CONHECENDO LAVÍNIA

CAPÍTULO 2

DENNER (R.B.) NARRANDO

Quando recebi a notícia da morte do meu irmão, foi como levar um tiro no peito. Miguel era sangue do meu sangue, mesmo que o tempo e a distância tivessem nos virado um contra o outro. Ele foi pra Itália e virou mafioso de terno. Eu fiquei aqui, no morro, e vesti a coroa de chefe com fuzil nas costas.

A gente nunca se falou depois que ele sumiu. Cada um escolheu seu lado do crime — ele na grana suja e elegante, eu na guerra de rua. Mas sangue é sangue. E quando me ligaram dizendo que ele tinha morrido dentro do seu escritório, com o coração estourado, bateu um vazio que nem álcool, nem pó, nem tiro resolveram.

Fiquei parado no beiral da laje, olhando o sol se pondo atrás dos prédios, e pensei:

"O mano se foi... e eu nem tive tempo de dizer que perdoava."

A maior surpresa veio logo depois: ele tinha uma filha. Adotiva, mas filha. E no testamento, meu nome tava lá, escrito com letra fria de advogado:

“Administração dos bens da herdeira: Denner Romano.”

Eu? Po... Miguel me odiava. Por que ele me deixaria tudo isso?

E então veio a explicação: a menina era nova, dezoito anos ….

No dia que ela chegou, eu não sabia o que esperar. Pensei numa garota mimada, cheirando a perfume caro, com olhar de nojo pra favela.

Mas quando a vi saindo do carro… irmão… quase perdi o ar.

Lavinia.

Ruiva. Branca como leite. Olhos claros que pareciam enxergar o fundo da alma. Magra, mas com curvas escondidas sob um vestido fino. Cabelo longo até a cintura, parecia personagem de filme. E quando falou meu nome, com aquele sotaque misturado, me desmontou por dentro.

Ela era linda. Linda de um jeito perigoso.

E eu? Eu era o demônio que ela não conhecia.

— Entra. foi tudo que consegui dizer.

Ela passou por mim e eu senti o cheiro. Mistura de flores com pecado. Fui atrás, tenso, tentando fingir que aquele corpo não tinha acabado de acender um inferno dentro de mim.

Conversamos. Descobri que ela sabia quase nada sobre mim. E que, mesmo morando num castelo na Itália, ela sabia o que o pai dela fazia realmente.

Contei que cresci com Miguel até ele sumir. E que nunca mais tive notícias. Ela falou do infarto. Do corpo no escritório. Dos seguranças desesperados. Da solidão. Olhava pra mim com uma dor tão parecida com a minha que me deu vontade de puxá-la pra perto e dizer: “Agora você tem a mim.”

Mas eu não disse. Não podia.

Ela era minha sobrinha.

Mesmo que adotiva.

Mesmo que meu sangue não corresse nas veias dela.

Ainda assim… era proibido.

Nos dias seguintes, mandei arrumar o quarto dela, coloquei segurança na porta, falei com a cozinheira, avisei os soldados: ninguém encosta. Quem olhar torto, perde o olho.

Mas eu… olhava. E muito.

Lavinia andava pela casa com aqueles cabelos soltos, olhos curiosos, fazendo perguntas demais. Achava bonito tudo. Até a favela. O povo. O funk. A gíria. Ela ria das coisas e se assustava com outras. Mas não tinha nojo. Não era arrogante. Era diferente.

E eu? Eu me torturava com o que sentia.

Na primeira noite,fui no seu quarto fala com ela a vi saindo do banho. Tava com uma toalha branca, cabelo molhado, pele úmida. Me viu no corredor e sorriu sem malícia.

Mas eu… fiquei paralisado.

Voltei pro meu quarto com duro e o cérebro em combustão.

“Você é o tio dela, cara!”, gritei pra mim mesmo.

Mas quando deitei, tudo que via era o corpo dela. A boca dela. A pele branca que parecia pedir pra ser marcada com minhas mãos sujas.

Eu tava ferrado.

Comecei a beber mais. A evitar ficar perto. Quando ela me chamava pra conversar, inventava desculpas. Mas cada vez que ouvia a voz dela dizendo “tio Denner”, meu corpo respondia com raiva e desejo.

Ela não tinha noção do que causava.

Ou talvez tivesse.

Teve uma noite… que ela sentou na minha frente com um short minúsculo e uma blusinha de alça. Falou de Milão, de vinho, de festas, dos livros que lia. Eu só via os lábios dela se mexendo e imaginava outra coisa.

Tive que levantar e sair.

Se eu ficasse ali, ia cometer um pecado que não tinha volta.

Ela era a herdeira. E eu… o lobo solto no pasto.

Mas o que ninguém sabia é que por trás do bandido que eu sou… existe um homem que sente. Que sofre. Que amou aquele irmão mesmo à distância. Que perdeu tudo. E agora… tinha ganho um novo motivo pra enlouquecer.

Lavinia.

Minha sobrinha proibida.

A garota que o destino colocou no meu colo... e o diabo botou desejo no meu peito.

Denner… posso falar contigo rapidinho? — chamou Mirtes, a empregada, assim que Lavinia entrou no quarto pra descansar.

Mirtes era uma mulata daquelas que deixavam qualquer homem doido. Corpo curvilíneo, nádegas redonda, cintura marcada, pele brilhante e sedosa. Já era da casa há quatro anos. E sim… era de cama e mesa. Sempre que eu queria aliviar a tensão, era ela que eu chamava.

Sem apego, sem cobrança. Era sexo quente, suado, no pé da escada, na cozinha, às vezes no meu próprio quarto. Ela sabia me provocar como ninguém.

Só que agora… os olhos dela tavam diferentes.

Ciúme? Insegurança?

— Aquela menina... é linda — soltou, com um sorrisinho sarcástico. — Ruiva, com cara de princesa… tá enfeitiçando geral.

Fica na tua, Mirtes. Ela é minha sobrinha. — Falei seco, mas sem firmeza.

Por dentro, eu ainda ouvia o som da voz dela me chamando de “tio”.

— Sobrinha… adotiva — ela rebateu, afiada. — E você é homem. Eu conheço seu olhar, Denner. Tu já tá pensando besteira.

Fechei os punhos, virei o rosto.

Mirtes sempre me leu fácil. Talvez fácil demais.

— Ela vai morar aqui? — insistiu, se encostando na pia da cozinha, cruzando os braços, com o peito empinado.

— Vai. E quero respeito. Você vai continuar cuidando das coisas, mantendo a casa limpa, a comida no ponto. Mas… sem olho grande pra cima dela.

Mirtes arqueou a sobrancelha.

— Olho grande? Eu? — riu debochada. — Quem tem que controlar o olho é você, Denner.

Naquela noite, fui pro quarto com a cabeça a mil.

Mirtes não tava errada. Eu tava no limite.

Já tinha bebido três doses de whisky. E mesmo com a porta trancada, ainda ouvia os passos leves da Lavinia pelo corredor. Senti um cheiro doce invadir o ar. Perfume caro, daqueles que grudam na memória. E então... uma batida leve.

— Tio? — a voz dela do outro lado da porta.

Engoli seco.

— Fala, Lavinia.

Desculpa incomodar… queria saber se posso te mostrar umas joias.

Abri a porta.

Ela tava com um short jeans pequeno e uma blusinha branca, sem sutiã. Os mamilos duros desenhavam no tecido. O cabelo ruivo preso num coque frouxo, com algumas mechas soltas.

Me olhou nos olhos… e sorriu.

O mundo parou naquele momento.

Mandei entrar ela entrou e botou a caixa de joias em cima da cama e começou a me mostrar .

começa ali o meu martírio.

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