Na manhã seguinte, acordei cedo. O céu ainda estava azul-acinzentado, o barulho dos carros começava a surgir lá embaixo, e Martinha já estava no batente, resmungando que eu precisava “voltar a comer feito gente”.
Depois de um café apressado, sentei na mesa da sala com o manuscrito antigo diante de mim. O tal livro que a editora queria. A obra que eu havia deixado pela metade antes de fugir para Monte Verde com a cabeça cheia e o coração cansado.
Li as primeiras páginas em silêncio, mas logo comecei a franzir a testa. Era como se outra pessoa tivesse escrito aquilo. As palavras estavam ali, bem organizadas, mas faltava alma. Faltava verdade.
Peguei uma caneta. Suspirei. E comecei.
A protagonista, antes fria e distante, ganhou rugas de humanidade. Eu dei a ela uma vizinha excêntrica e acolhedora — com olhos brilhantes, uma risada fácil e um dom quase mágico de aparecer sempre quando era mais necessário. O nome dela? Gertrudes, claro. Porque ninguém nunca será como Dona Ge, mas eu podia