Narrado por Igor Medeiros
Receber um convite do meu pai nunca foi exatamente um presente.
É quase uma sentença.
Ele não convida. Ele ordena — com enfeite.
O envelope prateado estava jogado sobre a minha cama, reluzente como se soubesse que era uma provocação. Tinha meu nome escrito com aquelas letras douradas, em fonte cursiva ridícula, coisa de gente rica que precisa lembrar o tempo todo que é rica.
Abri com o mesmo entusiasmo de quem descobre um diagnóstico ruim.
“Anunciamos com prazer o noivado do Sr. Artur Medeiros e da Sra. Isabela Vasconcellos.”
Mais uma.
A quarta, desde que minha mãe morreu.
Quarta tentativa do meu pai de preencher um vazio que ele mesmo cavou.
Bufei e joguei o envelope no lixo. Sem remorso.
Esse casamento não é sobre amor.
Nunca foi.
É sobre poder. Aparência. Títulos sociais.
E talvez sobre o ego de um homem velho que não suporta envelhecer sozinho.
Peguei o celular, escrevi no grupo dos meus amigos:
“Boate hoje. Preciso esquecer que meu pai vai casar d