Capitulo 07

Sammy

Branna e eu terminamos de devorar a comida que Matilde havia preparado e conversávamos baixinho. Snow estava sentada olhando para nós como um segurança e eu senti vontade de raptar ela. Era a cadelinha mais fofa do mundo. Certamente foi o melhor presente de aniversário que eu já dei. Eu contei a Branna o que encontrei quando fui ver Marcus e como eu me senti. Era tão fácil falar com ela. Eu sabia que Branna nunca me julgaria, ela me amava e me apoiava, então eu podia contar tudo pra ela sempre. Branna xingou Marcus com alguns palavrões e eu fiquei mais feliz.

Nos sentamos no sofá e comemos um bolo de chocolate que Matilde havia feito de bom grado. Branna estava parecendo meio abatida e eu fiquei preocupada com ela.

- Branny, está tudo bem?

Ela me olhou tristonha e fez que não.

- Não, eu acho.

- Porquê? - perguntei curiosa. - John fez algo...

- Não, ele não. John está sendo o melhor namorado do mundo, super atencioso e apaixonado. Eu amo ele, o problema não é ele.

- Então...

Minha Branny respirou fundo e se sentou mais confortável no sofá para ficar de frente pra mim.

- Temos vinte seguranças ao todo para guardar a casa. E eu descobri recentemente que tem uma Glock escondida embaixo do balcão. Sem falar no pequeno arsenal de armas que Daphne tem no closet dela. Eu estava arrumando nosso closet outro dia e deixei uma mochila grande cair no chão. - Branna suspirou. - Eu estava ouvindo um som metálico e quando abri... tinha adagas pequenas, várias armas que nem sei o que são e... quatro granadas. Granadas, Sammy!

Mordi o lábio inferior e suspirei. Branna estava começando a derramar lágrimas e segurei a mão dela.

- Meu problema não são as armas, mas sim o motivo delas estarem lá. Walter morreu, mas exitem mais. Não consigo parar de pensar em quando eles vão agir. Eu amo John, de todo meu coração e não quero perdê-lo. Não quero viver com armas espalhadas pela casa, seguranças andando por todo lado para garantir que vou continuar respirando. É tão...

- Fodido. - terminei por ela. - Eu imagino.

- Eu estou com medo, Sammy.

Eu concordei e me livrei do bolo, abracei ela com força e beijei sua testa com carinho.

- Vai ficar tudo bem, Branna. - tentei lhe acalmar, mas tentar acalmar Branna grávida era uma tarefa falhada com sucesso.

- Eu sonhei que ele morria. - ela sussurrou. - Meu bebê. Sonhei que alguém matava ele, como Walter matou o bebê da Daphne.

- Ninguém vai tocar no meu afilhado. - lhe garanti.

Branna concordou e foi se acalmando aos poucos. Tentei tirar ela daquele clima chato e deprimente. Não queria vê-la triste. Nós conversamos tanto que nem percebi que já estava quase na hora do almoço. Branna me convidou para almoçar, mas neguei. Eu tinha que ir pra casa. Tiago se disponibilizou para me deixar em casa e eu agradeci feliz. Não queria pegar um táxi. Não contei a Branna sobre meu incidente de mais cedo por motivos óbvios. Se ele sabia meu nome era porque fazia parte da maldita gangue do Walter. Eu não daria mais motivos para Branna ficar triste.

Tiago me deixou na porta de casa como prometeu, agradeci e entrei em casa. Meu pai estava colocando o almoço na mesa quando cheguei e ele sorriu.

- Oi, pequena granada. - me cumprimentou. - Como foi com o seu cara?

Suspirei cansada e tirei meu casaco.

- Não foi. Ele estava com uma garota e... não contei sobre o bebê.

Papai fez um som de irritação.

- Samantha, você tinha que ter falado...

- Pai, qual é? Ele tinha acabado de fazer sexo com ela. Eu realmente deveria dizer que ele vai ser pai? Marcus não está pronto pra ser pai.

