurar todas, mas Chris segurou a terceira para mim.

— Você não vai beber, não é? Está dirigindo. — Perguntei a ele.

— Pode beber. — Ele disse, observando o palco. Tinha um DJ bem ruim colocando uns funks novos que eu não conhecia.

— A gente vai para o seu apartamento depois daqui? — Indaguei. Seria engraçado se eu saísse da festa com um cara lindo e ainda fosse para o apartamento dele. Nunca tinha me passado pela cabeça que estava ao meu alcance esse tipo de experiência agora.

— É claro. — Ele respondeu bem rápido e me olhou com curiosidade. De novo, achou que a resposta era óbvia. Eu fiquei um pouco envergonhada. Não era todo mundo que tinha um amigo assim tão lindo. Eu acho que poderia chamá-lo de amigo, já que ele fez muito mais por mim do que outras pessoas que eu tinha chamado de amigo anteriormente.

Uma garota passou por nós e até entortou o pescoço ao olhar para Christofer. Ela disse:

— Beautiful.

Ela achou que Christofer era gringo? Eu cuspi Skol Beats pelo nariz, explodindo em risada.

— Vai lá. Eu te espero. — Comentei. Meu nariz queimava como se eu tivesse enfiado cigarros neles.

— Estou de boa. — Christofer respondeu, sorrindo um pouco por me ver tossindo.

— Mas, olhe, você é a sensação da festa. Tem que aproveitar. — Comentei. Que idiotice eu falei. Era corriqueiro ele ser o centro das atenções. Não sei dizer se ele gostava, mas, certamente, não se incomodava. Afinal, ele estava acostumado com o centro do palco em seus shows. — Não é surpresa para você ter esse amontoado de mulheres ao redor.

Cocei a testa. Senti olhares ferozes sobre mim e percebi que dar a impressão de que estamos juntos pode ser perigoso. Uma garota estava me olhando com um ódio intenso, como se fossem sair facas dos olhos dela.

Suei frio.

Entendi o que as namoradas dele passam e me lembrei, mais do que nunca, por que eu prefiro homens maduros. Imagina quantas vezes Christofer já viu mulheres brigando por ele.

Eca. Dei uma risada sozinha, pensando que eu ia apanhar à toa se não saísse de perto dele urgentemente.

— A vida é engraçada. — Christofer comentou, mas era como se pensasse alto. — Já sentiu que a única pessoa que te interessa é a que te evita?

— É claro que sim. — Respondi. — Esqueceu que estou interessada em Otávio e ele me despreza?

Christofer suspirou.

— Sim. Sempre Otávio. — Ele comentou e eu uni as sobrancelhas. Eu não sei se suportaria aquela indisposição dele toda vez que falo de seu irmão. Não tenho culpa se eles não se dão bem, se Christofer me prometeu que poderia me colocar em contato com Otávio, ele tinha que se virar para conseguir cumprir o trato.

Terminei minha primeira latinha e a joguei no lixo. Quando voltei, Christofer estava conversando com uma garota. Quero dizer, ela estava passando os dedos no braço dele, praticamente se jogando nele.

Eu fiquei um pouco rígida em relação a esta situação. Eu dei graças a Deus que não tínhamos nada, senão eu teria ficado irritada porque eu só virei as costas e já tinha uma garota desesperada o assediando.

Ser namorada de Christofer deve ser um inferno. É preciso ser muito bonitona e segura de si para não enlouquecer.

Christofer se livrou da garota em dois minutos, e andou até mim.

— Por que não voltou?

— Porque você estava ocupado. — Comentei, abrindo a segunda latinha.

— Não, eu estava esperando você voltar para ajudar a me livrar daquela garota. — Ele disse.

— Como eu vou saber que você não ia querer ficar com ela? — Perguntei, enchendo a boca com um gole grande de Skol Beats.

— Por que eu iria querer ficar com ela? Eu sou fiel. — Ele murmurou e eu arregalei os olhos. Christofer era comprometido? Eu já pensei em dezenas de xingamentos para acabar com ele, mas achei melhor ver se tinha entendido direito.

— Está namorando de novo e eu não sei? — Fiquei confusa.

— Estou. Com você.

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