10. Encurralada nos braços dele

Luciana

Uma torrente vermelha jorrou na metade inferior do rosto de Gustavo. Ele soube pela dor que seu nariz estava quebrado e começou a se engasgar com o próprio sangue que escorria.

Ainda tentava entender o que tinha acontecido.

— Sem brigas aqui! — O garçom tentou interceder por Gustavo.

— Sem brigas, né? — Chris estava irritado, apesar de contido, mas precisou sentir a mão de Alessandra em seu ombro para perceber que tinha que terminar o confronto naquele momento. Gustavo gorgolejava de falta de ar por ter caído sobre o banquinho e batido as costas. Estava inalando sangue. — Quando esse otário empurrou a Luciana no chão ninguém fez nada!

As pessoas só olhavam.

— Deixa, Chris. — Murmurou Alessandra, puxando-o. — Temos que ajudar a Luci. Esse babaca não vai mais fazer mal a ninguém.

Meu braço estava todo arranhado. Meus quadris pareciam ter 87 anos. As pessoas ajudaram Gustavo, que estava no chão com falta de ar, mas a Luciana que se fodesse, pensei comigo mesma.

Tateei os destroços do meu celular procurando o chip e consegui encontrá-lo, para minha sorte. Pelo menos isso.

Meu segundo celular indo para a vala em menos de uma semana. É Deus me mandando estudar e largar as redes sociais.

Alessandra e Christofer me ajudaram a ficar de pé. Eu me sentia como aquelas pessoas que andam muito tempo depois de fazer fisioterapia: cada passo era uma conquista.

— Você consegue andar, Luci? — Christofer perguntou. As mãos dele estavam bem quentes.

— Consigo. Ai! — Coloquei a mão nas cadeiras, contrariando o que eu acabara de dizer. — Meu cóccix.

Christofer suavizou a expressão e me pegou no colo. Notei como seus braços eram fortes e musculosos. Quer dizer, como se aquele soco também não tivesse revelado isso. Eu me sentiria bem protegida por aqueles braços se fôssemos namorados.

O loiro estava bastante irritado, mas contido. Parecia controlar sua raiva muito bem, e admirei isso.

Pude reparar em sua expressão quando olhei para cima. Eu fiquei meio ruborizada por estar nos braços do único cara que já beijei na vida. Mas, foi por causa do acordo, então tudo bem.

Christofer olhou para trás, o que me fez olhar também. Alessandra apressava o passo para nos acompanhar, e Gustavo observava seu próprio rosto pela câmera do celular, vendo o dano em seu nariz. Enquanto isso, os garçons buscavam gelo e toalhas para ele secar o rosto. Tinha uma ambulância a caminho para ajudá-lo e os clientes do bar começaram a se retirar.

Alessandra nos acompanhou até ficar ao nosso lado, cheia de vergonha.

— Esse não vai fazer besteira por um bom tempo. — Murmurou Christofer, e continuou andando até o carro dele.

— Ele é capaz de ainda prestar queixa contra você. Conheço esse tipo de covarde. Vamos embora. — Comentei, aproveitando a carona humana que eu tinha conseguido.

— Olha, se eu for preso, quando eu sair eu mato ele. — Christofer levantou uma sobrancelha. Eu gostei de observá-lo assim de perto, sua clavícula era delineada e forte.

Por que estou pensando isso? Mordi o lábio e nem reparei que tínhamos chegado ao carro dele. Christofer abriu a porta.

— Calma, Chris. Aonde vai me levar? Não é para o hospital não, é? — Perguntei, me agarrando ao pescoço dele para não ter esse fim.

— E não é óbvio? — Ele perguntou.

Tremi.

— Não, por favor! — Implorei, fincando os dedos na camiseta dele, quase rasgando-a, mas ele me ignorou. Não estava tão tranquilo assim quanto parecia.

