Capítulo 2
Eu andava de um lado para o outro na sala de estar, como um animal enjaulado.

O que eu poderia fazer para apagar aquele olhar presunçoso do rosto da Maria no Instagram?

Talvez desenterrar uma foto antiga minha e do Luca, algo íntimo, só para lembrar ao mundo com quem ele realmente tinha se casado.

Mas a verdade?

Em sete anos de casamento, eu mal conseguia encontrar uma única foto nossa que parecesse romântica.

Luca sempre dizia: — Nesse negócio, privacidade nos mantém vivos.

Então me diga: se privacidade era tão importante, por que ele deixava a Maria postar fotos dele em todos os stories dela?

Minhas mãos tremiam quando peguei o celular.

Pensei que talvez ela já tivesse apagado o último post, como o Luca sempre me mandava fazer.

Não.

Em vez disso, ela tinha postado de novo. Apenas alguns minutos depois.

Dessa vez, ela estava na praia, de biquíni, da mesma cor do vestido justo da noite anterior, jogado sobre o braço.

Ela segurava um salto pendurado preguiçosamente no dedo mindinho.

Então ela jogou um punhado de água no Luca enquanto estava de pé na beira do mar.

E ele estava sorrindo para ela.

Sorrindo de verdade.

Pisquei. Quem diabos estava filmando aquilo? Minha filha? Dora?

Eles pareciam uma família de verdade. Uma família perfeita de revista.

E eu? O que eu era?

A mulher que deu à luz Dora depois de uma gravidez infernal, que ficou calada e obediente em meio ao caos dos Moretti só para proteger o nome da família?

A mulher que ainda esperava em casa por um marido que prometeu: "Não vou demorar"?

Adivinha, Luca? Você não é rápido. Você simplesmente se foi.

Eu estava cansada. Exausta. Despedaçada por dentro.

Bloqueei a tela do celular, minha visão turva de calor e raiva.

Meus dedos roçaram novamente o anel.

Dessa vez, eu o tirei.

Ele já não significava nada.

Peguei o telefone e liguei para a mãe dele, Fiona Moretti. Ela atendeu quase instantaneamente.

— Mãe. — Eu disse, tentando manter a voz firme. — Sinto muito, mas este ano… talvez eu não consiga ir à reunião da família, porque…

— Isso é inaceitável, Catrina. — Ela me cortou, ríspida. — O irmão de Luca conseguiu voar da Itália cheio de compromissos de negócios. Você não tem desculpa.

E desligou.

Assim mesmo. Fria. Desdenhosa. Exatamente como o filho.

Fiquei olhando para o celular por um instante e depois enfiei o anel que valia facilmente um milhão de dólares no bolso.

Eu estava cansada de ser destruída em silêncio.

Se eu fosse embora, não iria de mãos vazias. Eu queria ir embora com a minha filha.

Talvez tivesse sido culpa minha deixar a Maria tão próxima da Dora.

Eu não fazia ideia do que ela sussurrava para ela, que mentiras contava para virar minha filha contra mim.

Mas eu acreditava, e precisava acreditar, que se eu passasse tempo com a Dora, ela se lembraria de quem eu realmente era.

Troquei minhas roupas casuais por um terno da LV sob medida.

Impecável. Elegante. Alguém que merecia ser levada a sério.

A casa ainda estava quente, escura, a eletricidade continuava cortada.

Não me importava mais.

Saí e defini a praia como destino. Eles tinham que estar lá. Só esperava não ser tarde demais.

Mas nada nunca é tranquilo na minha vida.

O primeiro motorista cancelou, disse que era longe demais.

Esperei mais vinte minutos até conseguir outra corrida.

Quando finalmente cheguei à praia, o sol já estava se pondo.

Eles tinham ido embora.

Chequei o Instagram da Maria de novo.

Felizmente, dez minutos antes, ela havia postado outro story, dessa vez em um restaurante próximo.

Corri para lá.

E o que vi no exato segundo em que entrei?

Maria dando sopa na boca do Luca. Mesma colher. Sorrindo. Como se fosse o lugar dela.

E a Dora? Sentada ao lado deles, jogando no celular tranquilamente, como se tudo fosse normal.

Eu não aguentei.

Avancei, peguei Dora nos braços.

Ela arfou, claramente surpresa, me olhando como se eu fosse uma estranha.

Então me empurrou.

— Não encosta em mim, Catrina!

Catrina.

Não mãe. Nem mamãe.

Maria se levantou correndo, com aquela preocupação falsa de sempre:

— Dora, está tudo bem…

Mas eu me coloquei entre elas.

— Ela é minha filha. — Falei com firmeza. — É bom você se lembrar disso. O que significa que você não tem direito nenhum de interferir. Você é só a empregada.

Dora se afastou de mim, correndo direto para a Maria.

Ela agarrou a mão dela como se estivesse se agarrando à própria vida.

— Quem não tem direito é você. — Rebateu ela. — A Maria pode fazer o que quiser!

Eu não consegui nem falar. Senti meu coração se partir em dois.

Minha voz saiu fraca:

— Dora, meu amor… o que eu fiz de errado? Por que você está me afastando? Por que está defendendo uma empregada?

Dora cruzou os braços.

— Você menospreza a Maria. Mas para mim, a Maria não é só uma empregada.

— Então o que ela é para você? — Minha voz tremia, eu mal me controlava.

Antes que ela respondesse, Luca se levantou, a voz gelada como sempre:

— Chega, Catrina. Eu disse para você esperar. O que está fazendo aqui?

— O que estou fazendo aqui? — Ri amargamente. — Luca, eu não ia esperar até amanhã feito uma idiota!

Maria interveio novamente, demonstrando ao máximo sua preocupação falsa.

— Desculpe, Catrina. Eu não queria te magoar. Só queríamos que a Dora se sentisse segura. Talvez seja melhor irmos embora agora. Tem gente olhando, e isso pode colocar o Luca em risco.

Luca olhou ao redor, analisando a multidão.

— Ela tem razão. — Murmurou. — Catrina, chega de drama. Senta e come alguma coisa. Ou vai esperar no carro.

Drama.

Agora eu era drama.

Olhei para Dora mais uma vez. Ela me encarava como se não me reconhecesse.

Virei-me para Luca e abaixei a voz:

— Podemos conversar lá fora? Só um minuto.

Ele suspirou, irritado, mas assentiu.

Do lado de fora, já havia anoitecido completamente. Os postes zumbiam sobre nós.

Olhei para o homem que um dia eu amei.

— Luca, pode pedir para a Maria nos deixar a sós por um tempo? Só quero falar com a Dora sem ela por perto. Acho que a Dora se abriria se a Maria não estivesse sempre entre nós.

Ele balançou a cabeça.

— Catrina, isso não é sobre a Maria. É sobre você. Precisa encarar isso. Não temos tempo para isso agora. Ainda tenho três horas de viagem.

— Ah, então você teve tempo para brincar na praia, mas agora está com pressa?

Ele franziu o cenho.

— Você está nos rastreando agora?

— Você não me deixou escolha.

— Você mudou, Catrina.

— E você também. — Respondi em voz baixa.

Ele não disse nada. Apenas virou as costas e voltou para o restaurante.

Enquanto ele entrava, percebi Maria nos observando pela janela.

Ele me mandou esperar de novo. Mas eu não era mais aquela mulher.

Afastei-me do restaurante, peguei um táxi e, assim que entrei, tirei o celular do bolso e digitei as palavras que nunca pensei que escreveria:

— Vamos nos divorciar. Eu não irei à reunião da família.

Enviei.

E desliguei o celular.
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