Capítulo 4
Eu realmente achei que conseguiria me afastar dele.

Mas eu subestimei o quão forte era o nome Moretti.

Toda vez que eu tentava encontrar um advogado para me ajudar a pedir o divórcio, eles se calavam no segundo em que eu mencionava o nome de Luca.

Alguns ficavam nervosos.

Outros simplesmente diziam que "não estavam aceitando novos clientes."

Mas nós dois sabíamos o que era. Ninguém queria ir contra os Moretti.

E justamente quando eu estava ficando sem ideias, Luca me ligou.

— Amanhã é o aniversário da Dora. — Disse, como se falasse sobre o tempo. — Ela quer ver a mãe.

Meu peito apertou.

— Dora quer me ver? — Tentei soar calma, mas minha voz falhou. — Você tá falando sério?

— Você acha que eu mentiria sobre isso? — E então ouvi a voz de Dora ao fundo.

— Eu quero ver minha mãe.

Aquela vozinha me atingiu como um soco no estômago.

Pisquei rápido, tentando não chorar. Sorri pela primeira vez em semanas.

— Vou te ver amanhã, meu amor. — Respondi rápido, antes que ela mudasse de ideia.

Perguntei a Luca: — Onde iremos nos encontrar?

— Na Villa Rosetta. Via Bellagio 1925.

Villa Rosetta. Claro. Uma das propriedades dos Moretti. Onde os pais dele ficavam a maior parte do tempo. Aquilo me deixou nervosa.

— Espera. — Perguntei. — Vai ser só nós três? Você, eu e Dora?

Mas a linha já tinha caído.

Um pressentimento ruim me tomou.

Mesmo assim, apareci no dia seguinte. Vesti meu melhor vestido.

Disse a mim mesma que talvez aquela fosse a última vez que veria Luca, ou qualquer um deles, porque assim que tivesse Dora comigo, eu iria embora.

Eu tinha economizado por anos, escondido dinheiro que ninguém sabia.

Talvez eu não conseguisse me divorciar legalmente, mas podia começar uma nova vida.

Uma vida silenciosa. Só eu e minha filha.

Quando cheguei, o cheiro de comida caseira me atingiu na hora.

Fiona estava de fato cozinhando na cozinha, e a mãe de Maria pendurava fitas e flores.

O lugar parecia… acolhedor.

Luca estava no saguão, e quando me viu, ficou apenas me encarando como se não me visse há anos.

Até o pai dele apareceu, acompanhado por dois assistentes de terno escuro.

Mantive a calma, sorri, acenei. — Pai. Mãe. Espero que estejam bem.

Fiona sorriu de volta, de um jeito genuíno, estranhamente.

E o pai de Luca me deu seu aceno habitual, o mesmo meio segundo de atenção que dava para os garçons.

Virei-me para Luca: — Onde está Dora?

— Está se arrumando. — Respondeu, desviando os olhos.

— Está sozinha? Vou ajudar…

— Não, ela tem ajuda. — Cortou rápido.

Meu estômago afundou. Ajuda? De quem?

Não precisei perguntar.

Poucos minutos depois, Maria entrou, de mãos dadas com Dora.

E assim, toda esperança que eu tinha naquele dia desmoronou.

Dora me olhou por um segundo, e logo desviou o olhar, como se não quisesse lidar comigo. Como sempre. Fria. Distante. Como se eu fosse uma estranha.

Fiona correu com um sorriso enorme.

Entregou a Dora uma caixinha de veludo.

Uma pulseira de diamantes que provavelmente custava mais que meu apartamento.

Depois virou-se para Maria e colocou um colar combinando em seu pescoço, como se fosse sua própria filha.

— Feliz aniversário, minhas duas deusinhas! — exclamou.

Congelei.

Meus olhos foram para a parede.

Lá estavam, em letras brilhantes: "Feliz Aniversário, Dora & Maria."

Os aniversários delas eram no mesmo maldito dia.

Senti tontura.

Guardei o pequeno presente que tinha trazido para Dora de volta na bolsa.

De jeito nenhum eu daria a ela agora.

Não quando ela mal me olhava.

Todos sorriam como se aquele fosse o dia mais feliz do ano.

Fiquei no canto, agarrada à bolsa como se ela pudesse me manter firme.

Luca me lançava olhares de desculpa.

Mas isso não ajudava.

Na hora do jantar, ele veio e pegou minha mão.

— Vem. — Disse suavemente. — Senta com a gente.

Os olhos de Maria me seguiram até a mesa.

Ela não disse nada, mas sua expressão dizia tudo.

Durante o jantar, ela se inclinou para Dora e disse com doçura:

— Olha só quem veio comemorar com você; sua mãe!

Dora nem olhou para mim. Apenas manteve os olhos em Maria.

— Fala alguma coisa para sua mãe, Dora. — Luca insistiu, claramente irritado.

Dora virou-se lentamente para mim. Sua vozinha tremeu:

— Mãe… por favor, não machuca a Maria.

Pisquei. O quê?

Eu não acreditava no que acabara de ouvir.

— Por que você diria isso?

Luca interveio, voz calma:

— Dora, sua mãe não vai machucar ninguém. Ela está aqui por você, tá bem?

Virei-me para Dora.

— Foi você quem pediu pra me ver, meu amor? Foi você quem realmente quis que eu viesse?

Fiona se apressou.

— Não precisamos falar disso agora. É uma festa. Vamos brindar!

Depois do jantar, Fiona me puxou de lado.

Ela me entregou uma caixinha; dentro, um colar, igual ao que dera a Maria.

Mas não colocou em mim.

Apenas sorriu e disse:

— Catrina… eu sei que não tem sido fácil pra você. Fazer parte desta família… não é para todos. Mas obrigada. Por trazer Dora para nossas vidas.

E então saiu andando como se nada tivesse acontecido.

Como se não tivesse passado anos dificultando minha vida.

Mais tarde, Maria e sua mãe saíram. Finalmente, Dora ficou sozinha comigo.

Sentei-me ao lado dela no sofá. Ela ficou tensa, mas não como antes. Pelo menos não se afastou.

— Feliz aniversário, Dora. — Sussurrei.

Ela virou-se para me olhar, e só isso quase fez meu coração derreter.

Levei a mão ao bolso, buscando o pequeno presente que vinha carregando só para ela… mas então ela falou.

Sua voz era fria. Fria demais para uma criança de seis anos.

— Você escondeu a Maria de mim?

Congelei.

— O quê? Não, claro que não...

— Você está me incomodando. — Cortou ela. — Estou assistindo TV.

Aquilo doeu mais do que imaginei.

Eu tinha dado tudo para trazê-la ao mundo, quase morri por isso.

E agora ela dizia que eu era um incômodo?

Naquele instante percebi que não era o momento de consertar nada. Talvez um dia eu conseguisse desfazer as mentiras que contaram a ela. Mas não hoje.

Olhei para seu rostinho de perfil, ainda grudado na tela, e disse baixinho:

— Tudo bem, Dora. Até a próxima. Talvez da próxima vez você lembre quem é sua mãe de verdade.

Ela nem piscou.

Escorreguei o presente atrás da almofada do sofá — não queria levar comigo, mas também não suportava guardá-lo — e fui direto para a porta.

Dessa vez, nada ia me impedir.

Eu já tinha resolvido tudo. Documentos, passagens, o carro já me esperava.

Se Maria era realmente quem todos queriam…

Então que ficassem com ela.

Eu desapareceria do mundo deles.

Eu estava farta dos Moretti.
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