“Heloísa”
— Carlos, você sabe de algo que eu não sei.
Falo para o meu marido que se espalha feito um bobo pela suíte do navio. Nós somos casados há quase quarenta anos e eu conheço muito bem esse homem.
— Eu hein, mulher. Não sei do que você está falando. — Ele vai para a varanda e me chama. — Chega aqui, Helô, olha essa paisagem. Imagina esse navio em alto mar. Deve ser um espetáculo.
Eu paro no meio da sala da suíte com as mãos nas cadeiras.
— Carlos, Carlos, você abre o teu olho comigo, que eu não sou boba não. Aí tem coisa. O que esse capitão tá querendo com a Márcia pra ser tão bonzinho assim com a gente? Ninguém almoça de graça, não, Carlos.
Ele se aproxima de mim devagar, apoia as mãos em meus ombros e me puxa em um abraço. Carlos beija minha testa e olha para mim, bem dentro dos meus olhos.
— Eu acho que você pensa demais. A Márcia já tem 27 anos, lembra disso? A nossa filha acabou de ser traída pelo crápula do Henrique e eu não entendo por qual razão você defende tanto ele.