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####ENERGIA RUIM NÃO ME AFETA

O Primeiro Dia que Floresceu

O escritório ainda parecia impregnado pelo perfume exagerado e pela presença incômoda de Chiara Volpini, mas eu não ia deixar que aquilo roubasse a minha energia. Onde ela deixava veneno no ar, eu tinha certeza de que podia espalhar cores.

Organizei a última pilha de documentos sobre a mesa auxiliar, revisei a agenda do dia seguinte e desliguei o computador com a pontualidade que aprendi desde cedo. Eu poderia ir até a sala do senhor De Luca e avisar que estava saindo, mas no meu primeiro dia de experiência eu preferi não invadir sua rotina. Melhor seguir o protocolo.

Me aproximei da mesa de Dona Francesca, a secretária veterana de Luccero, e sorri.

— Dona Francesca, já estou de saída. Hoje não vim de carro, minha madrinha me trouxe. Ainda quero passar na floricultura antes de ir pra casa. Amanhã venho dirigindo e prometo chegar mais cedo.

Ela ergueu os olhos por cima dos óculos e riu baixinho, daquele jeito cúmplice que me aqueceu o coração.

— Menina… menina… você vai alegrar este lugar. Só espero que eu ainda esteja aqui quando esse jardim começar a florescer.

Eu sorri de volta, inclinando a cabeça como quem faz uma promessa silenciosa.

— Vai sim. A senhora só sai no final do mês, não é? Ainda tenho muito que aprender com a sua experiência.

Me aproximei e lhe dei um beijo rápido no rosto, ajeitando a bolsa rosa no ombro.

— Como estou em período de experiência, não preciso me despedir diretamente do senhor De Luca. Até amanhã, Dona Francesca.

Antes que eu me afastasse, ela baixou a voz em tom confidencial:

— Tome muito cuidado com a Dona Chiara. Ela se acha dona do senhor Luccero. Mas ele não tem intenção nenhuma de casar com ela. Ainda assim, vai tentar te prejudicar.

Eu não hesitei. Sorri firme e respondi:

— Ela que tente.

Com um aceno gracioso, despedi-me:

— Até amanhã. Tchau, tchau!

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🌺 A Floricultura

O sol da tarde tingia Nápoles de dourado quando atravessei a porta de vidro da floricultura. Meus olhos brilharam diante da profusão de cores: violetas delicadas, suculentas robustas, cactos floridos e uma rosa do deserto exuberante que parecia sussurrar meu nome.

— Essas vão alegrar qualquer escritório, murmurei, enchendo os braços de vasos pequenos e médios.

Na minha cabeça, eu já visualizava cada canto do ambiente cinzento do senhor De Luca sendo tomado pela vida:

a varanda transformada em um recanto verde,

a mesa sóbria com uma suculenta discreta,

o balcão frio recebendo violetas sorridentes.

Sorri sozinha, certa de que até o coração mais resistente acabaria cedendo ao poder silencioso das plantas.

Carregada de flores, chamei um Uber pelo celular. No trajeto, olhei para cada vasinho com ternura, como se estivesse levando novos amigos para o primeiro dia de aula.

No fundo, eu sabia: não eram apenas enfeites. Eram símbolos de quem eu era — uma mulher que transforma ambientes áridos em jardins, e cinzas em cor-de-rosa.

Quando cheguei em casa, deixei os vasos espalhados pela sala como se tivesse acabado de montar um pequeno viveiro dentro do meu apartamento. As gloxínias ficaram sobre a mesa de centro, as suculentas ocuparam a bancada da cozinha e a rosa do deserto ganhou posição de destaque perto da janela.

Suspirei, olhando para aquele caos colorido que eu mesma havia provocado. Meu coração estava leve, mas minha cabeça girava em mil pensamentos.

Será que exagerei? — perguntei a mim mesma, passando os dedos sobre as pétalas macias da rosa do deserto. — E se ele não gostar? E se achar que estou invadindo um espaço que não é meu?

Mas, logo em seguida, a lembrança do olhar de Dona Francesca voltou à minha mente. Ela havia dito que eu alegraria aquele lugar, e eu decidi acreditar. Se até a secretária veterana via em mim essa capacidade, quem era eu para me calar diante de um punhado de flores?

Preparei uma xícara de chá de camomila e me sentei no sofá, cercada pelos vasos. Era como se eu estivesse em um jardim improvisado, um refúgio depois de um dia intenso. Peguei uma agenda cor-de-rosa que guardava para momentos especiais e comecei a anotar o que precisaria levar no dia seguinte:

Estrado de madeira para a varanda.

Vasos de suculentas em cascata.

Palmeiras ornamentais para a entrada do escritório.

Gloxínias para a mesa do senhor De Luca.

Pequenas violetas para distribuir discretamente.

Sorri enquanto rabiscava cada item. Parecia até que eu estava planejando um ataque militar, mas o meu campo de batalha era outro: o concreto frio que precisava de vida, o silêncio que merecia cor.

Fechei os olhos por um instante e imaginei a cena. Eu chegando cedo, antes mesmo de Francesca. Empurrando o carrinho de compras carregado de vasos. O elevador subindo lentamente até o andar da presidência. Os olhares curiosos dos funcionários que, provavelmente, achariam aquilo uma loucura.

E, por fim, o momento em que ele abriria as persianas da varanda. Eu quase podia ver a expressão surpresa de Luccero diante do jardim inesperado. Um homem acostumado a controlar tudo nos mínimos detalhes, de repente confrontado com algo que não planejou.

Um arrepio me percorreu os braços. Não era medo. Era expectativa.

Dei outro gole no chá e encarei meu reflexo no vidro da janela. Os tons cor-de-rosa da minha blusa se misturavam com a luz alaranjada do entardecer. Sorri. Aquela era a minha marca, o meu jeito de enfrentar o mundo: transformar cinza em cor, silêncio em música, rotina em poesia.

Levantei-me e comecei a organizar os vasos no carrinho que ficaria pronto para a manhã seguinte. Amarrei cada planta com cuidado, coloquei jornal no fundo para evitar que o solo se espalhasse e cobri tudo com um lençol cor-de-rosa. Queria que fosse uma surpresa completa, até o último detalhe.

Enquanto trabalhava, pensei em Chiara. A maneira como ela havia me olhado naquele dia, como se eu fosse uma árvore de Natal ambulante. Ri sozinha. Se ela soubesse que amanhã eu realmente transformaria o escritório em um jardim, provavelmente teria um ataque.

Mas não importava. Eu não estava ali para competir com Chiara. Eu estava ali para cumprir a missão que me foi dada: ajudar Luccero a se tornar o homem que a família acreditava que ele poderia ser. E, no fundo, eu também queria provar a mim mesma que era capaz.

Quando terminei, já era noite. Apaguei as luzes da sala e fiquei observando o carrinho coberto, iluminado apenas pela claridade da lua que entrava pela janela. Parecia um presente embrulhado, esperando o momento certo para ser aberto.

— Amanhã vai florescer, — murmurei, antes de me recolher.

E, pela primeira vez em muito tempo, adormeci com um sorriso nos lábios, sonhando com um jardim que ainda nem existia.

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