Capitulo 08

Sammy

Eu estava com raiva de Marcus por me fazer sair de casa. Eu estava dormindo tão bem e meu celular tocou me avisando que era hora de acordar. Fiquei um tempo com meus irmãos e meu pai na sala assistindo TV. Eu havia comprado alguns livros sobre bebês e estava na página vinte e dois quando meu celular despertou de novo me dizendo que estava na hora de ir tomar banho. Me levantei do sofá com preguiça e fui pro meu quarto. Tomei banho, sequei o cabelo, me vesti e passei um batom leve. Sabia que Marcus iria pedir a Branna meu endereço, então não me preocupei em mandar. Faltava sete minutos pra oito da noite e eu desci pra esperar na sala.

— Vai contar pra ele? — papai me perguntou tirando os olhos do livro que lia.

Benjamin e Sean estavam ouvindo música no chão. Sean queria que Benjamin conhecesse algumas músicas e pelo que parecia ele havia gostado muito.

Concordei e verifiquei a hora no meu celular.

— É, claro.

— Porque estou achando que isso é um não?

— Pai, nós vamos conversar e eu vou dizer. — lhe disse. — Em algum momento...

Meu celular apitou com uma nova mensagem e eu olhei.

___

Marcus:

Casa bonita.

Já está pronta?

___

Sammy:

Sim, já estou indo.

___

Dei um beijo no meu pai e saí dando tchau pros meninos perdidos nas músicas. Marcus estava encostado em uma BMW preta. Ele estava lindo vestido com uma calça jeans, uma blusa de mangas compridas azul escura e um casaco preto. Estava da dar água na boca. Parei na frente dele e seus olhos me examinaram dos pés à cabeça. Seus lábios se puxaram pro lado em um sorriso sexy.

— Você está linda.

— O-obrigada. — disse gaguejando.

Eu tinha colocado um vestido azul florido curto, uma jaqueta azul escura jeans por cima e uma bota preta de cano curto.

Marcus sorriu e abriu a porta do carro pra mim

Marcus sorriu e abriu a porta do carro pra mim. Entrei e coloquei o cinto. Marcus se sentou no banco do motorista e nos colocou em movimento.

— Quer escutar música?

— Pode ser.

Ele ligou a rádio e a música do Ed Sheeran, Photograph estava acabando. Logo depois começou Autumn Leaves baixinho e eu me sentei mais confortável no banco. Marcus não disse nada por minutos e eu bufei.

— Não vai dizer nada?

Ele limpou a garganta e eu virei o rosto para olhá-lo.

— Desculpe por ter sido um idiota nas mensagens. Não foi minha intenção.

— Só isso? — cerrei os olhos.

— Quer que eu me desculpe por ter estado com Sally? — me perguntou sério e bufou. — Bem, eu não vou. Sou adulto e faço o que eu quiser. Nós não somos namorados, Samantha. Não tenho que me explicar pra você.

Engoli suas palavras em formatos de pregos e concordei. Eu queria tacar a cabeça dele várias vezes contra o volante, mas me controlei.

— Tem razão, Marcus. — me virei pra janela e fiquei em silêncio enquanto a música tocava.

— Então, você está morando em Chicago. — ele puxou assunto. — Como foi isso?

Desmaiei quando estava gritando com minha mãe, fui pro hospital e descobri, ou confimei, minha gravidez. E bum, Hello Chicago! , pensei irônica.

— Mamãe e Papai brigaram por causa de Sean e Benjamin, e por minha causa também. Claro que eles brigavam antes, mas essa última foi bem pesada. Então, meu pai veio pra Chicago, comprou uma casa e nos mudamos pra cá.

— Sua mãe está só agora?

— Sim. — sussurrei olhando pra frente.

— E Benjamin? Branna e nem você nunca falaram sobre ele. Você só falou de Sean.

— Benjamin foi diagnosticado aos oito anos com Síndrome de Asperger, considerado o autismo mais brando. Quando ele tinha dez anos, aconteceu alguma coisa e os médicos fizeram um novo diagnóstico, Esquizofrenia. Mamãe ficou louca e mandou ele para uma clínica psiquiatra. Eu tinha dois meses e meio. — respirei e continuei. — Todos os anos, meu pai levava Sean e eu para visitá-lo, mas ela nunca ia. Um ano atrás os médicos voltaram atrás no diagnóstico e declaram de novo que era Asperger. Disseram que ele podia viver bem com os familiares, mas ela não quis. Então ele continuou lá. Até ontem, quando meu pai assinou os papéis de liberação e o trouxe pra cá.

— Caramba, isso é muito louco, Samantha. E como ele está?

— Bem. — eu sorri me lembrando de Benjamin fazendo um sanduíche. — Está se acostumando bem. Ele é tão inteligente, Marcus. Até em matemática. Eu costumava ir na clínica depois da escola e fazia ele responder minhas atividades de matemática por mim. Ele não só respondia, mas me explicava direitinho e eu entendia. Ele não olha ninguém nos olhos e não gosta muito de contato físico, mas é um amor. Ele sorri, toca piano perfeitamente, desenha coisas lindas, e ama ler. Ele gosta tanto de ver desenho animado e é como uma criança. Rir tanto que chega a ficar vermelho.

Eu parei para tomar um ar e Marcus estava sorrindo.

— Ele parece ser um cara e tanto.

— É, ele é.

— Eu vou poder conhecer ele?

Fiz uma careta de brincadeira.

— Nam.

Nós rimos e Marcus parou o carro. Olhei pela janela e vi que paramos em frente à um lugar cheio de motos paradas em frente, com uma música alta saindo de lá e com uma placa grande piscando em néon o nome A PUB. Eu ri e olhei pra ele ao meu lado.

— Que criatividade. — ironizei e ele riu.

— Obrigado, foi um sacrifício pra mim encontrar o nome certo. — disse rindo e saiu do carro.

Olhei de novo para o bar e Marcus abriu a porta pra mim, saí do carro e me virei pra ele.

— Esse bar é seu? Pensei que fosse dono de oficina.

— E sou, mas também sou dono de bar. — disse me levando pra porta.

Tinha um segurança lá e ele era todo tatuado, até o pescoço e grande. Talvez até maior que Marcus.

— Tranquila noite, Bruno? — Marcus perguntou sorrindo pra ele.

— Hoje sim, Martin. — ele disse e olhou para mim. Me senti uma anã com Marcus ao meu lado e ele na minha frente.  — Olá, pequena azul.

— Bruno, essa é Samantha Preston. — Marcus nos apresentou. — Samantha, esse é o Bruno, segurança do A pub e meu amigo.

Bruno sorriu para mim e fez uma reverência de brincadeira.

— Prazer em conhecê-la, pequena azul.

— O prazer é meu. — lhe disse sorrindo.

— Estamos entrando. Tenha um bom trabalho, Bruno. — Marcus disse, segurou minha mão na sua e me puxou pra dentro.

O lugar era bem mais confortável e grande do que parecia. Estava lotado de gente, a maioria eram caminhoneiros e motoqueiros que tinham bandanas na cabeça. O cheiro de cigarro era forte, mas não era nada como o cheiro de machonha. Agora só falta aparecer um cara com um papagaio no ombro e os olhos pintados com lápis de olho, pensei sorrindo. Marcus nos encaminhou para uma das várias sinucas que tinham no lugar e acenou para uma garçonete. Tinha três caras jogando lá e eles cumprimentaram Marcus com um aceno de cabeça. Marcus se virou pra mim sorrindo.

— Sabe jogar?

— Hum... talvez?

Marcus concordou e se virou pros caras.

— Caíam fora, rapazes.

Os três concordaram e saíram sorrindo. Ergui uma sobrancelha pra ele e aceitei o taco que me oferecia.

— Eles te obedecem só porque você é o dono?

— E precisa de mais um motivo? — me perguntou sorrindo. — Minhas bebidas são ótimas, assim como a comida. Eles fumam, bebem, dançam e deixam os problemas lá fora, é um lugar seguro.

Concordei. Marcus começou o jogo e eu fiquei encostada na mesa com o queixo encostado no taco. Acho que ele nem percebeu que estava jogando sozinho, já que não errava uma e eu não jogava. Mas eu não me importei. Mal sabia jogar e eu me importava mais com o fato dele estar tão sexy. Uma adolescente parou na gente e colocou duas cervejas na borda na mesa de sinuca.

— Nós não pedimos identidade. — sorriu para mim e ia se afastando, mas eu a parei. — Sim?

— Pode trocar minha cerveja por um suco de laranja? — perguntei.

— Claro. — ela disse sorrindo e saiu levando minha cerveja.

Marcus estava me olhando confuso.

— Você não dispensa bebida. — disse.

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e abaixei o olhar pras bolas na mesa.

— Hoje sim. — dei de ombros.

Marcus riu.

— Está com febre?

Revirei os olhos pra ele e sorri um pouco.

— Talvez eu só esteja tentando ser responsável. — brinquei e ri.

— Você e responsabilidade são duas coisas que não combinam na mesma frase, Samantha. — ele disse derrubando a bola azul no buraco.

— Porque está dizendo isso? Sou uma pessoa bem responsável quando eu quero... — falei me sentindo ofendida.

Marcus percebeu e levantou a cabeça pra me olhar. Ele estava inclinado sobre a mesa pronto para dar sua jogada e parecia o cara mais delicioso do mundo. Senti meus mamilos endurecerem e abaixei o olhar.

— Não quis te ofender. É só que... quando eu te conheci, pensei “essa aí é do tipo que dá trabalho” e minutos depois eu peguei você e Lucas se beijando em uma sala. Você mal sabia o nome dele e... você é doidinha. — ele disse sorrindo e bateu com o taco na bola. — Gosto disso em você.

— Você me acha doidinha e... — parei de falar e mordi minha bochecha por dentro.

Senti lágrimas se formarem nos meus olhos e desviei o olhar. Eu tinha que olhar para outro lugar, tudo menos ele. Marcus me achava doidinha, boa para diversão, não boa o suficiente para namorar. Nem casar e muito menos ter um filho. Caramba, como eu odiava os hormônios. Eles faziam eu virar outra pessoa, uma chorosa e eu não gostava disso. Marcus se moveu para minha frente e pegou meu rosto nas mãos grandes. Ele estava me olhando tão confuso que eu achei engraçado.

— Samantha, o que está acontecendo com você? — me perguntou baixinho. — Você não é de ficar se magoando por palavras bobas.

Tentei segurar as lágrimas, mas não consegui e elas caíram pelo meu rosto. Me afastei dele com dificuldade e dei de ombros.

— Meus pais se separaram, Marcus. Minha mãe disse coisas horríveis para nós e... eu estou com muitas coisas complicadas na cabeça. — disse parte da verdade e limpei o rosto com as costas das mãos.

— Eu sou uma dessas coisas complicadas que estão te deixando tão emocional?  — ele perguntou colocando as mãos no bolso.

A garçonete parou ao meu lado e me deu meu suco. Eu agradeci e ela se foi. Marcus continuava me olhando com a expressão curiosa e eu bebi um pouco da bebida. Estava ótima, mas não me ajudava ali. Eu respirei fundo e olhei no fundo dos olhos dele.

É agora ou nunca...

— Eu estou grávida. — sussurrei com o cenho franzido e o coração batendo a mil. Respirei fundo e disse de novo para confirmar. — É, eu estou.

Respirei e pousei o copo na mesa de sinuca. Parecia que a música havia sumido, mas não, ela ainda estava lá. Só que agora eu e Marcus estávamos presos em um momento maluco. Eu olhei pra ele hesitante e o vi pálido, completamente parado no lugar sem saber o que fazer. Parecia que ele havia sido congelado pela notícia. Eu não aguentei a pressão, não conseguia ficar ali e esperando ele me rejeitar. Passei por ele e saí quase correndo do A pub. O segurança, Bruno, gritou por mim enquanto eu corria pela calçada cada vez mais rápido. Eu tinha que colocar a maior distância que eu pudesse entre nós. Eu precisava pensar no que fazer à seguir.

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