Christofer me colocou no banco do passageiro do seu carro. Só agora reparei que era um HB20 branco. Quase perguntei se ele fazia odonto, mas chega de fazer piadinhas. Foi difícil ajustar o banco para uma posição que não doesse tanto. Alessandra sentou-se no banco de trás e ficou chorando silenciosamente.

Quando pegamos a estrada, senti que Christofer estava tomando outro caminho que não o da minha casa, ele sabia o endereço. Só naquele momento notei o quanto ele estava bonito com regata estilo "Mamãe, tô forte". O nariz dele era tão bonito. Seu pomo-de-adão era bem masculino, e seus músculos eram tão bem delineados. Nada exagerado. Ele me olhou, subitamente, e percebeu que eu estava olhando para ele.

— O que foi? — Christofer indagou.

Pega no flagra.

— Nada! — Virei o rosto para a paisagem. Entramos num túnel e o vidro começou a nos refletir. Pude ver que ele me olhava com curiosidade. Deu um sorriso leve.

Ele deve se divertir muito com a minha inexperiência. Ele sabe bem a expressão que uma garota faz quando o admira, e isso estava me deixando louca. Eu detesto ser desvendada com tanta facilidade.

Depois de uns 5 minutos, paramos na frente de um hospital.

— Pensei que sabia meu endereço. — Murmurei, de cara feia para ele, cruzando os braços.

— Achou mesmo que eu ia te deixar em casa reclamando de dor nas costas igual minha bisavó? — Ele indagou.

— Sua bisavó ainda é viva? — Repliquei, mas logo coloquei as ideias no lugar. — Eu não quero ir ao hospital, Chris! Por favor!

— Por quê? — Ele perguntou, surpreso. Parou, pensou e ficou matutando sobre tudo o que aconteceu, surgindo com uma bela hipótese: — Você está grávida, Luciana?

— Só se for do divino espírito santo, né? Esqueceu que sou BV? — Murmurei. Christofer deu uma risada sonora, e até Alessandra riu um pouco, ainda recolhendo as lágrimas.

— Era. — Ele me corrigiu. Eu morri de vergonha, cobri o rosto com as mãos, e queimei meus dedos com o rubor da minha face. Pensei como sair dessa.

 — Eu tenho medo de agulhas, Christofer. — Expliquei didaticamente. — Eles vão querer me dar soro. Por favor, me tira daqui. Detesto tomar soro mais do que tudo na vida!

Ele ficou me olhando, completamente inerte, por alguns segundos.

— É verdade, sou testemunha que ela tem pavor de agulhas, as veias dela somem. — Confessou Alessandra.

Christofer não conseguia crer. Subitamente, ele riu tão intensamente que segurou a própria barriga. Fiquei esperando pacientemente ele parar de rir, mas ele disse:

— Você é muito engraçada. — Ele saiu do carro e abriu a porta pra mim. Como não me mexi, ele me pegou no colo de novo e eu comecei a me retorcer igual lagartixa.

— Tudo menos isso! Eu imploro! Eu faço o que você quiser! — Implorei enquanto ele tentava me tirar do carro.

— O que eu quiser? — Ele perguntou, reflexivo.

— Depende. — Voltei atrás.

— Já era, prometeu! — Christofer deu um sorriso maquiavélico e desistiu de me levar ao hospital, graças a Deus. Ele voltou a sentar no banco do motorista e retornamos ao caminho original.

Depois que toda aquela cena passou, Alessandra murmurou:

— Já estou shippando o casal.

Nós dois olhamos para ela, com as sobrancelhas erguidas, e depois olhamos um para o outro, e eu não sei o que ele fez, mas eu desviei o rosto. Fiquei ruborizada e envergonhada. Não é porque perdi o BV com um cara que somos um casal. Além do mais, eu estava aturando Christofer por causa de Otávio.

Olhem só a diferença entre ambos. Otávio é um gentleman, um lorde, um príncipe. Christofer é aquele colega de classe chato e gostoso que implica com as pessoas. Muito novo para os meus gostos e muito galinha para ser levado a sério.

