Lara estava sentada diante do espelho, escovando os cabelos com lentidão. O reflexo mostrava seus olhos castanhos, inquietos, a linha dos lábios levemente franzida. Parecia uma pintura de serenidade — mas só por fora.
— "Ele a encontrou, mamãe." — disse, por fim, em voz baixa. Quase um sussurro.
Sentada na poltrona próxima, sua mãe — elegante, com os cabelos presos num coque firme e a expressão afiada como lâmina — ergueu o olhar, atenta.
— "Tem certeza?"
— "Eu vi nos olhos dele. Ele congelou no instante em que aquela garota apareceu... e depois não disse uma palavra. Nem pra mim."
Houve um silêncio pesado. A mãe de Lara se levantou e caminhou até ela, parando atrás da filha. Com firmeza, pegou a escova de suas mãos e começou a penteá-la, com movimentos calmos, quase ritualísticos.
— "Você precisa agir, Lara."
— "E se ele me deixar?"
A pergunta saiu trêmula. Pela primeira vez, a doçura cuidadosamente construída vacilava. A mãe franziu o cenho.
— "Você não pode se dar a esse luxo. Você é a namorada do futuro alfa. Há cinco anos se prepara para isso, com perfeição. A Luna precisa ser confiável, serena... e você se tornou exatamente isso."
— "Mas o vínculo—"
— "O vínculo não é tudo." — cortou a mãe, firme. — "Você sabe disso melhor que ninguém."
Lara abaixou os olhos. O peso do que escondia era quase palpável.
— "Eu menti pra ele, mãe..." — murmurou. — "Disse que não tive vínculo com ninguém. Mas... eu tive. Há dois anos. Um ômega. Um qualquer. Só de olhar pra ele eu soube. Mas o rejeitei ali mesmo. Nunca contei a ninguém."
A mãe parou de escovar, mas não pareceu surpresa. Em vez disso, seus olhos brilharam com frieza calculada.
— "Você fez o que era necessário. Você acha que pode ser Luna ao lado de um ômega? Jogaria fora o futuro que construímos por um destino medíocre? Não. Você é melhor que isso."
Lara assentiu, embora o nó na garganta doesse.
— "Mas... e se Rhis se afastar de mim por causa daquela garota?"
A mãe a segurou pelos ombros e a fez encarar o espelho novamente.
— "Você vai impedi-lo. Vai lembrar a ele o quanto esteve ao lado dele quando todos duvidavam. Vai mostrar que ela não é digna. Que ele não precisa se curvar ao destino."
— "E se ele sentir o vínculo com ela... forte demais?"
A mãe se inclinou e sussurrou ao seu ouvido:
— "Então você será ainda mais forte. Você será a voz da razão. E se necessário, você fará com que ela desista por conta própria. Porque, minha filha... você não pode perder o escolhido da Deusa e o alfa que dedicou cinco anos a conquistar. Isso seria perder tudo. E nós não somos mulheres que perdem."
Lara fechou os olhos.
Quando os abriu de novo, a insegurança havia sumido, substituída pela máscara doce e serena que tão bem aprendera a usar.
Ela se levantou, ajeitou os cabelos com perfeição e sorriu para o próprio reflexo.
— "Você tem razão, mãe. Ele é meu."
E, pela primeira vez, o brilho em seus olhos era de luta.