Quando a porta do carro se abriu, Chiara esperava que fosse seu pai para dizer-lhe que seu futuro esposo já havia chegado, mas não foi assim.
Quem abriu a porta foi um homem jovem, de cabelos negros, olhos cinzentos e olhar travesso.
Nico Queen.
—Davide já chegou? —perguntou Chiara ao desconhecido.
Ao notar o olhar tão direto de Nico, sentiu-se um pouco incomodada.
—Mas ele ainda não chegou.
Seu pai a esperava na entrada da igreja. Nico a deixou junto a ele e entrou pela lateral, para chegar até sua família e dizer que Dante seria quem se casaria com Chiara Moretti.
Vendo que tudo já era iminente e sem imaginar que lhe dariam outro esposo em lugar de Davide, Chiara tomou a mão de seu pai e apertou os dentes, começando a ficar nervosa. Entre ela e Canela, na manhã daquele dia, haviam tentado fazer algo com o vestido, mas não restou senão cortar a parte que Olimpia havia rasgado. Agora parecia que faltava um pedaço importante ao vestido, parecia incompleto.
Não era o casamento que Chiara desejava: seu corpo dolorido, seu rosto inchado, seu vestido danificado… mas era o casamento que teria.
—Você vai se casar com um Queen —disse seu pai ao lado, enquanto faziam a entrada.
Chiara e seu pai chegaram até onde deveria estar esperando seu esposo… mas o noivo não estava ali.
—Pai… ele ainda não chegou? —A seu lado, a família Queen murmurava entre si, como se ainda não houvesse decisão de qual dos dois seria seu esposo. Enquanto o senhor Moretti deixava Chiara no altar e se unia à família.
O buquê tremia em suas mãos, sem saber o que fazer, sem obter respostas.
—Ele vai chegar —sussurrou para si mesma, tentando se acalmar—. Ele vai chegar. —Sorriu, procurando uma maneira de tranquilizar-se. Seus olhos, no entanto, revelavam a ansiedade que lutava para esconder.
Já haviam se passado trinta minutos desde a hora marcada para a boda e o noivo, o herdeiro da prestigiosa família Queen, ainda não havia aparecido.
“Será que vou ser uma noiva abandonada no altar?”, perguntou-se. Realmente tentava manter a calma, mas era desesperador sentir-se exposta a tamanha vergonha. Se o noivo não havia chegado, para que a levaram até o altar?
Os murmúrios entre os convidados se tornavam cada vez mais fortes.
Decidiu buscar entre os convidados o rosto do homem que antes fora até o carro: Nico Queen. Estava discutindo acaloradamente com outro homem. Era Dante.
Uma lágrima rolou por sua face enquanto pensava seriamente em fugir, sair correndo dali antes que sua vergonha fosse ainda maior. E o teria feito, se seus pés se movessem. Tentava, mas suas pernas pareciam cravadas no chão. Talvez pela vergonha, pelo medo, pelo pânico. Um pouco de ambos.
Finalmente, ouviram-se passos na entrada da igreja.
Ele havia chegado!
Davide Queen estava na igreja!
Chiara soube que era ele pela reação dos convidados e por ouvir várias vezes o nome dele nos murmúrios.
O véu cobria seu rosto e o buquê parecia fundir-se entre seus dedos de tanto que os apertava.
O silêncio tomou conta do lugar enquanto ele avançava pelo corredor. Seus passos eram firmes, seu olhar fixo na mulher que o esperava ao final. Não mostrava sinais de nervosismo nem arrependimento pelo atraso. Em vez disso, havia um certo desafio em seu caminhar, como se desafiasse o mundo que ousava questioná-lo.
Ao chegar ao altar, não houve desculpas nem explicações. Apenas um breve aceno aos presentes e, então, seus olhos se fixaram nela. Por um instante, o tempo pareceu deter-se para Chiara quando viu o rosto de seu noivo. Ela o olhou, procurando algum indício do que ele pensava ou sentia, talvez tentando que a reconhecesse, já que era o homem que a havia protegido com o guarda-chuva no aeroporto.
Era ele.
Um sorriso surgiu em seus lábios, feliz por sua chegada, por quão bonito era seu esposo e, provavelmente, por ser um homem amável, já que sem conhecê-la ofereceu-lhe o guarda-chuva para protegê-la da chuva.
Então o sacerdote iniciou a cerimônia, já que os noivos estavam presentes.
Após a afirmação, inclinou-se em direção a ela, seu rosto a centímetros do dela. Retirou o véu, expondo o rosto de Chiara. Enquanto tocava suavemente sua face, seu olhar percorreu seu rosto e depois seu corpo, como se a avaliasse.
Em seguida, inclinou-se ainda mais, seu hálito quente em seu ouvido.
Ela fechou os olhos por um momento, assimilando aquelas palavras. Quando os abriu novamente, lágrimas escorriam, buscando algo no rosto do marido, mas só havia uma expressão fria e aquele olhar duro que ele lhe dava.
Mas justo quando parecia que a cerimônia seguiria seu curso, a porta da igreja se abriu de golpe, quando Davide apenas havia se afastado alguns metros da noiva.
Uma mulher jovem, com ventre proeminente que anunciava uma gravidez avançada, entrou apressadamente. Seus olhos estavam cheios de angústia e, ao vê-la, todos na igreja ficaram em choque. Murmúrios de surpresa e confusão se espalharam entre os presentes.
A senhora Queen se apressaria para retirá-la da igreja, mas Davide lançou-lhe um olhar ameaçador, impedindo que a mãe movesse um único músculo.
Queriam um casamento.
Ele voltou-se para a recém-chegada, deixando a noiva sozinha no altar. Sem uma palavra, tomou-lhe a mão e a conduziu até o centro do corredor.
A expressão da noiva mudou da humilhação para uma dor profunda. Suas lágrimas caíam livremente enquanto observava como ele se afastava com outra mulher, uma que trazia consigo o símbolo mais poderoso de um vínculo: um filho por nascer.
A recém-chegada parecia angustiada e ansiosa e, embora as palavras entre eles fossem inaudíveis para os presentes, ficava claro que algo inusitado estava acontecendo. A tensão na igreja era palpável enquanto todos assistiam àquela impactante e repentina transformação da cerimônia.
Chiara, abandonada no altar, sentia uma mistura esmagadora de emoções que a feriam: humilhação, tristeza, raiva e confusão.
Sentia que cairia, mas mãos a seguraram antes que seu corpo desabasse.
Poderia ser pior?