- Advinha quem também não está pronto? Exato, você. Só tem dezessete anos, Samantha. Quer mesmo que as únicas figuras paternas que seu filho conheça sejam um velho, um bipolar e um autista? - papai disse bravo e eu não lhe respondi. - Amo meus filhos, mas meu neto vai querer o pai dele. E Marcus é o pai. Então, trate de contar.

Papai continuou colocando a mesa e eu me sentei com a cabeça abaixada. Ele estava certo, pra variar. Mas Marcus me irritou e me machucou. Talvez uma parte minha queira feri-lo ao não contar sobre o nosso bebê, mas só quem vai sair ferido nisso tudo serei eu, pensei, ou meu filho.

- Pai?

- Hum.

- Como faço pra dizer pra ele? - perguntei o olhando.

Papai parou e me olhou. Ele sorriu de lado.

- Ah, minha granada, se eu soubesse, eu lhe contaria.

- Não quero que ele nos rejeite. - lhe confidenciei.

Papai se aproximou de mim e me beijou no alto da cabeça com carinho.

- Alguém no mundo sempre vai nos rejeitar, Samantha. Não dá pra evitar. Se Marcus rejeitar vocês, então seu filho será criado por um velho, um bipolar e um autista. E ele ou ela será a criança mais amada do mundo. Mas não acho que ele vá fazer isso. - papai disse sorrindo.

Paramos de falar sobre isso e os meninos desceram. Almoçamos e conversamos sobre coisas leves. Benjamin falava pouco, mas sorria muito e eu amava isso nele. Sean estava mais falante do que o normal, me deu esperança de que fosse demorar para ele voltar a ter seus episódios. Papai contou que encontrou um espaço perfeito para a clínica. Eram só cinco ruas depois da nossa casa. Precisava de muitas mudanças para aguentar o tranco, como ele gostava de dizer, mas ia ficar tudo bem. Ele contrataria uma firma para ajudá-lo e iria comprar o lugar. Papai estava animado com sua clínica nova.

Quando terminados de comer, Benjamin lavou os pratos e eu sequei. Ele estava gostando de fazer coisas simples, como lavar louça, fazer seu sanduíche (não que ele estivesse indo bem nessa função), cortar maçã ou passar o aspirador de pó na casa. Benjamin gostava do som que ele fazia e eu achei aquilo engraçado. Papai foi tirar uma soneca e nós ficamos na sala. Benjamin ficou ao lado da janela desenhando, Sean deitado no tapete com os fones no ouvido e eu no sofá lendo um livro.

Meu celular apitou quando eu estava na página cinqüenta do livro Depois de você, de JoJo Moyes. Destravei e li uma mensagem enviada pelo número de Marcus. Franzi a testa porque tinha quase certeza que ele não tinha meu número, mas ele deve ter conseguido com Branna.

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Marcus:

Aceita jantar comigo hoje?

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Sammy:

Sally vai estar junto?

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Marcus:

Pequena, por favor, aceita?

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Suspirei e travei meu celular. Voltei pra minha leitura e senti meu celular vibrar três vezes antes de parar.

Benjamin fez um barulho irritado e fechou a cortina com raiva. Sean e eu o olhamos curiosos.

- Ei amigão, está tudo bem? - Sean perguntou tirando os fones e se sentando no chão.

- Tem alguém lá fora nos olhando. - ele disse com a cabeça baixa e os lábios repuxados em uma careta. - Não gosto.

Sean e eu ficamos em pé com um pulo. Abri a janela e vi alguém de costas pra nossa casa do outro lado da rua. Senti um arrepio na espinha quando ele ficou de lado. Ele usava uma camisa com capuz e escondia o rosto, mas sua postura deixava claro que estava nos olhando. Ele começou a andar pelo beco rapidamente.

- Não mesmo, seu filho da mãe. - Sean disse irritado e saiu de casa como o flash.

