04. Alfa

Damon Thorn

Deixei a humana dormindo com a certeza de que nunca mais a veria,e recolhi minhas coisas o mais rápido possível para que ela não me visse saindo.

Isso evitaria perguntas.

Eu não costumava cometer esse tipo de erro. Minha alcateia era o que era porque eu não me permitia ser fraco.

Prezava pela disciplina. Pela discrição. Mas algo naquela mulher... me desestabilizou.

Talvez tenha sido o cheiro. Ou a ousadia de me encarar.

A maioria das mulheres que me querem abaixam a cabeça. Ela não.

E era extremamente atraente.

Entrei na sala da casa e a governanta me olhou desconcertada.

"Preciso tomar café da manhã, Daiana. Tenho muitas coisas a resolver hoje."

"Senhor… eu mesma preparei o seu café. A cozinheira não chegou, eu já verifiquei no chalé, na cozinha, ela não está em lugar algum."

Minha mandíbula travou.

"Maldição."

É isso que dá contratar humanos. São frágeis, atrasados, e nunca fazem o que se espera.

A última cozinheira havia pedido demissão porque era inútil. Eu estava sem paciência. Por isso aceitei a indicação da agência.

Só queria uma comida decente. Daiana era boa demais para perder tempo com isso.

"Chame essa estúpida para minha sala. AGORA."

Ela correu para obedecer.

Enquanto isso, entrei no meu escritório.

Um dos únicos lugares onde eu me sentia... inteiro.

O retrato da prateleira ainda estava ali. A moldura caiu da minha mão antes que eu pudesse impedi-lo.

Estilhaços. Vidro no chão. Pedaços do passado.

Raiva.

Ela me traiu.

Com um dos meus lobos.

E depois teve a audácia de dizer que era amor. Que era destino.

Eu estava completamente com raiva de todas as fêmeas existentes.

Como se companheirismo de Alfa fosse descartável.

Por isso, a exilei.

Mas a lembrança ainda aparecia, principalmente quando a lua subia no céu. Como um veneno antigo, correndo pelas veias.

E então... ela entrou.

O ar mudou no instante em que Caroline Hart passou pela porta.

Reconheci seu perfume. Sua pele.

O gosto dela ainda estava na minha boca.

Mas me mantive imóvel.

A garota da noite passada... era a minha nova funcionária.

A surpresa em seus olhos era quase engraçada, se eu não estivesse tão fodido de raiva.

"Feche a porta."

Ela hesitou, depois obedeceu.

Me apoiei na mesa, os músculos tensos. Aquilo era um teste do destino.

Uma noite de impulso.

E agora... ela ali, no meu território.

"Então, você é a irresponsável que chegou atrasada."

"Eu tive um contratempo. Mas estou aqui agora."

Avaliei-a como se avaliasse uma ameaça.

A mulher de ontem era pura entrega.

Essa de agora, se agarrava ao controle como se fosse escudo.

"Engraçado. Você não parecia tão responsável algumas horas atrás."

O rosto dela corou. Mas ela não desviou.

"Isso não tem nada a ver com trabalho."

"Tem tudo a ver. Agora você trabalha pra mim. E eu não tolero incompetência."

Ela engoliu em seco. Mas não recuou.

Ergueu o queixo.

Inferno.

Meu lobo... rosnou.

Mas não de raiva.

Ele não queria que eu a mandasse embora.

Quis matá-la na noite anterior, quando ela viu demais.

Ela viu ele.

Eu estava em plena transição. Um momento perigoso.

Todos os meses, desde que fui rejeitado, o lobo em mim ficava instável. Quase incontrolável.

E quando ela apareceu, naquele momento... eu quis matá-la para guardar o segredo.

Mas o lobo... gostou dela. Recusou-se a atacá-la.

E, pior ainda, se apegou ao seu cheiro.

Agora, dentro de mim, o conflito era constante.

Eu queria mandá-la embora.

O lobo... queria que ela ficasse.

"Ótimo. Então me diga..." Me aproximei, sentindo seu cheiro. "Vai conseguir manter o profissionalismo ou já está arrependida de ter aceitado esse emprego?"

"Se tem alguém que deveria estar arrependido, esse alguém é você."

Ela cruzou os braços. O olhar firme, irritado.

E eu me vi dividido entre o Alfa e a fera.

Ela então tirou algo do bolso.

Meu relógio.

"Da próxima vez que for dormir com uma estranha, verifique se não esqueceu nada que custe o preço de um apartamento, senhor Thorn."

Sorri, apesar de tudo.

Ela saiu rápido, tentando manter a pose.

Mas o coração dela…

Estava acelerado.

Assim como o meu.

Mais tarde, no escritório, liguei para meu beta.

"Victor, descubra tudo sobre Caroline Hart."

"Algum problema com ela?"

"Talvez. E convoque o conselho. Os investidores voltaram a pressionar pelas nossas terras."

"Condomínios de luxo. Florestas devastadas. Sabemos o roteiro."

"Não enquanto eu estiver vivo."

Quando desliguei, Victor deixou o relatório.

Caroline Hart.

Fuga do casamento. Contratos rompidos. Uma marca destruída... e nosso vídeo na internet se beijando naquele hotel em Nova York.

Puta que pariu.


Quão estranho o destino era para a trazer justamente para cá?

Sorri.

Ela tinha algo a esconder.

Assim como eu.

Mas a diferença é...

Ninguém esconde nada do Alfa.

Fechei o envelope.

Horas depois, Daiana bateu à porta.

"Senhor, a cozinheira está na cozinha."

"O que ela está fazendo?"

"Ela… está preparando um bife. Disse que seria do seu gosto."

"Leve para mim..., na verdade, deixe, eu mesmo busco."

Entrei na cozinha, sem grandes expectativas.

Quando coloquei a carne na boca, a frase que ia sair morreu na minha garganta.

O sabor.

O ponto exato.

O sangue.

Minha respiração falhou por um segundo. E por um instante, o lobo dentro de mim… sorriu.

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