Depois que saímos da avenida principal, notei como Christofer estava realmente calmo. Acho que rir aliviou suas emoções. Enquanto isso, eu ficava cada vez mais preocupada com Alessandra.

Christofer notou que tinha uma farmácia a poucas quadras da minha casa e perguntou antes de seguirmos:

— Precisa de algum remédio? — Seus olhos pareciam preocupados.

— Não, eu só me ralei. — Respondi. Era mentira, minhas costas doíam muito, mas eu queria ir embora rápido. Eu tinha um Flanax em algum lugar e o tomaria.

— E você, Alessandra? — Ele perguntou.

Ele viu a resposta dela pelo retrovisor. Ela somente negou com a cabeça, mordendo a boca para não chorar. Alessandra e eu estávamos num silêncio chato e Christofer percebeu que tínhamos uma questão a ser resolvida. Ele não se meteu, foi bem discreto.

Quando nós três chegamos ao meu apartamento, Alessandra se trancou no banheiro. Acho que foi chorar ou vomitar. Ou os dois.

Christofer puxou meu braço e analisou a ferida.

— Deve estar ardendo. Tem certeza de que não quer passar na farmácia?

— Está ardendo um pouco, mas não precisa de curativo. Posso garantir que me machuquei bem mais quando caí na piscina. — Fiquei olhando e me perguntando se ele não soltaria meu braço, até que ele o fez.

— Você é bem resistente. — Ele revelou.

Dei um sorriso de canto. Eu realmente sou forte, descobri isso depois de ter sobrevivido a vários acidentes na infância e, mais recentemente, à queda na piscina. Sim, eu lembro dessa queda todos os dias da minha vida.

— Você quer beber alguma coisa, Chris? — Perguntei, indo abrir a geladeira.

— O que tem aí? — Ele perguntou, sentando-se no balcão, de frente para a cozinha.

— Suco detox. — Investiguei um pouco, já que tinha muitas verduras na geladeira e a Coca-Cola acabava escondida. — E coca-cola.

— Que incongruentes essas opções. — Ele comentou.

— Ah, eu preciso ter coca-cola guardada por causa das minhas quedas de pressão. — Murmurei.

— Não tem álcool?

— Não. — Murmurei. — Ah, tem esse vinho rosé aqui, e...

Ele simplesmente tomou a garrafa de vinho da minha mão, abriu a tampa e falou:

— Por que está em pé ainda? Você devia descansar. Caiu igual a um pastel de feira.

— Humpf! — Resmunguei, azeda. — Não caí, eu fui jogada!

Percebi que a expressão dele fechou ao se lembrar do que aconteceu.

Lavei meu cotovelo na pia da cozinha mesmo, abri a gaveta de remédios e achei o Flanax. Tomei-o com muita água para descer logo e fazer efeito mais rápido. Meu cotovelo não estava só arranhado, eu também o tinha batido com força no chão. Ia ficar roxo.

— Vou ver a Alessandra e já volto, ok? — Comuniquei e ele concordou silenciosamente e bebeu um gole de vinho.

Bati à porta do banheiro e abri quando obtive permissão. Alessandra estava sentada à beira da banheira, com o rosto coberto pelas mãos, pensativa. Ela se remoía tanto. Já devia ter visto o vídeo. Mandei para ela pelo W******p antes de meu celular ser destruído, e ainda bem que chegou a tempo.

— Que merda eu fiz da minha vida? — Ela perguntou, deploravelmente abalada.

— Não fez nada, cometeu erros de uma adolescente normal. — Falei delicadamente, para confortá-la. — Vamos resolver tudo isso, eu te prometo. Primeiro, você tem que resolver o que quer fazer.

— Estou pensando, só preciso de um tempo. — Ela recolheu as lágrimas. — A propósito, o que ele está fazendo aqui?

