Caroline Hart
O quão azarada eu podia ser?
Segui direto para o chalé, ignorando a governanta que me olhava com desdém, como se soubesse de algo que eu não sabia. Ao chegar, entrei no chuveiro sem nem pensar duas vezes. Precisava tirar o cheiro e os resquícios daquele homem do meu corpo.
A água quente escorria pelos meus ombros, mas não era suficiente para afastar a sensação dele. Meus olhos se fecharam, e por um instante, senti novamente o toque firme de suas mãos, o calor que queimava minha pele, os lábios pressionados contra os meus.
Soltei um gemido frustrado, encostando a testa contra os azulejos gelados.
Isso não podia estar acontecendo.
Meu corpo traía minha mente. Eu sabia que precisava sair desse emprego. Que não podia ficar ali, não após descobrir quem ele era. Mas a verdade é que minha vida já estava uma bagunça antes disso. E agora… estava uma bagunça com salário alto.
A frustração apertou meu peito, e antes que percebesse, lágrimas escorriam com a água. Solucei baixinho, tentando conter o desespero que parecia não ter fim.
Mas eu não podia desistir. Saí do chalé e fui até seu escritório novamente.
A porta se abriu com força, e antes que eu pudesse reagir, ela me acertou com tudo. Fui ao chão, atordoada, com a dor pulsando no ombro.
"Mas que inferno…" murmurei, tentando me levantar.
"Você está bem humana?" A voz grave de Damon soou perto, mas não havia exatamente preocupação nela. Apenas... curiosidade? Ou talvez provocação.
"Já estive melhor", resmunguei, me apoiando na parede para ficar de pé.
"Você devia olhar por onde anda", ele disse com aquele maldito sorriso no canto da boca." Novamente,"
"Você que devia abrir portas com mais cuidado", retruquei, massageando o ombro. "Mas já que estou aqui, precisamos conversar."
Ele cruzou os braços e se encostou na porta como se tivesse todo o tempo do mundo.
"Ah, vai me pedir demissão?" provocou, arqueando uma sobrancelha. "Não se preocupe, eu lhe darei com todo prazer."
"Não", respondi firme, segurando a raiva. "Eu vim dizer que quero continuar aqui. Eu preciso desse emprego. E quero entender suas exigências como patrão, para que eu possa te entregar exatamente o que espera."
Ele não respondeu de imediato. Apenas me olhou, como se estivesse me analisando. Ou se divertindo.
"Interessante", murmurou. "Mudou de ideia rápido. Seria o salário alto, ou... o que aconteceu entre a gente ontem à noite?"
Meu rosto queimou, mas eu não desisti.
"Eu sou uma chef premiada. Trabalhei em lugares que você provavelmente nunca reservou uma mesa. Mas estou disposta a recomeçar aqui, se isso me garantir um salário decente e... estabilidade."
Damon riu, um som baixo e debochado.
"Estabilidade? No meio do nada, num chalé velho e uma cozinha desorganizada? Parece um ótimo plano de carreira."
"Não estou pedindo sua opinião. Estou te oferecendo meus serviços. E preciso que cumpra sua parte: salário justo, e, se possível... ajuda com uma situação pessoal."
"O ex-noivo." Ele se aproximou, devagar, como um predador farejando o medo. "O mesmo que te liga vinte vezes por dia?"
Meu estômago revirou. Apertei o celular contra o peito, com força.
"Como… "
"Você parece desesperada", ele sussurrou, parando bem à minha frente.
"Talvez eu esteja", admiti, sem desviar os olhos. "Mas isso não muda o fato de que sou excelente no que faço. E que posso te surpreender, se me der a chance."
Damon sorriu de canto, claramente satisfeito com a minha postura. Com o fato de que eu não me ajoelhei... mas também não saí correndo.
"Prove, então", disse ele. "Prove que é tão boa quanto diz. Mas entenda algo, Caroline: aqui, eu mando. E se quiser ajuda com seu ex, vai ter que me convencer de que vale a pena."
Engoli em seco. Era um jogo, e eu sabia disso. Mas era um jogo que eu precisava vencer.
Mais tarde, já de volta ao chalé, após revisar mentalmente cada palavra dita naquela conversa, peguei o celular. O sinal havia voltado brevemente.
As notificações explodiram na tela. Zion de novo.
Atendi no terceiro toque.
"Caroline", ele rosnou do outro lado. "Se você não voltar em um mês para o nosso casamento, eu vou fazer o que for preciso."
"Está me ameaçando agora?" minha voz saiu mais firme do que eu esperava. "Por que não se casa com sua amante e me esquece?"
"Não banque a inocente comigo. Onde você está?"
"Onde eu estou não te diz respeito. Ou quer usar isso para explorar ainda mais o escândalo da live?"
Silêncio.
"Você não devia ter feito aquilo", ele sibilou. "Mas ainda dá tempo. Podemos nos casar e esquecer tudo."
