CAPÍTULO 2

P.O.V: VICTORIA

Embora Lucca Avelar tenha demonstrado boa vontade quanto aos desejos de Safira para o casamento, ficou claro que ele era completamente contrário à ideia de realizar a cerimônia na mansão. Novamente, a razão parecia ser o seu pai.

Prometi a Safira que conseguiria isso a qualquer custo, e eu não volto atrás em uma promessa. Estava na hora de conhecer o temido Heitor Avelar.

Enquanto caminhava pelo longo corredor, meu coração acelerava. Já o havia visto em fotos e sabia que era um homem bonito. Na verdade, mais que bonito. Intenso, sério, reservado. O tipo de homem que atrai rumores com atrizes e modelos, mesmo sem dar entrevistas ou aparecer em festas. Por isso, preparei-me para o pior.

Bati na porta de madeira pesada que me indicaram ser seu escritório. O som ecoou pelo corredor, e sua voz grave e rouca autorizou minha entrada. Gélida, a maçaneta pareceu carregar o peso da tensão. Quando a toquei, um frio percorreu meu corpo, instalando-se no estômago.

Ao entrar, a visão foi ao mesmo tempo intimidadora e impressionante. Heitor Avelar estava recostado em uma enorme cadeira de couro, que parecia pequena diante de sua altura e porte musculoso. Seu rosto ainda oculto, apenas seus cabelos escuros com fios grisalhos eram visíveis, enquanto lia um monte de papéis sobre a mesa. Sua camisa azul tinha os dois primeiros botões abertos, revelando parte do peito. O tecido, amassado, indicava horas de confinamento ali.

— Com licença, senhor Avelar... — disse tentando soar amigável. — Boa tarde.

Ele franziu o cenho ao ouvir minha voz, então ergueu a cabeça. Ver seu rosto foi como ser arrastada por uma onda. Maxilar bem desenhado, barba grisalha combinando com os cabelos, e um olhar penetrante que me prendeu no lugar. O silêncio entre nós foi denso.

Respirei fundo e firmei os pés no chão. O ambiente colaborava com o impacto: móveis escuros, luzes amareladas, um calor aconchegante misturado ao perfume amadeirado que ele usava, além do cheiro do whisky.

— Desculpe incomodar... — afastei uma mecha do cabelo. — Está muito ocupado?

Ele pigarreou, talvez por causa do álcool. Balançou a cabeça.

— Sempre ocupado — disse, com voz firme. — Mas vou dar um tempo para você. — Levantou-se e contornou a mesa, puxando uma cadeira para mim. — Sente-se.

Foi uma ordem. E eu obedeci.

— Prometo ser rápida — disse, jogando novamente a mecha de cabelo para trás. — E, se o senhor colaborar, será mais rápido que uma pausa para beber água. — Olhei para o copo e a garrafa de whisky à sua frente. — Que aparentemente o senhor está precisando.

Ouvi um som contido vindo de sua garganta. Um riso? Queria ter visto. Estava curiosa demais com aquele homem.

— Acho difícil esquecer sua presença, até porque você parece não saber cuidar da sua própria vida — murmurou, se inclinando. Senti seu ar quente no ouvido, causando um arrepio. Então ele voltou à sua cadeira. — Em que posso ser útil, senhorita...?

— Victoria Barone — respondi com um sorriso. — E, realmente, me perdoe pela intromissão quanto ao seu... vício. Não é da minha conta. Mas o que vim tratar diz respeito a mim, ao senhor e ao seu filho.

— Qual dos meus filhos está na sua conta, Victoria?

— Os dois — respondi, apertando os lábios. — Mas hoje, especificamente, Lucca.

— O que ele fez?

— Não seja duro com ele — ri, tentando aliviar a tensão. — Com esse tom, parece que estou falando com o pai de uma criança. — Me recostei na cadeira. — Eu sou a cerimonialista responsável pelo casamento dele e de Lorenzo.

Expliquei a ideia da cerimônia intimista, do desejo de Safira por algo acolhedor e familiar. Mencionei o quanto achávamos a casa linda, perfeita para o evento.

— Sou pai, e meu dever é educar e punir meus filhos quando fazem algo errado — retrucou. — Isso inclui festas nesta casa, que ele sabe serem proibidas.

Tentei manter a calma. Este era o evento da minha carreira. O casamento mais importante da vida de Safira.

