4

Quando a porta do carro se abriu, Chiara esperava que fosse seu pai para dizer-lhe que seu futuro esposo já havia chegado, mas não foi assim.

Estava ali havia mais de meia hora desde que chegara à igreja e lhe disseram que seu noivo ainda não havia chegado.

Estava muito nervosa, mas em sua cabeça não passava nada de ruim, apenas um atraso da parte de Davide Queen.

Quem abriu a porta foi um homem jovem, de cabelos negros, olhos cinzentos e olhar travesso.
Nico Queen.

Olhou para a mulher sentada no banco de trás e suspirou ao ver seu rosto.

Não era a beleza italiana que sua mãe dissera que era.

—Davide já chegou? —perguntou Chiara ao desconhecido.

—Não, meu irmão ainda não chegou.

—Oh, é seu irmão?

—Permita-me apresentar, que grosseiro sou eu. Meu nome é Nico Queen. Sou o irmão mais novo.

—É um prazer, sou Chiara Moretti —Os olhos de Nico não abandonavam o rosto de Chiara e não precisamente porque fosse uma beleza. Estava um pouco inchada e a maquiagem não cobria tudo, fizera o que pôde, mas não era capaz de fazer milagres.

Ao notar o olhar tão direto de Nico, sentiu-se um pouco incomodada.

—Acho que já tem que descer —disse. Estava ali porque, visto que Davide não chegava, já haviam procurado por ele nos arredores e telefonado, mas não dava sinal de aparecer no casamento, um de seus irmãos tomaria seu lugar. Como Nico só se casaria se a noiva fosse uma verdadeira beleza italiana, decidiu confirmar se era tão bela como sua mãe havia dito. E, vendo que não era o caso, quem se casaria com ela seria Dante.

—Mas ele ainda não chegou.

—Não se preocupe, seu pai a espera na porta. O noivo estará no altar antes de você chegar lá. —Estendeu a mão para que Chiara descesse. Hesitante, ela aceitou, segurando com a outra mão parte do vestido.

Seu pai a esperava na entrada da igreja. Nico a deixou junto a ele e entrou pela lateral, para chegar até sua família e dizer que Dante seria quem se casaria com Chiara Moretti.

Vendo que tudo já era iminente e sem imaginar que lhe dariam outro esposo em lugar de Davide, Chiara tomou a mão de seu pai e apertou os dentes, começando a ficar nervosa. Entre ela e Canela, na manhã daquele dia, haviam tentado fazer algo com o vestido, mas não restou senão cortar a parte que Olimpia havia rasgado. Agora parecia que faltava um pedaço importante ao vestido, parecia incompleto.

Não era o casamento que Chiara desejava: seu corpo dolorido, seu rosto inchado, seu vestido danificado… mas era o casamento que teria.

As flores brancas adornavam cada banco e o ar estava perfumado com sua doce fragrância. Mas, em meio a tanta beleza, uma tensão palpável enchia o espaço sagrado, porque os convidados sabiam que o noivo ainda não havia chegado e não entendiam por que a noiva já fazia sua entrada.

—Você vai se casar com um Queen —disse seu pai ao lado, enquanto faziam a entrada.

Chiara e seu pai chegaram até onde deveria estar esperando seu esposo… mas o noivo não estava ali.

Nervosa, Chiara olhou para o pai, sem obter resposta. Ele evitava encarar os convidados; só queria saber onde estava Davide Queen.

—Pai… ele ainda não chegou? —A seu lado, a família Queen murmurava entre si, como se ainda não houvesse decisão de qual dos dois seria seu esposo. Enquanto o senhor Moretti deixava Chiara no altar e se unia à família.

O buquê tremia em suas mãos, sem saber o que fazer, sem obter respostas.

Concentrava-se em qualquer coisa, tentando silenciar os murmúrios dos convidados, especialmente as vozes de suas irmãs, que falavam alto de propósito para que Chiara as escutasse zombando dela, por estar plantada no altar com um noivo desaparecido.

—Ele vai chegar —sussurrou para si mesma, tentando se acalmar—. Ele vai chegar. —Sorriu, procurando uma maneira de tranquilizar-se. Seus olhos, no entanto, revelavam a ansiedade que lutava para esconder.

Já haviam se passado trinta minutos desde a hora marcada para a boda e o noivo, o herdeiro da prestigiosa família Queen, ainda não havia aparecido.

Ela já estava havia quase dez minutos no altar, apenas desejando que aquele homem entrasse por aquela porta e calasse todos os rumores que circulavam na igreja.

“Será que vou ser uma noiva abandonada no altar?”, perguntou-se. Realmente tentava manter a calma, mas era desesperador sentir-se exposta a tamanha vergonha. Se o noivo não havia chegado, para que a levaram até o altar?

Os murmúrios entre os convidados se tornavam cada vez mais fortes.

“Cadê ele?”, “Por que está demorando tanto?”. Ela tentava manter a compostura, agarrando o buquê com mãos trêmulas.

Decidiu buscar entre os convidados o rosto do homem que antes fora até o carro: Nico Queen. Estava discutindo acaloradamente com outro homem. Era Dante.

Parecia que ninguém se decidia a casar-se com Chiara.

Uma lágrima rolou por sua face enquanto pensava seriamente em fugir, sair correndo dali antes que sua vergonha fosse ainda maior. E o teria feito, se seus pés se movessem. Tentava, mas suas pernas pareciam cravadas no chão. Talvez pela vergonha, pelo medo, pelo pânico. Um pouco de ambos.