Engasguei com o nó na garganta. Meu peito apertava como se estivesse sendo esmagado por dentro.
"Eu te amei, Zion… "minha voz falhou. "… Com tudo o que eu tinha. Aquele dia... eu estava tão feliz. Ganhei um prêmio enorme, o reconhecimento que esperei a vida inteira, e só queria dividir isso com você. Mas você... levou ela para a nossa casa. A nossa casa. Como se eu não fosse nada. Como se tudo o que vivemos não passasse de um contrato."
Minhas mãos tremiam. As lágrimas vieram sem que eu pudesse evitar.
"Eu prefiro perder tudo, cada centavo, cada oportunidade, a me casar com um homem mentiroso, frio e calculista como você."
Desliguei antes que ele respondesse.
Olhei para o vazio por um instante, tentando controlar a respiração. Não fazia sentido ele querer tanto esse casamento. Ele tinha dinheiro, status... por que eu?
Havia algo por trás disso. E eu iria descobrir. Mas primeiro, precisava manter esse emprego. Precisava garantir o apoio de Damon, por mais difícil que fosse lidar com ele.
E precisava ser forte. Forte para reaver tudo que era meu e me livrar desse maldito.
"Conta bloqueada."Li a mensagem na tela com incredulidade. Digitei a senha de novo. Outra vez."Conta bloqueada."Tentei outro cartão, o da minha poupança. Mesmo aviso. Um frio percorreu minha espinha. Zion. Só podia ser ele. Era a única explicação. Ele tinha poder sobre minhas finanças, sempre teve.Desde que me convenceu a colocar tudo em nome conjunto. Idiota. Ingênua."Merda."esbravejei."Saí da fila sentindo o sangue pulsar nas têmporas. As pessoas ao redor pareciam flutuar, irreais. Minha cabeça martelava com mil pensamentos ao mesmo tempo. Eu precisava trabalhar. Precisava de dinheiro. Não havia outra escolha agora. Voltar para a mansão Thorn era a única saída.Zion fez isso, porque acha que em um ato desesperado eu voltaria para Nova York e casaria com ele. Mas somente por cima do meu cadáver!Me machuquei, mas estou viva, e eu iria provar quem ele era, e se casasse, seria apenas uma marionete controlada.Caminhei de volta para casa sem conseguir prestar atenção em nada. Só p
Damon Thorn"Reforçou a segurança da propriedade?", ajeitei o terno, encarando meu beta."Sim, meu Alfa."A sala de jantar principal da propriedade estava pronta para o jantar daquela noite. Velas acesas, taças alinhadas, cristais importados e uma mesa longa, preparada para acomodar os principais alfas da região. Convidados que, apesar de aliados, nunca deixavam de ser potenciais ameaças caso eu demonstrasse fraqueza.Geralmente, eu suportava esse tipo de reunião. Alianças eram sempre bem-vindas — e minha alcateia era visada.A cozinheira estava na cozinha, mas eu já conseguia sentir seu cheiro. Estava no ar antes mesmo do jantar ser servido. Eu não precisava vê-la para saber que ela estava ali. Meus sentidos nunca me enganavam.Eu esperava que ela fizesse a comida como eu havia ordenado.Os convidados começaram a chegar. Victor, meu beta, estava ao meu lado, como sempre."Tudo pronto, Alfa."Discutimos alguns detalhes. A mesma chatice de sempre: territórios, ameaças, filhos, lobas de
Minhas mãos suavam frio. A proximidade entre nós estava me deixando tonta.Saí daquele terraço com raiva. O ar gelado do corredor não aliviava o calor que ele deixava no meu corpo.Me recostei contra a parede de pedra, tentando controlar a respiração. Ele tinha me encurralado, quase como se estivesse marcando território. Mas por quê? Ele nem gostava de mim. Ou gostava?A vibração do celular me despertou. Para minha surpresa, havia sinal ali.Era Magie.Atendi no segundo toque, a voz dela veio carregada de tensão."Como estão as coisas, Carol? Os advogados estão recorrendo sobre a revogação do contrato, mas o Zion não vai facilitar."Mordi o lábio inferior, sentindo uma pontada de angústia no peito."Claro que não facilitaria. Mas as coisas estão indo...""E o trabalho?""O novo chefe... é uma pessoa complicada." sussurrei, olhando para o chão."Como assim?""Nós dormimos juntos." murmurei, baixinho."O QUÊ?" ela praticamente gritou do outro lado da linha."Ainda não nos conhecíamos,