Arregalei os olhos e gritei por ele, mas Sean já havia ido. Bufei e fechei a cortina.

- Querido, vai pro quarto agora. - disse ao Benjamin antes de sair de casa e correr em direção ao beco.

Gritei por Sean, mas não via nenhum sinal dele. Continuei correndo e gritei quando senti braços rodearam minha cintura, mas me calei quando percebi que era meu irmão. Sean nos encostou em uma parede de tijolos e fez um sinal de silêncio. Franzi a testa e ele me puxou de volta pra casa. Sean trancou a porta com a chave e fechou as cortinas.

- Vai ver se as janelas lá em cima estão todas trancadas e verifica o papai e o Benjamin. - Sean disse indo pra cozinha correndo.

Obedeci confusa e verifiquei as janelas do andar de cima. Estavam todas trancadas. Papai continuava dormindo e Benjamin estava parando sentado na sua cama. Ele olhava fixamenre pro chão e apertava os dedos repetidamente. Me aproximei dele.

- Benjamin?

- Ele se foi? - sussurrou.

- Sim. - disse me agachando ao seu lado e colocando a mão no joelho dele. - Tá tudo bem, querido.

- Ele vai voltar. - afirmou dando de ombros

- Mas ele não vai te machucar. - lhe prometi.

Quem quer que fosse nunca ia encostar um dedo nos meus irmãos ou no meu pai. Sean era bipolar, mas sabia se defender. Ele era um ótimo lutador e sabia diferenciar o bem do mau. Benjamin não sabia lutar, às vezes não entendia ironia e segundo os médicos, não conseguia saber quem era bom e quem não era. Ele era muito inteligente, isso era um fato. Mas também era inocente e isso podia prejudicá-lo. Eu não permitiria que machucassem ele.

Benjamin concordou em silêncio.

- Vamos descer?

Ele negou com a cabeça e foi pro meio da cama. Meu irmão de vinte e sete anos se encolheu em uma bola e ficou se balançando como um menino de dez anos. Eu sentia uma necessidade extrema de protegê-lo, de mantê-lo seguro e bem. Fui até sua janela e verifiquei se estava bem trancada.

- Eu já fiz isso. - ele disse pra mim. - Também fechei as janelas do seu quarto, do meu sobrinho, do Sean e do papai.

Sorri ao ouvir ele dizer meu sobrinho. Concordei e saí deixando ele sozinho com seus desenhos. Sean estava com os braços cruzados olhando pela janela esperando o invasor voltar. Parei ao seu lado e cruzei os braços com raiva.

- Que merda deu em você? - sussurrei. - Não estamos mais em Manassas. Não pode fazer essas coisas. Se você tivesse alcançado ele, o que teria feito?

- Teria batido nele até me dizer o porquê de nos espionar.

- Sean, por favor, não pode fazer isso. Aqui é Chicago. Disse à você o quão perigosa essa cidade é...

- Não vou ficar de braços cruzados enquanto espionam minha família. - me disse bravo. - Não vai importar o que me diga, Samantha. Tenho que nos proteger. Proteger você, papai, o bebê e o meu sobrinho.

- Benjamin não é bebê. - lhe disse e me sentei no sofá. - Bem, ele é, mas...

- Ele é o nosso bebê. - Sean afirmou e se virou pra me olhar. - Temos que cuidar dele, lembra? Me disse isso ontem.

- Eu sei. - levantei minhas mãos em rendição. - Só estou dizendo que não pode agir como o Superman. Você tem uma família e se algo te acontecer, vai nos destruir.

Sean não disse nada e se sentou de volta no chão. Me deitei no sofá e peguei meu celular. Haviam seis ligações perdidas e mais de quinze mensagens.

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Marcus:

Samantha, sei que errei. Estou pedindo uma chance para me desculpar.

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Marcus:

Estou sendo sincero.

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Marcus:

Samantha, não seja uma criança. Me atenda. Fale comigo.