Finalmente, ouviram-se passos na entrada da igreja.

Todos os rostos se voltaram para o homem que atraía todos os olhares.

Ele havia chegado!
Davide Queen estava na igreja!

Chiara soube que era ele pela reação dos convidados e por ouvir várias vezes o nome dele nos murmúrios.

Atenta, evitou virar-se para trás, esperando o momento em que seu noivo chegaria até ela.

O véu cobria seu rosto e o buquê parecia fundir-se entre seus dedos de tanto que os apertava.

Davide Queen havia finalmente chegado.

Viera a São Francisco para se casar, estava ali para isso, e pelo visto sempre estivera por perto, esperando o momento que julgasse correto para aparecer em seu próprio casamento.

O silêncio tomou conta do lugar enquanto ele avançava pelo corredor. Seus passos eram firmes, seu olhar fixo na mulher que o esperava ao final. Não mostrava sinais de nervosismo nem arrependimento pelo atraso. Em vez disso, havia um certo desafio em seu caminhar, como se desafiasse o mundo que ousava questioná-lo.

Ao chegar ao altar, não houve desculpas nem explicações. Apenas um breve aceno aos presentes e, então, seus olhos se fixaram nela. Por um instante, o tempo pareceu deter-se para Chiara quando viu o rosto de seu noivo. Ela o olhou, procurando algum indício do que ele pensava ou sentia, talvez tentando que a reconhecesse, já que era o homem que a havia protegido com o guarda-chuva no aeroporto.

Era ele.

Chiara já havia conhecido o rosto de seu noivo e não sabia.

Um sorriso surgiu em seus lábios, feliz por sua chegada, por quão bonito era seu esposo e, provavelmente, por ser um homem amável, já que sem conhecê-la ofereceu-lhe o guarda-chuva para protegê-la da chuva.

Aquele era o homem com quem ela construiria seu novo futuro, uma família, um amor.

Então o sacerdote iniciou a cerimônia, já que os noivos estavam presentes.

—Aceitas esta mulher como tua legítima esposa, para amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe?

Com voz clara e sem vacilar, ele aceitou.

—Sim, aceito.

Após a afirmação, inclinou-se em direção a ela, seu rosto a centímetros do dela. Retirou o véu, expondo o rosto de Chiara. Enquanto tocava suavemente sua face, seu olhar percorreu seu rosto e depois seu corpo, como se a avaliasse.

Em seguida, inclinou-se ainda mais, seu hálito quente em seu ouvido.

Ela ficou muito nervosa, esperando o beijo que receberia de seu, agora, esposo. Mas parecia que antes ele queria lhe dizer algo.

—Só para que fique claro —sussurrou em voz baixa, mas carregada de uma frieza cortante, estremecendo completamente o corpo de Chiara pela surpresa daquela voz gélida— você é completamente insignificante para mim.

Ela fechou os olhos por um momento, assimilando aquelas palavras. Quando os abriu novamente, lágrimas escorriam, buscando algo no rosto do marido, mas só havia uma expressão fria e aquele olhar duro que ele lhe dava.

—Eu… —ficara sem palavras, recebendo aquelas frases vazias em lugar do beijo—. O que se supõe que isso signifique? —conseguiu dizer com esforço.

—Já estamos casados, isso foi o que me pediram. Você tem um marido e eu continuo à frente de minha empresa. —As palavras ecoaram na igreja como gelo. A noiva estava paralisada pela humilhação enquanto ele se afastava dela com determinação.

Mas justo quando parecia que a cerimônia seguiria seu curso, a porta da igreja se abriu de golpe, quando Davide apenas havia se afastado alguns metros da noiva.

Alguém chegava.

Uma mulher jovem, com ventre proeminente que anunciava uma gravidez avançada, entrou apressadamente. Seus olhos estavam cheios de angústia e, ao vê-la, todos na igreja ficaram em choque. Murmúrios de surpresa e confusão se espalharam entre os presentes.

A senhora Queen se apressaria para retirá-la da igreja, mas Davide lançou-lhe um olhar ameaçador, impedindo que a mãe movesse um único músculo.

Chiara não entendia nada, mas para os presentes a situação era muito clara.

Queriam um casamento.

Já havia sido realizado, mas a jovem Moretti não teria um esposo.

Ele voltou-se para a recém-chegada, deixando a noiva sozinha no altar. Sem uma palavra, tomou-lhe a mão e a conduziu até o centro do corredor.

A expressão da noiva mudou da humilhação para uma dor profunda. Suas lágrimas caíam livremente enquanto observava como ele se afastava com outra mulher, uma que trazia consigo o símbolo mais poderoso de um vínculo: um filho por nascer.

A recém-chegada parecia angustiada e ansiosa e, embora as palavras entre eles fossem inaudíveis para os presentes, ficava claro que algo inusitado estava acontecendo. A tensão na igreja era palpável enquanto todos assistiam àquela impactante e repentina transformação da cerimônia.

Chiara, abandonada no altar, sentia uma mistura esmagadora de emoções que a feriam: humilhação, tristeza, raiva e confusão.

Seu marido acabava de ir embora com outra mulher.

—Para que ele veio ao casamento? —perguntou-se, entre soluços, suas pernas enfraquecidas pela tensão no corpo.

Sentia que cairia, mas mãos a seguraram antes que seu corpo desabasse.

Dante Queen a tomou nos braços, retirando Chiara Moretti daquele lugar junto com todo o escândalo que havia ali.

Poderia ser pior?

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