Ela se referia ao Christofer.

— Ele quis me trazer minha carteirinha da faculdade, mas já vai embora. — Respondi.

— Entendi. — Ela suspirou. — Eu vou tomar um banho.

— Isso. — Abracei-a. — Estou aqui com você para tudo, ouviu? Se acalma que, assim que você me disser o que quer fazer, faremos, está bem?

— Obrigada por tudo, Luci... Por não me deixar enlouquecer e nem fazer tudo que me vem à cabeça.

Pisquei para ela e lhe passei segurança. É verdade que eu apanhei por causa dela pela segunda vez, mas não tem problema. Ela já me ajudou tantas vezes que aquilo era irrelevante para mim. Ela ia melhorar, mas eu também tinha que pensar sobre o que faríamos. Sem dúvidas, contaríamos aos pais dela. O problema todo seria se a decisão dela fosse diferente da decisão dos pais dela. Mas era para isso que eu estava ali: para ajudar.

Christofer tomava um gole demorado de vinho na varanda. A vista era linda, eu precisava confessar. Apesar de ficar a algumas quadras da praia, o apartamento era bem localizado. Apoiei meus cotovelos no guarda-corpo e observei a movimentação nas ruas. Os primeiros carros já aumentavam seus faróis e os postes de luz se acendiam. O sol se pusera no horizonte.

Christofer apoiou a garrafa de vinho no parapeito e suspirou.

— Você não está dirigindo? — Perguntei.

— Estou. — Ele respondeu. Acho que não tinha orgulho do que estava fazendo. Mas, mudou de assunto como se eu nunca tivesse falado sobre aquilo. — Ele era seu namorado? Ou ex? — Ele desviou o olhar.

— É claro que não! — Respondi revirando os olhos.

— Não o quê? Não é seu namorado ou não é seu ex? — Ele voltou o rosto a mim. Seus olhos adquiriram uma tonalidade escura agora que o sol ia embora.

— Desculpe a burrice. — Tive que rir. — Não é nada meu, graças a Deus. Você sabe que sou BV.

Ele me olhou de rabo de olho.

— Era. — Completei, antes mesmo de ele falar outra coisa.

— É, mas as pessoas têm segredos. — Ele suspirou. — Minha bisavó nunca beijou na boca.

— Não é o caso. — Revirei os olhos. Chris tinha saído bem chateado da minha casa e agora estava chateado de novo.

— Então o que ele queria com você? — O loiro indagou.

— Chris... — Suspirei. — Não quero te envolver em problemas... de novo. Já é a segunda vez que você salva a minha vida, e... só nos encontramos 4 vezes.

— Cinco. — Ele corrigiu.

— Bem, eu não sou de exatas, não sei somar.

Ele riu um pouco. Tirou minha carteirinha do bolso da sua calça e colocou-a em minha mão. Tomou mais um gole demorado de vinho. Seus lábios ficaram num tom rosado forte e eu instintivamente lembrei do gosto deles. Do toque delicioso dos seus lábios nos meus. Evitei olhar muito e desanuviei aqueles pensamentos. Ele não parecia um rebelde sem causa e nem um cafajeste, ele era... tranquilo. Até demais para quem tinha dado um soco em alguém.

Chris era um cara legal, eu acho. Não sei ainda. Eu queria perguntar do Otávio, mas… Bem, não quero ser a chata que só tem um assunto.

— Você luta alguma coisa? — Perguntei. — Porque aquele soco foi certeiro, fez um estrago e tanto.

— Taekwondo. — Ele respondeu, tomando mais um gole de vinho.

— Faixa preta?

Ele levantou uma sobrancelha e abaixou a outra.

— Quem te falou? Está me investigando? — E riu.

— Ninguém, eu só supus porque você quebrou o nariz dele. E eu sei que quebrou porque eu já caí de cara no chão quando era criança e sei o barulho que faz. — Meneei a cabeça, lembrando bem da dor.

