05.Um Sabor Amargo

Caroline Hart

O quão azarada eu podia ser?

Segui direto para o chalé, ignorando a governanta que me olhava com desdém, como se soubesse de algo que eu não sabia. Ao chegar, entrei no chuveiro sem nem pensar duas vezes. Precisava tirar o cheiro e os resquícios daquele homem do meu corpo.

A água quente escorria pelos meus ombros, mas não era suficiente para afastar a sensação dele. Meus olhos se fecharam, e por um instante, senti novamente o toque firme de suas mãos, o calor que queimava minha pele, os lábios pressionados contra os meus.

Soltei um gemido frustrado, encostando a testa contra os azulejos gelados.

Isso não podia estar acontecendo.

Meu corpo traía minha mente. Eu sabia que precisava sair desse emprego. Que não podia ficar ali, não após descobrir quem ele era. Mas a verdade é que minha vida já estava uma bagunça antes disso. E agora… estava uma bagunça com salário alto.

A frustração apertou meu peito, e antes que percebesse, lágrimas escorriam com a água. Solucei baixinho, tentando conter o desespero que parecia não ter fim.

Mas eu não podia desistir. Saí do chalé e fui até seu escritório novamente. 

A porta se abriu com força, e antes que eu pudesse reagir, ela me acertou com tudo. Fui ao chão, atordoada, com a dor pulsando no ombro.

"Mas que inferno…" murmurei, tentando me levantar.

"Você está bem humana?" A voz grave de Damon soou perto, mas não havia exatamente preocupação nela. Apenas... curiosidade? Ou talvez provocação.

"Já estive melhor", resmunguei, me apoiando na parede para ficar de pé.

"Você devia olhar por onde anda", ele disse com aquele maldito sorriso no canto da boca." Novamente,"

"Você que devia abrir portas com mais cuidado", retruquei, massageando o ombro. "Mas já que estou aqui, precisamos conversar."

Ele cruzou os braços e se encostou na porta como se tivesse todo o tempo do mundo. 

"Ah, vai me pedir demissão?" provocou, arqueando uma sobrancelha. "Não se preocupe, eu lhe darei com todo prazer."

"Não", respondi firme, segurando a raiva. "Eu vim dizer que quero continuar aqui. Eu preciso desse emprego. E quero entender suas exigências como patrão, para que eu possa te entregar exatamente o que espera."

Ele não respondeu de imediato. Apenas me olhou, como se estivesse me analisando. Ou se divertindo.

"Interessante", murmurou. "Mudou de ideia rápido. Seria o salário alto, ou... o que aconteceu entre a gente ontem à noite?"

Meu rosto queimou, mas eu não desisti.

"Eu sou uma chef premiada. Trabalhei em lugares que você provavelmente nunca reservou uma mesa. Mas estou disposta a recomeçar aqui, se isso me garantir um salário decente e... estabilidade."

Damon riu, um som baixo e debochado.

"Estabilidade? No meio do nada, num chalé velho e uma cozinha desorganizada? Parece um ótimo plano de carreira."

"Não estou pedindo sua opinião. Estou te oferecendo meus serviços. E preciso que cumpra sua parte: salário justo, e, se possível... ajuda com uma situação pessoal."

"O ex-noivo." Ele se aproximou, devagar, como um predador farejando o medo. "O mesmo que te liga vinte vezes por dia?"

Meu estômago revirou. Apertei o celular contra o peito, com força.

"Como… "

"Você parece desesperada", ele sussurrou, parando bem à minha frente.

"Talvez eu esteja", admiti, sem desviar os olhos. "Mas isso não muda o fato de que sou excelente no que faço. E que posso te surpreender, se me der a chance."

Damon sorriu de canto, claramente satisfeito com a minha postura. Com o fato de que eu não me ajoelhei... mas também não saí correndo.

"Prove, então", disse ele. "Prove que é tão boa quanto diz. Mas entenda algo, Caroline: aqui, eu mando. E se quiser ajuda com seu ex, vai ter que me convencer de que vale a pena."

Engoli em seco. Era um jogo, e eu sabia disso. Mas era um jogo que eu precisava vencer.

Mais tarde, já de volta ao chalé, após revisar mentalmente cada palavra dita naquela conversa, peguei o celular. O sinal havia voltado brevemente.

As notificações explodiram na tela. Zion de novo.

Atendi no terceiro toque.

"Caroline", ele rosnou do outro lado. "Se você não voltar em um mês para o nosso casamento, eu vou fazer o que for preciso."

"Está me ameaçando agora?" minha voz saiu mais firme do que eu esperava. "Por que não se casa com sua amante e me esquece?"

"Não banque a inocente comigo. Onde você está?"

"Onde eu estou não te diz respeito. Ou quer usar isso para explorar ainda mais o escândalo da live?"

Silêncio.

"Você não devia ter feito aquilo", ele sibilou. "Mas ainda dá tempo. Podemos nos casar e esquecer tudo."

Engasguei com o nó na garganta. Meu peito apertava como se estivesse sendo esmagado por dentro.

"Eu te amei, Zion… "minha voz falhou. "… Com tudo o que eu tinha. Aquele dia... eu estava tão feliz. Ganhei um prêmio enorme, o reconhecimento que esperei a vida inteira, e só queria dividir isso com você. Mas você... levou ela para a nossa casa. A nossa casa. Como se eu não fosse nada. Como se tudo o que vivemos não passasse de um contrato."

Minhas mãos tremiam. As lágrimas vieram sem que eu pudesse evitar.

"Eu prefiro perder tudo, cada centavo, cada oportunidade, a me casar com um homem mentiroso, frio e calculista como você."

Desliguei antes que ele respondesse.

Olhei para o vazio por um instante, tentando controlar a respiração. Não fazia sentido ele querer tanto esse casamento. Ele tinha dinheiro, status... por que eu?

Havia algo por trás disso. E eu iria descobrir. Mas primeiro, precisava manter esse emprego. Precisava garantir o apoio de Damon, por mais difícil que fosse lidar com ele.

E precisava ser forte. Forte para reaver tudo que era meu e me livrar desse maldito.

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