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Marcus:

Caramba, me atenda. Não é tão difícil como acha. Até um doente mental poderia atender um telefone, Samantha.

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Marcus:

Okay, esqueça. Obrigado por ser um amor de pessoa.

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Marcus:

Sabe de uma coisa? Não há motivos para ficar com raiva por eu ter estado com Sally. Eu sou adulto, dono de mim, faço o que eu quiser. Você está sendo boba e infantil.

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Marcus:

Não sei o que me irrita mais. Você não me responder ou as minhas patéticas e falhas tentativas de me comunicar com você.

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Marcus:

Samantha, eu gostaria que você me ligasse de volta se a porra do seu ego maldito permitisse!

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Pulei as outras mensagens e subi pro meu quarto. Tranquei a porta e me sentei na cama para respondê-lo.

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Sammy:

Seu idiota, eu não estava te ignorando. Aconteceu uma coisa e precisei me afastar do celular. Acredite ou não, mas eu não vivo em função de ler suas mensagens idiotas. E está certo, estou sendo boba e infantil. Então me deixe viver em paz com meu maldito ego e VÁ SE FODER!

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Fui assediada por um maldito taxista que sabia meu nome e sobrenome. Depois fui me encontrar com o infeliz deus do sexo selvagem, encontrei uma loira semi nua e quatro camisinhas usadas no chão. A cereja do bolo era um esquisito espiando meus irmãos e eu pela janela. Alguém deveria avisar ao pai do meu filho que não era uma boa ele me irritar. Meu celular vibrou com a chegada de mensagens e eu grunhi.

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Marcus:

Desculpe?

Samantha, por favor, aceite meu convite para jantar.

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Sammy:

Você irrita o inferno fora de mim e tudo o que diz é Desculpe? Já mandei você se foder? Sério, hoje não é um bom dia pra falar com você. Estou avisando, Mar.

___

Meu celular vibrou e o nome dele apareceu no visor. Revirei os olhos e atendi a chamada.

- Você não suporta ser chutado por mensagens? Gosta mais quando é por ligação? Perfeito, velho, vamos lá. Vai se fo...

Samantha. - ele disse meu nome como um aviso e me calei. - Não diga algo que possa se arrepender depois.

- Mar, estou cansada, okay? - respirei fundo. - Não quero sair com você hoje e nem amanhã. Então me deixa em paz.

Sabe como eu sei que não está com tanta raiva de mim? Me chamou de Mar duas vezes. - sua voz saiu em forma de sorriso e revirei os olhos.

- Bem... você precisa prestar mais atenção, então. Porque eu estou muito brava, Marcus! - disse e desliguei.

Deixei o celular na cama e fui pro banheiro tomar um banho relaxante. Era sábado e eu queria curtir o máximo de tempo que eu pudesse. Ouvi meu celular tocar algumas vezes, mas não dei bola. Eu não queria irritar ele, só não queria falar com ele. Marcus me machucou hoje de manhã e eu estava sobrecarregada. Maluco do táxi, Benjamin, Sean, bebê, esquisito do outro lado da rua... Minha mãe... , pensei e fechei os olhos. Era muita coisa pra processar em tão pouco tempo.

Saí da banheira e vesti um vestido rosa claro solto. Eu estava morrendo de sono e queria muito dormir, mas no momento em que me deitei na cama meu celular tocou. Atendi bufando.

- Marcus, estou caindo de sono...

Só quero que me diga uma coisa, Samantha. - ele disse.

- Tá.

O que você falou, sobre estar apaixonada por mim, era sério?

Não, é brincadeira. Assim como o filho que eu tô esperando, revirei os olhos.

- Sim. - sussurrei sonolenta.

Ele passou alguns minutos em silêncio e eu comecei a cair no sono, mas sua voz sexy me acordou.

Então pego você às oito. - disse e desligou.

Passei alguns minutos encarando o celular e bufei. Coloquei o despertar pra seis da tarde e caí no sono logo depois.

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