— Você não tem mãe, não? Quebrou o nariz caindo de cara no chão. — Chris arregalou os olhos.

— Ah, ela estava ocupada dando algum autógrafo a alguém em algum desses resorts da vida. Enfim... eu nem sabia que tinha soco no Taekwondo. — Dei de ombros.

— Claro que tem. Não é futebol.

Engasguei quando ele falou isso e acabei rindo dessa péssima piada. Ele sorriu. Os dentes dele eram perfeitamente alinhados e brancos. Combinavam com seu queixo quadrado e viril.

Esse cara não deve dormir sozinho uma noite sequer.

Quando me recuperei da piada, falei:

— Fico pensando como aquele cara vai fazer agora que o nariz dele foi parar na nuca. A cara dele ficou plana.

Foi a vez de Chris se engasgar enquanto bebia vinho. Tenho certeza que ele expeliu o álcool pelo nariz, pois ficou vermelho igual ao do Rudolph.

— Você fala de propósito essas coisas, só pode ser. — Ele sorriu. Meu Deus, de novo aquele sorriso. Senti como quando a gente põe o rosto fora da janela e sente o sol da manhã. Talvez o tempo tivesse andado ao contrário e o sol tivesse nascido onde se punha.

Eu precisava tomar cuidado com toda aquela beleza.

Muito cuidado.

— Bem, — Eu falava coisas engraçadas quando estava nervosa, mas tinha que dizer a ele a verdade porque ele acabou envolvido no fato. Eu sempre tento quebrar o clima ruim para depois jogar as bombas. Acho que é meu jeito. — Chris, bem, eu...a Alessandra... a Alessandra está grávida daquele babaca. Ele me agrediu porque eu filmei a conversa deles a pedido dela. Foi uma besteira o que fizemos, mas... achamos que ele tinha que saber. Bem, obrigada. Você me ajudou. De novo. E sem ter nada a ver com a situação.

Como sempre, não sei organizar os assuntos ao falar, e acabo cuspindo frases soltas, mas acho que ele conseguiu entender.

— Como assim nada a ver? — Christofer ergueu uma sobrancelha. — Eu tinha a obrigação moral de moer aquele cara na porrada, e agora que sei o motivo, me arrependo de não ter batido mais. Mas já tinha sido um espetáculo e tanto.

— Você não é músico? Está acostumado a dar show.

Ele riu de novo. Seu olhar implorava que eu parasse de fazer piadinhas, mas era mais forte que eu. Não conseguia parar.

— Você é muito engraçadinha, sabia? — Ele riu mais um pouco.

— É você que ri de tudo. Se eu falo "a" você rola no chão.

— Não exagere. — Ele me cercou com os braços e eu fiquei presa entre ele e o parapeito, sem saída. Estava demorando.

A garrafa de vinho ainda estava segura na mão dele. Nossos rostos ficaram a milímetros. Acho que ele estava tentando sacar qual era a minha, pois me analisava com perspicácia. A minha vergonha ou burrice não me deixaram entender nada e nem dizer algo digno. Meu rosto queimava e eu só desviava o olhar. Mas, foi diferente da outra vez. Eu não tremia, não tinha ansiedade, só rubor.

— Luci, você está bem? Parece que está com febre. — Chris me olhou bem de perto.

— É que... — Murmurei. — Você meio que está me enquadrando aqui.

Esclareci, caso ele não tenha percebido. Mas, algo me diz que essa era a intenção dele.

— Está com vergonha? — Aqueles grandes olhos azuis me deixavam completamente sem ar. Ele sabia que deixava as pessoas sem graça com seu jeito sedutor e simplesmente fazia. Chegou a minha vez de ser currada, meu Deus. Dai-me livramento.

— Você é investigador criminal? — Murmurei e tentei escapar daquela tensão a qualquer custo, até que ele segurou meu queixo com a mão livre e me fez olhá-lo.