— Ele me contou... — comecei a brincar com os dedos, nervosa. — Mas eu trabalho com sonhos. Um casamento é um dos dias mais importantes da vida de um casal, e deve ser perfeito. Faço o que for preciso para isso. Inclusive vir até aqui, insistir e dar a cara a tapa.

— Ele nunca falaria de assuntos familiares com uma estranha — rebateu. — Eu o criei bem.

— Mas se o senhor quer que sua futura nora esteja feliz no dia mais importante da vida dela, não existe lugar melhor. Dinheiro não é problema, mas memórias e aconchego não têm preço.

Heitor soltou uma risada que me pegou desprevenida. Não era zombeteira. Era como se achasse graça na minha tentativa.

— Você é muito intrometida, Victoria — disse com bom humor.

— Só quando preciso — sorri, estudando seu rosto, tentando entender se podia continuar insistindo.

— Mesmo com todas as opções do mundo, você quer fazer a cerimônia aqui... — se inclinou. — O proibido é mais gostoso, não é, Victoria?

Engoli seco. Ele estava flertando ou tentando me intimidar?

— Gosto de quebrar barreiras que não deveriam existir, senhor Avelar. Algumas coisas foram feitas para serem aproveitadas, não evitadas — rebati, me inclinando também. — Então... vai me dar um sim?

— Você já se casou, Victoria?

A pergunta me pegou desprevenida.

— O que isso tem a ver? Está sendo tão intrometido quanto diz que eu sou — tentei brincar.

— Responda — exigiu, firme.

— Existe uma regra de que toda cerimonialista deve se casar ao menos sete vezes na vida — menti com ironia.

Ele me encarou sério, o silêncio preenchendo o ambiente.

— Qual é a graça? Não vejo graça em ser uma vadia que passa de homem em homem.

Fiquei em choque. Balancei a cabeça, decepcionada.

— Já vi que o senhor não aprecia brincadeiras... — suspirei. — Não. Eu nunca me casei.

Ele avaliou minha resposta, desconfiado.

— Então como sabe que sua cliente não terá um casamento perfeito em outro lugar, já que nunca teve o seu?

— Da mesma forma que um cardiologista entende a importância de um transplante sem nunca ter feito um — retruquei, ofendida. — É o meu trabalho. Casamento é minha especialidade.

— Teoria não é realidade. E sejamos honestos, não deve ter tantos anos de carreira, considerando sua idade.

Okay. Ao menos ele achava que eu parecia jovem. Só que sua intenção não era elogiar, era diminuir minha experiência.

— Tenho mais idade e experiência do que o senhor imagina. Inclusive, sou mais velha que seus filhos. Não tente descredibilizar meu trabalho por eu não ter casado. Existem muitas formas de se relacionar além do altar. — O encarei. — O senhor se casou, teve filhos e está aqui, tão solteiro quanto eu.

— E você usou essas outras formas de se relacionar? — sua voz se tornou mais dura. — Que pena. Achei que era uma mulher séria, mas vejo que é só mais uma sem valor. Não terá permissão para usar minha casa. E nem fará o casamento dos meus filhos. Não quero minhas noras perto de mulheres vulgares.

Respirei fundo. A raiva queimava.

— Eu entendo que sua idade influencie em pensamentos conservadores — respirei fundo — mas seja respeitoso.

— Uma mulher que se deita com um homem sem casar não merece respeito — disse, erguendo-se da cadeira. — Quem é que quer uma mulher usada?

Aparentemente, o senhor... pensei.

Levantei-me também, indignada. Abri o sobretudo, revelando o corset preto. Vi seus olhos vacilarem.

— Não que seja da sua conta... — me aproximei da mesa, pegando a garrafa de whisky — mas fui mulher de um homem só. Até que terminamos.

Derramei o líquido no copo e deslizei-o pela mesa.

— Só quero realizar o sonho delas.

Sua mão agarrou meu pulso.

— Então por que ele nunca se casou com você?

— Isso é algo que deve perguntar a ele, não acha? — puxei meu pulso de volta.

— Quando uma mulher entrega o que tem de mais precioso com pressa, termina sozinha e desonrada — disse, bebendo o whisky de uma só vez. — Se era tudo, pode se retirar.

Fiquei ali, paralisada. Respirando fundo, caminhei até a porta. Mas parei.

— Ah... e já que o senhor manda nos filhos adultos, mande Lucca liberar a noiva da gaiola. Está difícil planejar o casamento com uma mulher que não pode sair de casa.

— Mandarei ele trocar a cerimonialista! — gritou.

Saí e encostei no corredor, respirando fundo.

— Merda...

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP