ZOE
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O café da manhã foi um verdadeiro show de horrores.
Minha mãe, cada vez mais firme, parecia perder o medo centímetro por centímetro, enquanto meu pai lutava para esconder de mim quem ele realmente era, e perdia feio.
Não sei se era ingenuidade da minha parte ainda pensar que, no fundo, ele tentava nos proteger. Talvez quisesse apenas proteger a si mesmo. Não era um gesto de amor, era de covardia, era o medo de se encarar no espelho, de admitir para si mesmo que já não era o homem que fingia ser.
— Onde está a Joyce, que não está aqui na mesa para o café?
Ele perguntou casualmente à Lúcia, como se sua voz não estivesse impregnada de culpa.
Lúcia, em vez de responder, me lançou um olhar pesado, carregado de significados. Mas eu fui mais rápida.
— Não era você que deveria ter essa resposta, papai?
Falei com calma, cada sílaba cortante como faca.
— Afinal, é o senhor que dorme com ela. Onde ela está?
Eu sabia, claro que sabia. Ele não havia dormido no quarto, e aquela pergunta nã