Fernanda Mendonça:
Nenhum de nós fala durante o trajeto. O silêncio é espesso, pesado, cortado apenas pelo som da chuva que começa a cair do lado de fora. As gotas batem no para-brisas como pequenos dedos insistente, e eu me pego seguindo seus movimentos, apenas para ter algo em que focar que não seja o homem ao meu lado.
Mas então, em um farol vermelho, ele vira o rosto para mim.
A luz do poste ilumina seu perfil – o nariz reto, a mandíbula cerrada, os lábios apenas um pouco manchados, ele tentou limpa-los.
Mas quando?
E naquele momento, algo dentro de mim se parte.
Porque não importa o quanto eu tente odiá-lo, não importa o quanto eu queira negar – ainda o quero. Com uma intensidade que me assusta.
Pietro abre a boca para dizer algo, mas o farol fica verde, e o momento se quebra. Ele volta a olhar para a estrada, seus dedos apertando o volante com força.
E eu me pergunto se ele também sente isso – esse fogo que não se apaga, não importa quanta água joguemos sobre ele.
O carro final