— Por que está desviando o olhar? — Ele disse.

— Ora, para escapar do seu poder de sedução. E está difícil.

— Está fugindo de mim. Você se arrependeu dos nossos beijos? — Ele concluiu após analisar friamente.

— Não... ou sim? Não sei. Vai ser inútil, nunca vou aprender a beijar, mesmo.

Ele não parava de me olhar. Meu Deus, que terror psicológico ficar sob a mira daqueles olhos azuis investigativos.

— Para com isso! Quer me matar de nervosismo? — Gritei, ansiosa. A sensação era a mesma de estar na semana de provas.

— Quero saber qual é a sua. — Ele murmurou, ainda me estudando enquanto segurava meu queixo. — Você tem alguma coisa de diferente, não sei o que é.

— Devem ser meus seios tão grandes que não alcanço os mamilos. — Comentei.

— Você sempre fala alguma gracinha quando está nervosa. Eu te deixo nervosa? — Ele passou os braços pelas minhas costas. Estávamos nos abraçando?

— Se me deixa nervosa? Pra caralho. — Eu e minha sinceridade.

— Desisto! — Ele disse. — Eu não sei o que é. Talvez seja o formato das suas sobrancelhas ou... não sei, seu perfume, talvez.

— Que me tornam exótica?

— Não. Que me fizeram ficar pensando em você. — Ele concluiu.

— Pensando de que jeito? — Espremi os olhos, confusa.

Ele sabia que eu não ia parar de me esquivar e agiu como bem quis. Fechou os olhos e me deu um selinho demorado. Acho que eu me derreti ali na sacada. Por baixo das pálpebras fechadas, meus olhos se reviraram. Eu não sei se era sonho ou realidade, mas foi a melhor coisa que já senti. Aquele beijo simples foi muito melhor que os outros. Não sei se eu era uma experiência ou um desafio para ele, isso me desmantelava por dentro. Quando ele se afastou, parece que finalmente meu sistema respiratório voltou a funcionar, pois expeli todo o ar dos meus pulmões.

— Está brincando comigo, Christofer? — Meu coração não parava no peito. Coloquei a mão no coração, exausta como aqueles idosos tendo um AVC. — Acha que pode sair me beijando assim?

— Você disse que faria qualquer coisa se eu não te levasse ao hospital. — Ele falou. O infeliz era bom nos negócios.

— Não brinque comigo. — Falei.

Ele não conseguiu evitar outra risadinha. Percebeu que vivo muito à flor da pele.

— Agora você acha que me conquistou e vai virar a página. Vá em frente. — Cruzei os braços.

— Luciana, pare de adivinhar o que as outras pessoas pensam. Mas, acho que gosto do seu jeito arisco. — Ele disse e acariciou minha bochecha.

Aquilo estava me irritando. Eu não sou o que ele pensa que sou.

— Chris, você está me ensinando como devo beijar o Otávio. Isso tudo é por ele. É do seu irmão que eu gosto, certo? — Praticamente cuspi as palavras.

Christofer se afastou com um olhar triste que ele tentou disfarçar de indiferença, sem conseguir.

— Eu sei. — Ele disse, tomando mais um longo gole de vinho. — Mas se quiser seduzi-lo, vai precisar aprender mais do que meros beijos.

— Como assim? — Fiquei surpresa. O que preciso para conquistar o Otávio? Dançar salsa? Esperar o ano bissexto? Mudar de signo? Era cada vez mais complexo.

— Luciana, meu irmão tem 35 anos. — Ele foi didático. — Se quer surpreendê-lo, precisa fazer algo mais. Precisa ser melhor que as mulheres com quem ele sai.

— Como? O que eu tenho que fazer? Fale logo, caramba, que mistério! — Reclamei, nervosa.

— Você sabe, Luciana. Sexo. — Christofer falou num tom desafiador.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo