Narrado por Bianca Vasconcellos
Eu deveria ter saído sem fazer barulho.
Deveria ter agradecido e desaparecido como se nada tivesse acontecido.
Mas algo me impediu.
Talvez tenha sido o cheiro de café. Ou o som suave da água caindo na pia. Talvez tenha sido só o fato de que, pela primeira vez em meses, eu dormi sem sentir medo.
Na casa de um estranho.
Caminhei até a cozinha, vestindo a camiseta larga que ele me emprestou. A jaqueta ainda envolvia meus ombros como uma armadura contra o mundo.
E lá estava ele. Igor.
De costas. Camisa cinza, cabelos bagunçados, músculos marcados sob o tecido.
Ele lavava uma caneca como se não tivesse arrancado sangue de um homem algumas horas atrás.
— Você acordou — ele disse, sem se virar.
Minha voz saiu fraca. — Não costumo dormir na casa de pessoas que eu não conheço.
Ele deu um meio sorriso, o primeiro que vi nele.
— E eu não costumo brigar em boates por mulheres que nem disseram seus nomes. Acontece.
Sentei-me à bancada. Tentei me concentrar no café f