Caroline HartMais uma noite naquela casa. E meu sono simplesmente não vinha. O meu querido chefe Damon estava estranho. Ele parecia ter ficado com raiva após a noite do jantar, e estava me tratando com indiferença.Fiquei rolando na cama por horas, com o peito apertado e os pensamentos me sufocando. Quando finalmente levantei para tomar um pouco de ar, vi algo que me fez gelar.Um uivo cortou o silêncio da madrugada — longo, dolorido, quase humano. Olhei em volta, mas não havia nada. Apenas a escuridão e o farfalhar das árvores.Ao andar um pouco pelo jardim da mansão, notei marcas de queimadura em algumas pedras próximas ao bosque. Como se alguém tivesse acendido uma fogueira ali — ou algo muito mais intenso.Mais adiante, vi riscos fundos na casca de uma árvore. Pareciam... garras. Eu já nem sabia o que eu estava vendo.Engoli seco.Não era normal. Esse lugar não era normal. Mas talvez, minha cabeça estivesse tão cheia, que eu estivesse imaginando coisas.Na manhã seguinte, já ca
Caroline Hart.O ar aqui nessa parte da cidade, era diferente do centro de Nova York. Não era tão poluído o quanto.Pessoas se cumprimentavam sorridentes, aparentemente todos se conheciam.O mercado estava tranquilo, uma pequena pausa da rotina frenética da cidade. Eu amava esse momento.Havia algo em escolher os ingredientes com as próprias mãos que me trazia uma sensação de controle, algo que me faltava em minha vida nos últimos dias.Eu ainda estava tentando processar tudo o que estava acontecendo com minha vida.Zion havia se tornado uma sombra constante, uma presença ameaçadora que me seguia por todos os cantos. Eu bloqueei todas as suas tentativas de contato, mas ainda assim, ele me rondava.Escolhi mais alguns ingredientes para o jantar de mais tarde e, ao passar pela barraca de bebidas quentes, não pude resistir. Aquele chocolate quente parecia exatamente eu precisava.Eu pedi a bebida, sentindo o aroma doce e reconfortante preencher o ar ao meu redor, e estava prestes a tomar
Damon ThornMe inclinei na poltrona, ainda com o gosto do maldito beijo queimando nos lábios.O que aquela mulher queria fazer comigo?Caroline Hart.A humana que apareceu do nada, despedaçada por dentro e mesmo assim... perigosa. Irritantemente atraente.Ela havia me beijado. E aquilo me tirou do eixo.Fazia tempo que ninguém me tocava daquele jeito.Fazia tempo que eu não desejava alguém com tanto ódio quanto fome.E o pior?Eu queria mais daquilo.Mas não era piedade o que me fazia querer protegê-la.Era algo mais bruto. Instintivo.Primitivo.E se Zion Wallace queria vê-la destruída...Então eu começaria por ele.Me levantei da cadeira, peguei as chaves e saí da construtora — a fachada humana que usava há anos para manter controle sobre as terras. Entrei no carro e dirigi, sem pressa, pelas trilhas de terra que levavam ao coração da propriedade.A floresta era um abrigo. Ali eu respirava com liberdade.Longe de olhos curiosos.Longe de regras humanas.Estacionei perto da Casa de R
Caroline HartPedir ajuda a Damon Thorn era uma das últimas coisas que eu queria fazer.Meus recursos estavam acabando. A pressão estava me esmagando por dentro. Eu sabia que ele podia me ajudar — o problema era o preço de dever algo ao meu chefe misterioso."O chefe gosta de alimentos frescos, Hart. Se faltar, você deve ir comprar." Daiana sussurrou enquanto eu lavava algumas frutas.Revirei os olhos. Ainda não entendia a dinâmica dessa casa. Damon parecia o centro de tudo. Não era só respeito… era algo maior. Instintivo. Quase... devocional.Mas eu tentava me dar bem com Daiana."Você está se saindo bem, humana."Arqueei a sobrancelha. Por que todos aqui falavam como se eu fosse de outro planeta? Como se eles soubessem de algo que eu não sabia?A cidade inteira era estranha.Às vezes eu ouvia ruídos na floresta. Outras, sombras nas janelas. Como se algo sempre me observasse.Mas eu ignorava.A água ainda escorria da torneira, mas minhas mãos já não estavam mais ali. Meu corpo lavava
Damon Thorn A terra úmida sob minhas patas era um alívio. Cada passo era uma descarga de tensão, cada salto sobre as pedras, uma tentativa de esquecer. A madrugada envolvia a floresta num manto denso, e o ar cortava como lâmina, mas eu não diminuía o ritmo.Aquela era a melhor hora para a minha fuga.A floresta era o único lugar onde eu não precisava fingir. Onde o Alfa e o homem podiam se fundir sem precisar dar satisfações. Correr era o único jeito de lembrar que eu ainda era vivo. Que não era apenas o Alfa de todos. Era o filho de dois fantasmas que a floresta nunca esqueceu.Os galhos riscavam o céu, e a lua cheia projetava minha sombra sobre a relva. Meus sentidos estavam aguçados, cada barulho, cada cheiro, cada vibração no solo. Era como se o mundo respirasse comigo.Então...O cheiro do sangue.O som de um grito.A neve.O corpo dela.Os olhos da minha mãe se encontrando com os meus por um segundo que durou para sempre.Tentei frear, mas a lembrança me paralisou no meio da tr